ISA - Instituto Socioambiental
Published on ISA - Instituto Socioambiental (https://site-antigo.socioambiental.org)

Home > Após repercussão internacional, governador do Amazonas afinal pede revogação da ‘Lei da Tilápia’

Após repercussão internacional, governador do Amazonas afinal pede revogação da ‘Lei da Tilápia’

Friday, 19 de August de 2016
Direto do ISA
Biodiversidade
Tweet
Lei da tilápia
Espécies exóticas

A repercussão negativa de uma lei que permite a introdução de espécies não nativas de peixes, como a tilápia, nos rios e lagos do Amazonas chegou a organismos internacionais e o governador, José Melo (Pros), resolveu afinal pedir a revogação e substituição da norma.

Nesta quinta (18/8), ele enviou à Assembleia Legislativa (ALE-AM) uma mensagem formalizando a solicitação. O projeto original do governo, de 2006, voltará a tramitar para regulamentar a aquicultura no estado. A decisão teria sido tomada após Melo ter sido questionado por representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no mês passado, nos EUA. A ameaça ambiental representada pela lei seria contrária às diretrizes do banco e Melo teria preferido evitar problemas na negociação de um empréstimo de US$ 350 milhões justamente para a área ambiental de sua administração. As informações foram divulgadas em primeira mão pela agência de notícias Amazônia Real.

“Ele [o governador José Melo] falou para mim que tomou a decisão porque viu o tamanho da repercussão que se deu no Amazonas e que foi para fora do país. Uma das razões que ele elencou foi que quando viajou a Washington para fazer o empréstimo do BID, a primeira coisa que questionaram dele foi isso. Perguntaram se iam introduzir tilápia no Amazonas. Ele disse que não, que a lei estava sendo revista. Ele percebeu que não surtiu um efeito positivo para ele a lei. Que foi negativo. Assim, ele decidiu rever a lei”, informou o deputado estadual Dermilson Chagas (PEN) à agência.

Enquanto o novo projeto não for aprovado, continua valendo aquela que ficou conhecida como “Lei da Tilápia” (Lei 4.330/2016), sancionada por Melo em maio e alvo de uma enxurrada de críticas de cientistas, ambientalistas, Ministério Público e redes sociais. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, também pediu o cancelamento da legislação. Uma petição internacional pediu a mesma coisa. O ISA publicou textos sobre o assunto e participou da mobilização.

“É com alívio que recebemos a notícia da intenção de revogação da lei, pois se ela continuar em vigor e espécies exóticas forem, de fato, introduzidas nas águas da Amazônia, não será mais possível reverter o processo e todo o bioma, aquático e terrestre, estará ameaçado. Aí sim, poderemos dizer ‘adeus querida’, para a Amazonia”, diz Nurit Bensusan, especialista em Biodiversidade do ISA.

Espécies não nativas como a tilápia, de origem africana, competem de forma agressiva pelos mesmos recursos e podem se reproduzir indiscriminadamente, o que pode levar à extinção de várias espécies nativas. A introdução de animais, plantas e micro-organismos “exóticos” é um dos maiores problemas ambientais em vários locais do mundo. Como não se sabe quando o novo projeto será aprovado, a ameaça à biodiversidade continua.

Num primeiro momento, após a repercussão negativa, o governo resolveu enviar um novo projeto à assembleia, mas modificando apenas alguns dispositivos da lei. Agora, após a pressão do BID, Melo resolveu voltar atrás de sua última decisão e pedir anulação completa da norma.

A assessoria de imprensa do governador afirmou, por e-mail, que o pedido de revogação não tem nenhuma relação com a negociação com o BID. Em nota enviada à reportagem do ISA, o governo reafirma que já havia vetado os artigos da lei que permitiam a introdução de espécies exóticas, mas que se resolveu pela anulação da norma após “discussões com a sociedade e com a própria Assembleia” (leia abaixo a íntegra da nota).

Governo do Amazonas reenvia à ALE-AM projeto original da Lei de Aquicultura propondo a revogação de lei anterior

O Governo do Estado do Amazonas encaminhou na última quinta-feira, dia 18 de agosto, à Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) mensagem com o Projeto de Lei 58/2016 que disciplina a atividade de Aquicultura no Estado. A proposição tem como objetivo regulamentar a atividade e revogar integralmente o disposto na Lei 4.330, aprovada em maio de 2016, a fim de restaurar o conteúdo do texto originalmente encaminhado em 07 de abril de 2016 pelo Executivo Estadual.

O texto da Mensagem reenviada à ALE-AM diz que o substituto a ele aplicado na casa acabou por prejudicar os aspectos de proteção ambiental relativo à matéria. A Lei anterior fora aprovada na Casa com alterações ao projeto original encaminhado pelo Governo do Amazonas.

O Governo já havia revogado quatro artigos (7º, 10º, 24º e 25º) que foram introduzidos ou modificados no PL original, deixando clara a proibição de peixes exóticos na bacia hidrográfica nos limites do Estado e o barramento de cursos d'água para aquicultura, mas, após discussões com a sociedade e com a própria Assembleia, decidiu revogar a Lei 4.330 integralmente e reenviar o projeto original àquela Casa Legislativa.

Com a medida, o Governo do Estado reafirma a defesa de iniciativas voltadas à manutenção da biodiversidade de peixes amazônicos e incentiva o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para o fortalecimento da piscicultura com espécies nativas em áreas antropizadas, objeto da nova Matriz Econômica Ambiental do Estado, atualmente em processo de construção. Também ressalta que está sempre aberto a discussões mais amplas com a sociedade com o intuito de ouvir as demandas e sugestões para o fortalecimento da agenda ambiental.

Imagens: 
Local da Notícia: 
Manaus , AM
Oswaldo Braga de Souza
ISA

Source URL:https://site-antigo.socioambiental.org/en/node/5314