Novo arco do desmatamento: fronteira de destruição avança em 2019 na Amazônia
Tuesday, 17 de December de 2019Uma nova geografia da destruição avança na Amazônia. Levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) aponta que 11 novos municípios alavancaram a derrubada na maior floresta tropical do planeta, expandindo a zona de destruição para o sudoeste e oeste do Pará, sul do Amazonas e oeste do Acre. O estudo do ISA se baseou nos dados do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 2008 a 2018, incluindo a estimativa do período entre agosto de 2018 e julho de 2019. Veja aqui a íntegra do estudo.
A expressão “arco do desmatamento” delimita uma região composta por 256 municípios em que a destruição se concentra historicamente e onde estão focadas políticas públicas de combate do Ministério do Meio Ambiente. É um território que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. As rodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Porto Velho iniciaram o desenho desse arco a partir da década de 1960. A região concentra aproximadamente 75% do desmatamento da Amazônia. O estudo também identificou 22 municípios que não constam nessa lista e configuram uma nova zona de expansão.
Na expansão da fronteira identificada pelo ISA, os vetores são as rodovias BR-163, BR-319 e BR-364 que, como flechas, irradiam a devastação para o interior da floresta amazônica. Enquanto isso, municípios da porção sul do arco do desmatamento, sobretudo no estado do Mato Grosso, e de ocupação mais antiga, tiveram queda na taxa. A notícia não é necessariamente boa: ela indica que a floresta nessa zona foi destruída quase completamente e que os desmatadores buscam novas áreas para derrubar.
Um problema grave é que desses 11 municípios, oito deles não estão relacionados na lista de municípios prioritários para o combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e, portanto, estão fora da alçada das políticas públicas que podem conter essas taxas. “É fundamental que o governo olhe para essas novas frentes de destruição, e estabeleça medidas também para essas áreas”, apontou Antonio Oviedo, pesquisador do ISA e um dos autores do estudo.
No Estado do Acre, destaca-se o município de Xapuru, ao longo da BR-317, Feijó e Tarauacá, ao longo da BR-364 e de Marcelândia e Peixoto de Azevedo e União do Sul, no Pará, ao longo da BR-163.
Outra frente é o estado de Roraima, cujas taxas de desmatamento bateram o recorde em 2019, com aumento de 216%, mostrando o avanço da fronteira ao norte da Amazônia. Quatro municípios (Cantá, Caracaraí, Iracema e Mucajaí) alavancaram o desmatamento na região.
Grandes desmatador volta à ativa
O estudo também identificou que um velho ator está de volta: o grande desmatador. Entre os anos de 2002 a 2012, quando houve queda da taxa de desmatamento, as áreas derrubadas se reduziram. O desmatamento passou a concentrar-se em pequenas áreas, ampliações de propriedades, uma espécie de “puxadinho” da propriedade rural. Mas, a partir de 2012, os grandes desmatamentos (acima de mil hectares) passaram a contribuir mais e os pequenos desmatamentos a contribuir menos no cômputo total. Isso nos mostra que o autor desse desmatamento não é alguém que está ampliando sua propriedade, fazendo um “puxadinho”, mas alguém com poder aquisitivo suficiente para abrir uma nova área de grandes dimensões.