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Com tinta e alegria, juventude indígena revitaliza área abandonada em São Gabriel da Cachoeira (AM)

quarta-feira, 14 de Março de 2018
Blog do Rio Negro
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Programa: 
Rio Negro
Juliana Radler

Por 10 dias, jovens e voluntários de todas as idades se uniram ao grafiteiro Raiz para transformar o espaço público da cidade no Alto Rio Negro

Com muita música, dança, teatro e pintura, jovens e voluntários de todas as idades se uniram em um mutirão artístico entre os dias 28 de fevereiro e 09 de março. Com o grafiteiro manauara Raí Campos, o Raiz, jovens da cidade mais indígena do Brasil revitalizaram uma passagem entre a praia e a praça do Rodoviário em São Gabriel da Cachoeira, onde vinham ocorrendo episódios de violência. O que antes era assustador e maltratado foi substituído por pinturas retratando a vasta cultura dos 23 povos indígenas do Alto rio Negro.



“O desafio não era só o de pintar muros e, sim, o de renovar o local e mudar sua energia. De trazer nova vida a um espaço público que o próprio público estava com medo de passar”, ressalta o artista. Engajado nas causas socioambientais, Raiz aceitou o convite para ser voluntário da Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, que realizou a mobilização, junto com a Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e o Instituto Socioambiental (ISA). A Rede é formada por um grupo de 17 indígenas de oito etnias diferentes, que produzem notícias e estão buscando maior participação da juventude e das mulheres nos espaços de decisão, assim como ocupar locais do município onde moram.

“Raiz deixou um presente para São Gabriel da Cachoeira, agora precisamos cuidar e animar esse lugar, que poderá ser cenário para oficinas, eventos e encontros”, comenta Claudia Ferraz Wanano, locutora do boletim de áudio Wayuri, realizado pela Rede de Comunicadores mensalmente. O desafio agora é manter o local e conseguir mais parcerias. “Vamos em busca de iluminação, bancos e lixeiras públicas para o lugar. Vamos cobrar da gestão municipal que cuide do espaço”, afirma.

O local foi batizado como Caminho de Adana pois, logo em frente à escadaria, está localizada a grandiosa ilha de Adana, no rio Negro. Conta-se que Adana era uma linda moça indígena disputada por dois pretendentes, representados por cada braço de rio que se forma entre a ilha. Para Lucas Matos Tariano, do Departamento de Jovens da Foirn, a cultura e a arte são meios importantes de comunicar, sensibilizar e tocar as camadas mais sensíveis das pessoas, muitas vezes distantes do bem comum por falta de tempo e oportunidade.



“Nesse evento vimos que conseguimos reunir todo tipo de gente e essa união foi a parte mais legal dessa transformação”, completa o jovem.

A mobilização contou também com o apoio do ICMBio, do Exército brasileiro e da produtora Usina da Imaginação, que gentilmente realizou imagens com drone do local revitalizado. Para escutar os boletins informativos realizados pela Rede de Comunicadores Indígenas do rio Negro, basta acessar aqui.

Desafio de ser mais sustentável

São Gabriel da Cachoeira, assim como outras cidades do Brasil, sofre com o crescimento desordenado. A expansão da área urbana está aumentando e beirando as fronteiras com as terras indígenas demarcadas que rodeiam a cidade. Com isso vários problemas se intensificam, como a alta incidência de doenças como malária e a crescente violência urbana. Considerado o município com a maior extensão de áreas protegidas da União, São Gabriel não tem saneamento básico, tem pouca iluminação pública e raros espaços de lazer para crianças e jovens.



Com aproximadamente 45 mil habitantes - cerca de 25 mil na área urbana - a cidade sofre com constantes cortes de água, de energia (que é gerada por uma termelétrica que consome 23 mil litros de diesel por dia) e má gestão do lixo, que é descartado em vários terrenos da cidade e no lixão municipal, situado no bairro da Boa Esperança. Vale lembrar que São Gabriel da Cachoeira construiu de forma participativa e aprovou na Câmara de Vereadores, em 2006, um Plano Diretor, mas até hoje não foi implementado.

Assista ao vídeo:

Especial São Gabriel planeja seu futuro – série de seis reportagens

Primeira reportagem

Segunda reportagem

Terceira reportagem

Quarta reportagem

Quinta reportagem

Sexta reportagem

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Imagens: 
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    Muro colaborativo com o nome da cidade abriu os trabalhos do mutirão artístico| Juliana Radler-ISA

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    Galeria Dance também animou o público que prestigiou o novo Caminho de Adana | Juliana Radler-ISA

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    Caminho de Adana, em homenagem a ilha que fica em frente ao local, no rio Negro | Juliana Radler-ISA

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    Detalhe do muro com pintura representando o poder de cura dos povos indígenas do rio Negro| Juliana Radler-ISA

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    Jovem Gedilson Silva, estudante de São Gabriel da Cachoeira, talento revelado e já batizado no grafite como “Gedai”| Juliana Radler-ISA

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    Painel em homenagem ao Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro e sua principal força de trabalho e sabedoria: a mulher indígena agricultora| Juliana Radler-ISA

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    Artista do grafite, Raiz aceitou convite para revitalizar área degrada em São Gabriel da Cachoeira (AM) | Juliana Radler-ISA

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    Grupo de teatro formado por jovens de São Gabriel da Cachoeira, Sociedade da Alegria, esteve presente à inauguração do espaço | Juliana Radler-ISA

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    Grafite de artesão com seu banco Tukano| Juliana Radler-ISA

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    A transformação do local, antes pixado e com matagal| Juliana Radler-ISA

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    Antes e depois da revitalização com as pinturas feitas por Raiz e jovens indígenas e voluntários| Juliana Radler-ISA

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    Panorâmica do Caminho de Adana, em São Gabriel da Cachoeira (AM), com as pinturas de Raiz Campos e voluntários| Juliana Radler-ISA

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    Importantes representações da cultura tradicional dos 23 povos indígenas do rio Negro foram pintadas por Raiz| Juliana Radler-ISA

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    Texto de registro da mobilização chama atenção de quem passa para a importância da arte e do cuidado com o bem comum | Juliana Radler/ISA

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    Banda Kuximarock levou música ao espaço, fazendo a união do rock com os ritmos locais| Juliana Radler-ISA

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    Kumu Teodoro Rodrigues Barbosa, Makuna, fez benzimento do local para afastar doenças e outras más energias | Juliana Radler-ISA

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    Raiz Campos e o mestre da pintura rionegrina, Feliciano Lana, da etnia Desana, após conversa no ISA sobre os grafismos dos povos indígenas da região | Juliana Radler-ISA

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    Raiz pintando as tradicionais pimentas da culinária rionegrina| Juliana Radler-ISA

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    Artista Raiz e o coordenador de comunicação da Foirn, Ray Baniwa, estudam o plano diretor da cidade de São Gabriel da Cachoeira| Juliana Radler-ISA

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    Voluntários se uniram nos 10 dias de transformação do local| Moisés Baniwa


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