ISA - Instituto Socioambiental
Published on ISA - Instituto Socioambiental (https://site-antigo.socioambiental.org)

Home > Liminar determina que quilombo de Bombas, no Vale do Ribeira, tenha estrada de acesso

Liminar determina que quilombo de Bombas, no Vale do Ribeira, tenha estrada de acesso

Thursday, 30 de July de 2015
Direto do ISA
Quilombolas
Tweet
Esta notícia está associada ao Programa: 
Vale do Ribeira
Quilombo de Bombas
Vale do Ribeira (SP)

A decisão é resultado de uma Ação Civil Pública de março de 2014, da unidade da Defensoria Pública na cidade de Registro. No dia 18 de julho último, o juiz João Luiz Calabrese, da Vara Única de Eldorado Paulista, o Defensor Público Andrew Toshio e o Procurador do Estado Rodrigo Lerkovicz, fizeram uma inspeção judicial no local, percorrendo a única trilha existente a pé – por onde não trafegam veículos - durante quatro horas, até chegar à comunidade. E constataram a vergonhosa situação em que se encontra a comunidade, com dificuldades de locomoção, sem atendimento à saúde e educação, sem luz elétrica, telefone e esgotamento sanitário.

“Por qualquer prisma que se analise a situação, é patente que a omissão do estado constitui uma afronta aos direitos fundamentais da pessoa humana. (...) Na presente situação, não há como a comunidade (já devidamente reconhecida como remanescente de quilombo) se desenvolver, estando fadada a uma inaceitável e vergonhosa miséria”, afirma o juiz em seu relatório.

Entre outros itens, a decisão determina que a Procuradoria do Estado de SP apresente em 15 dias as medidas que irá tomar para prover o acesso da comunidade à Iporanga e de que forma a medida será implementada. O Defensor Público Andrew Toshio Hayama, responsável pela Ação Civil Pública, avalia que a comunidade vive uma situação de isolamento. “Isolamento, hoje, não significa, como outrora, refúgio e proteção para os quilombolas, mas abandono e invisibilidade”, disse ao portal da Defensoria Pública.
Leia a notícia publicada pela Defensoria Pública do Estado de S. Paulo na íntegra.

História
A área do quilombo de Bombas começou a ser ocupada em meados do século XIX por escravos fugidos. Sobre uma parte dessa área, foi criado, em 1958, o Parque Estadual Turístico Alto Ribeira (Petar). Em 1983, o governo delimitou o parque com picadas, estabelecendo as normas legais de ocupação próprias de uma unidade de conservação. Os limites do parque se sobrepuseram então às áreas utilizadas pela comunidade que a partir daí começou a ter dificuldade para realizar suas atividades agrícolas tradicionais conhecidas como roça de coivara, tiveram suas áreas de criação de animais restringidas e foram proibidos de realizar qualquer atividade extrativista. Veja a localização no mapa abaixo.

Por estar sobreposta a uma Unidade de Conservação sequer uma estrada a comunidade poderia ter. A partir dos anos 2000, a comunidade iniciou uma batalha junto ao governo paulista pelo reconhecimento de seu território e para ter acesso a serviços básicos e o direito a sobreviver com dignidade. Veja abaixo a cronologia dessa luta.

Cronologia do processo de reconhecimento do Quilombo de Bombas

2002

- Associação dos Remanescentes do quilombo de Bombas, solicita ao Itesp seu reconhecimento como quilombo. (processo administrativo da Fundação Instituto da Terra do Estado de São Paulo (Itesp) nº 1186/2002). Mas por falta de estudos ambientais por parte da Fundação Florestal do Estado de São Paulo, o processo fica parado.

2010

– Oito anos depois, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente
(Sema) exige estudos técnicos sobre o meio físico, biótico, situação fundiária e sustentabilidade ambiental previsto na Resolução SMA nº 29/2010, para solucionar a incidência do Parque Estadual do Alto Ribeira (Petar) sobre o território quilombola. Em setembro, a Fundação Florestal (FF) assume a responsabilidade de apresentar um plano de trabalho e em dezembro são firmados o Protocolo de Intenção e o Plano de Trabalho entre a associação, a FF e o Itesp. Uma equipe da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) é contratada pela FF/Sema para fazer os estudos.

2011

- Cinco viagens a Bombas são combinadas iniciando em final de março. O tempo previsto da pesquisa era de seis meses, mas os pesquisadores pediram mais tempo para finalizar os estudos.

2012

Março - Pesquisa é finalizada e relatório final entregue à Fundação Florestal
Junho - A FF apresenta a Proposta de Limite Territorial e andamento no processo de reconhecimento da Comunidade Quilombola de Bombas. A associação não aceita, pois a proposta reduz o território da comunidade, excluindo a área conhecida como Sistema Areias. A comunidade envia documento à FF explicando suas razões para manter o Córrego Grande, nome pelo qual a região é chamada pelos quilombolas. E comprometia-se a fazer plano de uso futuro dessa área, para manter conservada suas condições ambientais conforme sempre fizeram.
Julho - A associação apresenta contra proposta e nova data para prosseguir a negociação: 30 de julho. Na reunião, a diretoria da FF afirma que reconhecerá o território inteiro, cujos limites constam do laudo antropológico do Itesp, em duas etapas e com algumas condições. A primeira etapa seria a FF manifestar-se favorável ao reconhecimento da comunidade quilombola. A segunda etapa seria a alteração dos limites do Petar para desafetá-lo do território quilombola, sob algumas condições.
A comunidade aceita a proposta e as condições apresentadas. Itesp e FF sugerem envolver as secretarias de Justiça e do Meio Ambiente, para encaminhar o processo para o Grupo Gestor de Quilombos, visando o reconhecimento administrativo de Bombas. A FF se compromete a prosseguir com o processo visando a mudança nos limites do Petar.
Agosto – A FF inicia processo de restruturação e demite parte dos seus funcionários. Entre os demitidos estão os diretores que conduziram o processo de negociação e o acordo com a comunidade e com o Itesp. O processo para novamente.

2013

Janeiro - A comunidade encaminha carta ao governador de São
Paulo com cópia para os secretários de Meio Ambiente e da Justiça solicitando esclarecimentos sobre o andamento do processo de reconhecimento após o acordo firmado entre as partes em julho/2012.
Fevereiro - FF e Itesp realizam reunião com a comunidade no final do mês e informam que a atual gestão não poderia assumir os compromissos assumidos diretoria anterior. Relatam que os estudos realizados eram incompletos e após reuniões com pesquisadores, a FF propõe uma redução do território Bombas, excluindo a área conhecida como Córrego Grande ou Sistema Areias.
Março - A comunidade de Bombas se reúne e decide aceitar a proposta de território formulada pela Fundação Florestal. Encaminha carta aos diretores da FF e Itesp aceitando a proposta e propondo um Termo de Ajustamento de
Conduta que incluísse a ida a campo para demarcar os pontos da nova divisa; a emissão de parecer favorável ao processo de reconhecimento do território por parte da Fundação Florestal; o compromisso do governo do Estado em viabilizar acesso para a comunidade; autorização para a instalação de postes de energia elétrica no território e a inclusão da desafetação do território quilombola no Projeto de Lei de criação do Mosaico de Paranapiacaba.
Abril – Em carta endereçada à comunidade, Itesp e Fundação Florestal informam os próximos passos e que irão a campo junto com a comunidade para delimitar o novo território.
Junho - Direção do Petar visita a comunidade para definir os limites do território e desenhar o novo mapa do território. Depois disso, segundo o coordenador da associação, Edmilson Furquim de Andrade a comunidade não teve mais resposta e a área do Córrego Grande começou a ser invadida por palmiteiros e caçadores porque espalhou-se na região a notícia de que a área não seria mais do quilombo.

2014

Março – Defensoria Pública do Estado entra com ação judicial pedindo reconhecimento imediato do território, desafetação do parque, acesso e outras melhorias;
Agosto – Procuradoria Geral do Estado promove reunião com comunidade, Itesp, FF, Defensoria, ISA, Eaacone para propor um acordo sobre a delimitação do território a ser reconhecido;
Setembro – Itesp e FF enviam documento à associação quilombola falando da necessidade das melhorias e atendimento das demandas como estrada e energia, mas sem assinatura dos órgãos responsáveis; a comunidade não aceita a versão do documento e devolve carta resposta aceitando o reconhecimento e abrindo mão da parte do território denominada Córrego Grande (Sistema Areias) afirmando que vai continuar a ação em prol das outras demandas.
Novembro – Itesp realiza evento de entrega dos RTCs e publica no Diário Oficial o reconhecimento do território de Bombas.

Imagens: 
Local da Notícia: 
Iporanga Iporanga , SP
ISA

Source URL:https://site-antigo.socioambiental.org/en/node/4595