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Na Cúpula do Clima, jovens apresentam soluções para as mudanças climáticas

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Danilo Urzedo

Danilo Ignacio Urzedo, pesquisador e colaborador da Rede de Sementes do Xingu traz suas percepções sobre os principais pontos e resultados dos debates climáticos em Nova York

A Semana do Clima, que aconteceu em Nova York, entre os dias 20 e 25 de setembro de 2019, reuniu representantes da sociedade civil, membros de comunidades, governos e empresas para discutir soluções para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

A largada foi dada na sexta-feira, dia 20 de setembro, com a Greve Global pelo Clima, organizado por estudantes. Milhões de pessoas no mundo protestaram por soluções que consigam deter o aumento de 1,5º C da temperatura terrestre até 2030. Foi um evento de expressão mundial marcado pela participação da juventude debatendo e mostrando como é possível ter uma organização social de jovens ativa nos processos políticos. Só em Nova York 250 mil pessoas foram às ruas, mostrando uma força propositiva de que há meios políticos para transformar a forma com que lidamos com as mudanças climáticas.



Logo após as manifestações mundiais ocorreu a primeira Cúpula do Clima para juventude, organizada pelas Nações Unidas que contou com 500 jovens de todo mundo. Greta Thunberg, a jovem líder do movimento “Greve nas escolas pelo Clima” fez a abertura do evento. A cúpula trouxe clara evidências de jovens engajados em diversas iniciativas como tecnologias, robótica, empreendedorismo, soluções baseadas na natureza entre outras. A juventude deixou clara as suas capacidades para propor, agir e transformar realidades locais nos mais diversos contextos do mundo para solucionar a crise climática. Mas o problema é que os jovens têm pouca visibilidade e participação nas políticas formais.

Além de Greta, Paloma Costa Oliveira, 27, do Engajamundo e assessora do Instituto Socioambiental, que participa da organização dos jovens pela mobilização climática no Brasil, também fez uma fala poderosa de abertura da Cúpula. Com isso criamos uma expectativa que as negociações avançassem, porque a ideia desse evento é que os países apresentassem o que estavam fazendo para atingir as metas estabelecidas para 2030 antes da COP 25 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019) que será realizado no mês de dezembro, no Chile. Ou seja, era para ser uma cúpula onde fossem demonstradas a capacidade de agir com inovação e construção de estratégias. Mas infelizmente não teve adesão dos países que mais emitem carbono, como o Brasil e o Estado Unidos.

Embora o avanço nas políticas climáticas globais foi pouco articulado, a série de eventos demonstra de forma simbólica a força da participação dos jovens, como as falas de Greta e da Paloma. Esses jovens mostraram como sabem se organizar, propor e realizar ações concretas com o que fazem, mas ainda existe um lapso no sentido de incorporar a equidade geracional nos processos políticos nacionais e internacionais.

A importância das soluções baseadas na natureza



Entre as grandes ações que foram lançadas e reconhecidas ao longo dessas atividades, as soluções baseadas na natureza ganharam grande visibilidade. A estratégia trata de promover as soluções para a redução de desmatamento, a proteção dos recursos naturais e restauração de ecossistemas. A grande questão nos debates e investimentos sobre as soluções climáticas é que eles focam centralmente em energias renováveis e tecnologias. A importância do uso da natureza é deixada de lado, e corresponde a menos de 3% dos investimentos dos fundos globais. A estratégia foi destaque em um evento de coalizão liderado pela Nova Zelândia e China que apresentou diversas organizações da sociedade civil, comunidades e empresas e governos para debater a importância do tema. A formação dessa coalizão trouxe essa importância ao levantar três pilares: proteger, restaurar e investir. Pode ser visto mais no vídeo: https://youtu.be/-Q0xUXo2zEY

Outra importante questão é que as soluções baseadas na natureza podem representar um terço das soluções que precisamos para a mitigação dos efeitos da mudança climática. Então a coalizão quer trazer visibilidade, atrair investimentos e construir estratégias ambiciosas. Eu faço parte da delegação “Youth4Nature” que trabalha para essa visibilidade e tem como estratégia chave a inclusão de jovens que reconheçam o papel das comunidades, dos povos indígenas nessa estratégia.

Além dos espaços oficiais do governo, também aconteceram vários outros diálogos. No Nature Hub, várias iniciativas que atuam com soluções baseadas na natureza se reuniram e apresentaram iniciativas e programas que trabalham com a restauração e conservação ambiental no mundo. Nesse espaço, foram expostos os materiais da Rede de Sementes do Xingu com destaque para o Movimento das Mulheres Yarang, o trabalho dos jovens nos assentamentos rurais, a importância dos povos tradicionais e da agricultura familiar na Amazônia, que estão gerando novos modelos de produção e uso dos recursos naturais. Dessa forma, o mundo pode ver e reconhecer o valor dessas culturas na conservação da biodiversidade.

Brasil na Assembleia Geral da ONU



A Cúpula do Clima antecedeu a Assembleia Geral da ONU em que o Brasil tem esse espaço de grande representação com a fala de abertura. No entanto, a fala realizada pelo presidente Jair Bolsonaro, infelizmente, trouxe uma visão de polarização. O discurso retrata vários aspectos muito delicados da situação política, econômica e ambiental do Brasil sem a capacidade de construir um diálogo nem negociações. O presidente brasileiro deixou uma mensagem de ataque aos povos indígenas e uma abordagem incoerente em relação aos problemas de desmatamento e incêndios nas Amazônia. Sem dados científicos e uma clara proposta de ação, Bolsonaro apresentou uma visão distorcida da realidade, sem da fundamentação, baseada unicamente em teorias da conspiração sobre supostos interesses por trás dodesmatamento e degradação da Amazônia, o que é absolutamente preocupante.

Nesses espaços de negociações globais, perdemos a possibilidade de construirmos a articulação de políticas internacionais para a conservação da Amazônia com uso econômico que esteja pautado em um modelo sustentável. Ficamos sem resultados efetivos em um momento de situação crítica nas questões ambientais do país, comprometendo direitos humanos, direitos indígenas e as nossas florestas e futuro da vida no planeta.

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