Encontro da Rede de Sementes do Xingu funda associação
Monday, 15 de July de 2013A Rede de Sementes do Xingu realizou seu 10º encontro em Porto Alegre do Norte, nos dias 28, 29 e 30 de junho. Noventa pessoas, entre coletores indígenas, agricultores familiares e urbanos, e convidados, debateram os rumos da Rede, fizeram um balanço de 2012, da lista de encomendas de 2013, das alternativas de institucionalização e da adequação à Instrução Normativa sobre Sementes Florestais (IN 56).
Os participantes também trocaram experiências sobre manejo de sementes, aprenderam técnicas para aperfeiçoamento do trabalho de coleta, refletiram sobre a legislação e os preços das espécies comercializadas na rede e planejamento da coleta.
Depois de mais de dois anos de estudos sobre os arranjos institucionais mais adequados à rede - entre eles a opção pelo consórcio de microempreendedores individuais para a comercialização de sementes, ainda não confirmado pela junta comercial de Mato Grosso -, os participantes reunidos em assembleia decidiram fundar a Associação da Rede de Sementes do Xingu para dar continuidade aos trabalhos. Além disso, decidiram continuar a lutar na Justiça para implantar o consórcio de microempreendedores.
"Com a institucionalização, a iniciativa se coloca em avançado grau de maturidade para garantir sua representatividade no cenário regional e estadual e buscar sua sustentabilidade financeira e organizacional", avalia Rodrigo Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu.
A diretoria da associação escolhida pela assembleia está assim composta: Bruna Dayanna Ferreira, elo financeiro da rede, Cláudia Araújo, agente da Comissão Pastoral da Terra e elo da rede, Acrísio Luís dos Reis, coletor, elo e agricultor do Projeto de Assentamento (PA) Manah, de Canabrava do Norte. O grupo também decidiu que vai continuar com a luta na justiça para implantar o consórcio de microempreendedores.
Os coletores discutiram o aproveitamento do Fundo Rotativo para a estruturação dos grupos e também propuseram mudanças nos prazos de pagamento, limites de crédito e critérios de concessão. Lançado em 2010 para fortalecer o trabalho dos coletores e gerido inicialmente pelo ISA, desde 2012 está com a Organização Eco-social do Araguaia (Oeca), especializada em concessão de microcrédito. Em 2013, a Oeca disponibilizou R$ 30 mil em crédito aos coletores interessados em investir em insumo básico para coleta, transporte e beneficiamento de sementes. Trinta projetos foram encaminhados, no total de R$ 29,5 mil, mas apenas nove foram aprovados, no valor de R$ 10.377,00.
Contribuições e troca de experiências
Os convidados Luis Carrazza, coordenador da Central do Cerrado, (Brasília, DF), e Arthur Dalton Lima, colaborador da Cooperafloresta, (Barra do Turvo, SP), compartilharam suas experiências de comercialização de produtos da socioagrobiodiversidade. Ambos discutiram as vantagens que o trabalho comunitário traz para superar as dificuldades burocráticas e de acesso aos mercados, principalmente. As falas trouxeram ânimo extra aos coletores, já que a Rede vive esse debate no momento.
Solon Izidoro, representante da empresa Globo Rural Sementes, de Goiânia, falou sobre o mercado de espécies usadas para adubação verde, contribuindo para a reflexão dos possíveis mercados que a Rede de Sementes do Xingu pode almejar. Sobre o acesso a mercados, João Daldegan Sobrinho, da Coordenação Geral de Desenvolvimento de Assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) também trouxe informações de prováveis mercados dos quais a Rede poderá participar. Trata-se do Programa de Aquisição de Sementes e Mudas Florestais (Pasem), proposta do Incra para que os assentamentos da reforma agrária sejam reflorestados com sementes adquiridas dos próprios assentados e pagas pelo governo.
Sobrinho explicou que este programa pretende funcionar de forma similar a outros programas do governo, isto é, com preço mínimo estipulado, assim como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
A pesquisadora dra. Fátima Piña-Rodrigues, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenou uma oficina de identificação, seleção e mapeamento de matrizes para aperfeiçoar o planejamento dos coletores e as técnicas de coleta. Durante a oficina, os coletores perceberam a importância de mapear suas áreas de coleta com coordenadas geográficas ou referências marcantes, de identificar e marcar as matrizes para aperfeiçoar o trabalho e garantir a identidade, qualidade, variabilidade e viabilidade das sementes.
Com a ajuda de Ernani do Espírito Santo, consultor da Articulação Xingu Araguaia (AXA), o grupo calculou o custo de produção de algumas espécies. Dona Odete, coletora do PA Macife, de Bom Jesus do Araguaia (MT), compartilhou as dificuldades em beneficiar o tamarindo, que teve seu preço alterado depois de a coletora apresentar os dados que subsidiam a formação dos preços.
Próximos passos
No último dia, os coletores revisaram e repactuaram os critérios de funcionamento da Rede e os requisitos para se tornar um coletor e integrar a associação, além de definir a agenda de trabalho do segundo semestre. Por fim, o grupo de coletores Muvuca , localizado em Diamantino (MT), relatou as dificuldades logísticas na produção, principalmente no transporte, já que eles estão a 655 km da Casa de Sementes mais próxima (Canarana). Com isso, o Instituto Bacuri, de São Paulo, ofereceu o apoio necessário para construir uma Casa de Sementes no Projeto de Assentamento Peraputanga, em Diamantino, que vai beneficiar 21 coletores. “Essa era a notícia que nós gostaríamos de ouvir”, disse Rosinete, uma das coletoras do grupo.
Durante o encontro, a noite cultural contou com a apresentação de danças e músicas tradicionais dos grupos indígenas Kawaiwete, Waurá, Yudja, Kisêdjê e Xavante. Houve ainda apresentação de MPB, com participação especial de coletores e técnicos. Também foi lançada a terceira edição do livro Plante as Árvores do Xingu e Araguaia, organizada pelo ISA. A publicação ajudará os coletores a identificar e conhecer melhor as árvores das regiões do Araguaia e do Xingu. Kits de coleta foram entregues aos coletores e grupos que mais se destacaram em 2012. Além dessas atividades, uma feira de troca de sementes, artesanato e alimentos animou os participantes da Rede.
(Com a colaboração de Rizza Matos)