Maurício Ye’kwana leva à ONU apelo urgente pela desintrusão da Terra Indígena Yanomami
sexta-feira, 25 de Setembro de 2020Maurício Ye’kwana, diretor da Hutukara Associação Yanomami e porta-voz da Campanha #ForaGarimpoForaCovid, falou nesta sexta-feira (25/09) na 45ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH). No pronunciamento, gravado previamente em espanhol, Maurício denunciou a invasão da Terra Indígena Yanomami por garimpeiros, principais vetores de contaminação da Covid-19 e de outras doenças — como a malária —, e alertou para a devastação e contaminação do meio ambiente pela atividade ilegal.
“Nosso território está sendo invadido por mais de 20 mil garimpeiros ilegais em busca de ouro, que levam doenças como a malária, bebidas alcoólicas, drogas e violência para as comunidades e poluem os nossos rios com mercúrio”, diz o líder Ye’kwana no vídeo.
Maurício também abordou em seu pronunciamento o descaso do governo Bolsonaro com as populações indígenas da Amazônia, severamente afetadas pelo novo coronavírus e por velhas ameaças, como o desmatamento e as queimadas.
Em razão da pandemia, a sessão da CDH, cuja agenda oficial vai de 14 de setembro a 06 de outubro, acontece pela primeira vez em formato misto, com participações online. O órgão intergovernamental é composto por 47 Estados-membros eleitos pela Assembleia Geral da ONU. A sociedade civil é convidada a se manifestar durante as sessões. Nelas, são expostas e discutidas violações de direitos humanos ao redor do mundo. A denúncia do líder indígena foi assistida por representantes diplomáticos de vários países.
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Durante seu pronunciamento, Maurício destacou ainda que lideranças indígenas vêm cobrando do governo brasileiro a retirada urgente dos invasores, sem sucesso. “O governo expressa falas que estimulam a exploração ilegal de ouro nas Terras Indígenas da Amazônia e que intensificam as ameaças contra nós. Continuamos a ver a floresta sendo destruída. Por isso eu venho, mais uma vez, denunciar o descaso do governo brasileiro”, enfatiza.
A Hutukara Associação Yanomami foi convidada para participar da sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU pela organização não governamental Conectas Direitos Humanos. Não é a primeira vez que uma liderança da Terra Indígena Yanomami discursa na Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Em março, em Genebra, na Suiça, o xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa denunciou à comunidade internacional o risco de genocídio de povos isolados no Brasil. Ele apresentou um estudo do Instituto Socioambiental (ISA) que indicava uma explosão do desmatamento em territórios com presença dessas populações.
Leia o pronunciamento de Maurício Ye’kwana:
Senhora Presidenta,
Meu nome é Mauricio Ye’kwana, sou diretor da Hutukara Associação Yanomami e estou aqui representando o Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami.
Nosso território está sendo invadido por mais de 20 mil garimpeiros que levam doenças como a malária, bebidas alcoólicas, drogas e violência para as comunidades e poluem os nossos rios com mercúrio.
Em 2020, dois Yanomami foram assassinados por garimpeiros. Ainda, em meio à pandemia, eles também têm levado a Covid-19, contaminando as comunidades que vivem próximas ao garimpo.
Nós, lideranças, temos cobrado do Governo Brasileiro que cumpra com sua obrigação para a retirada dos garimpeiros ilegais, mas não há uma resposta adequada para esse problema.
Pelo contrário, o Governo expressa falas que estimulam a exploração ilegal de ouro nas terras indígenas da Amazônia e que intensificam as ameaças contra nós.
Continuamos a ver a floresta sendo destruída. Por isso, eu venho mais uma vez denunciar o descaso do Governo Brasileiro com os povos indígenas e com a nossa terra mãe. E pedimos ajuda da comunidade internacional para que os nossos direitos sejam respeitados.
Obrigado por escutarem minhas palavras.