Seringueiro da Terra do Meio (PA) ganha prêmio por modo de vida beiradeiro
Thursday, 15 de December de 2016
Edimilson, com seus 79 anos de idade, faz questão de se apresentar como sendo um “seringueiro com muito orgulho!”. E não é para menos, ele aprendeu a viver da floresta extraindo o látex da seringueira com seu pai, que por sua vez aprendeu com seu avô, que veio do Ceará em 1912 para tentar a vida na floresta amazônica paraense.
Desde essa época, as gerações da família Viana se criaram na beira do Rio Xingu, por dentro dos igarapés e andando pelas estradas de seringa no meio na mata.
Este ano, o modo de vida seringueiro foi reconhecido pelo Estado do Pará. Em novembro foi publicado o resultado final do Prêmio de Manifestações Culturais 2016, do programa Seiva de Incentivo à Arte e Cultura da Fundação Cultural do Estado do Pará. Dentre os 50 mestres de manifestações culturais contemplados está o nome do mestre seringueiro Edimilson Maranhão Viana.
O prêmio teve a intenção de “fortalecer a diversidade das manifestações culturais nas diferentes regiões do território paraense, além de identificar, valorizar e dar visibilidade às atividades culturais protagonizadas por esses mestres ou grupos”. Com o valor simbólico de R$ 5 mil para cada premiado, o Estado do Pará entende que esse reconhecimento é parte de uma “estratégia de preservação das identidades culturais”. Mais do que homenagear o ofício, o prêmio reconhece o modo de vida beiradeiro e sua origem histórica, incentivando a continuidade da prática.
Com 11 anos de idade, Edimilson começou a seguir os passos do pai aprendendo o ofício de seringueiro. Casado com Eliza Barros Viana, criaram onze filhos com a produção de borracha na Reserva Extrativista Rio Xingu, na Terra do Meio - conjunto de áreas protegidas localizada entre os rios Xingu e Iriri, no Pará, que abriga uma enorme diversidade socioambiental.
“Quando vou cortar as seringueiras sempre sou acompanhado de algum neto ou filho, que aprendem como cortar a seringueira de forma que não machuca as árvores. Meus filhos aprenderam a cortar seringa de pequenos, de forma espontânea, quando iam cortar seringa comigo. Hoje, meus netos me acompanham quando vou cortar seringa para encauchar os sacos”, conta Edimilson. Hoje, o casal segue criando os netos por meio do látex da seringueira, produzindo juntos os artesanatos encauchados com leite da seringueira: sacos de tecido de chita, bolsas de computadores, bolsas tiracolo, toalhas e capas de celulares. A técnica de “encauchar” consiste na selagem do tecido com o leite da seringa tratado, tornando-o impermeável.