Líder yanomami fala no final da Flip das ameaças que tem sofrido
segunda-feira, 04 de Agosto de 2014O líder yanomami Davi Kopenawa deu um depoimento emocionante no encerramento da 12ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro, na tarde de domingo (3/8), quando falou das ameaças de morte que vem sofrendo e das invasões à Terra Indígena Yanomami (RR/AM). Kopenawa pediu ajuda para defender as terras indígenas e a floresta e foi bastante aplaudido.
A festa literária concedeu um espaço inédito ao tema indígena, com mesas de debate entre antropólogos, jornalistas, fotógrafos e o próprio Kopenawa, além do momento especial com a sua fala no fim do evento. Os antropólogos Beto Ricardo e Eduardo Viveiros de Castro, ambos sócios do ISA, participaram de um dos debates.
“Estou muito preocupado, junto com meu povo yanomami. Os fazendeiros e os garimpeiros têm muito dinheiro para matar um índio. Não quero repetir o que aconteceu há 40 anos passados: estou lembrando do meu amigo Chico Mendes. O meu amigo já morreu. Os fazendeiros já mataram ele, que defendia a floresta, o direito do povo dele”, disse Kopenawa.
Ele lembrou que, mesmo já reconhecida e demarcada, a TI Yanomami continua sendo invadida por garimpeiros, o que é ilegal. O líder indígena pediu à plateia da Flip e à imprensa que se manifestem em defesa dos índios brasileiros e divulguem seus problemas.
“A Floresta Amazônica nos pertence. Elas nos protege de muito calor. Ela é fundamental para todos nós, para nossos filhos viverem em paz”, finalizou.
Na semana passada, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) divulgou carta em que denuncia ameaças sofridas por Davi, exige uma investigação e proteção oficial ao líder indígena. A suspeita é de que as ameaças sejam um represália ao trabalho realizado pelos Yanomami, em conjunto com órgãos do governo, para investigar e desmontar as redes de garimpo implantadas na TI Yanomami nos últimos anos (saiba mais).
Davi já recebeu diversos prêmios por sua defesa da floresta e dos direitos indígenas. Em 1989 recebeu o Premio Global 500 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Nova York, Em 1999 foi condecorado o pelo presidente Fernando Henrique com a Ordem do Rio Branco ao grau de Cavaleiro em Brasília. Em 2009, foi homenageado pelo comitê Bartolomeu de Las Casas, em Madrid, e pelo Ministério da Cultura do Brasil com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural ao grau de Cavaleiro. Em 2013, recebeu da Câmara Municipal de Boa Vista o título de Honra ao Mérito Rio Branco.