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Hutukara e ISA organizam intercâmbio para formação de xamã Yanomami

Tuesday, 18 de November de 2014
Blog do Rio Negro
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Estevão Benfica Senra

Jovem aprendiz viaja do Ajarani para a aldeia Watorikɨ, na Terra Indígena Yanomami, para dar continuidade à sua formação com cinco experientes xamãs


Em 8 de novembro, Márcio Yawari, jovem aprendiz de xamã da região do Ajarani (RR), viajou para a comunidade do Watorikɨ, na companhia do líder Davi Kopenawa, onde deverá permanecer por pelo menos quinze dias, para continuar sua formação. Márcio foi recebido por cinco experientes e respeitados xamãs yanomami que deverão acompanhar e orientá-lo durante o árduo processo de iniciação ao xamanismo.

Sob a condução dos mais antigos e inalando por vários dias o pó alucinógeno yãkõana (resina ou fragmentos da casca interna da árvore Virola sp. secados e pulverizados) é que os jovens xamãs aprendem a ver os espíritos xapiripë e a "responder" a seus cantos. Uma vez iniciados, os xamãs yanomami aprendem a chamar para si os xapiripë, para que estes atuem como espíritos auxiliares.

Esse poder de conhecimento e de comunicação com o mundo das “essências vitais” (utupë) faz dos xamãs os pilares da sociedade yanomami. Escudo contra os poderes maléficos oriundos dos humanos e dos nãohumanos que ameaçam a vida dos membros de suas comunidades, eles são também incansáveis negociadores e guerreiros do invisível, dedicados a domar as entidades e as forças que movem a ordem cosmológica.

Este intercâmbio faz parte de um conjunto de iniciativas protagonizadas pela Hutukara, com o apoio do ISA, para fortalecer a tradição xamânica yanomami por meio de Encontros de Xamãs e de Pesquisas Interculturais sobre o tema. Dois filmes, um livro e um CD de cantos foram produzidos inspirados nesses trabalhos.


Foi no Encontro de Xamãs de 2013, ocorrido na comunidade Serrinha, na região do Ajarani, que Márcio demonstrou o desejo de se tornar xamã. Até então no Ajarani, devido a um dramático processo de desestruturação social que se deu com a abertura da Rodovia Perimetral Norte (BR-210) e o contato com a sociedade nacional, diversas práticas e tradições da cultura yanomami estavam enfraquecidas, e o xamanismo na região estava em vias de desaparecer. Veja o mapa ao lado.

A oportunidade proporcionada pelo encontro marcou então a vida das comunidades da região, sobretudo, das novas gerações. A formação de Márcio, portanto, mais do que um momento importante na trajetória de um jovem xamã, representa a possibilidade de restabelecer o vínculo das novas gerações yanomami com toda a riqueza intelectual e poética que o xamanismo envolve.

Imagens: 
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    Marcio Yawari, aprendiz de xamã, na aldeia Watoriki|Estevão Benfica Senra-ISA

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    No encontro de xamãs do Ajarani, Márcio recebeu o primeiro sopro de yãkõana|Estevão Benfica Senra

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