Jovens do Vale do Ribeira festejam término da formação de agentes socioambientais (FAS)
Tuesday, 06 de October de 2015Foi numa ensolarada manhã de sábado, em setembro último, que 67 jovens, de 16 a 29 anos, vindos de diversos bairros rurais de municípios paulistas e paranaenses da região do Vale do Ribeira ocuparam o auditório do Centro Cultural Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK), em Registro. Acompanhados por familiares e pessoas de suas comunidades, estavam ali para a última etapa da formação de agentes socioambientais (FAS), processo que se iniciou dez meses antes, e que resultou na elaboração de 31 projetos e cinco campanhas de educação ambiental.
Na abertura do que foi chamado “Módulo Integrado”, Luiza Dulci, assessora especial de juventude do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), representando o ministro Patrus Ananias, ressaltou a importância das iniciativas propostas pelos jovens, mostrando a força da agricultura familiar no Vale do Ribeira. Franciene Araújo, analista do Ministério do Meio Ambiente (MMA), técnica responsável por acompanhar o desenvolvimento do projeto, destacou o empenho dos agentes e a qualidade das campanhas e projetos elaborados. O deputado federal Nilto Tatto, um dos idealizadores do projeto, quando ainda era coordenador do Programa Vale do Ribeira do ISA, elogiou os jovens por encararem um grande desafio da atualidade: manter o encantamento pela agricultura, buscando práticas de produção que dialoguem com a proteção aos recursos naturais.
O professor Marcos Sorrentino, da Esalq/USP, fez uma exposição em que valorizou o papel da educação ambiental popular para que a humanidade alcance a sustentabilidade. Apresentou cinco conceitos para o empoderamento da juventude: o diálogo (saber ouvir e saber comunicar); a identidade (sentimento de pertencer a algum lugar); a comunidade (acolhimento, apoio mútuo); a potência de agir (poder de transformar o mundo) e a felicidade (resultado da somatória dos quatro conceitos anteriores). Para Sorrentino, é necessário acreditar nos sonhos e na união entre as pessoas, para desenvolver tecnologias, trocar experiências e ter conexão entre as comunidades.
Após a palestra, os jovens apresentaram as campanhas elaboradas por cada turma e receberam o certificado de conclusão da formação. O grupo Batucajé do Vale encerrou as atividades do período da manhã, com poesias e músicas que evocam as riquezas dessa região. Em um momento de grande emoção, os jovens ocuparam de surpresa o palco do evento, exaltando sua alegria e gratidão pelo processo. Joyce Cardoso, caiçara da Enseada da Baleia, na Ilha do Cardoso, disse que a FAS lhe mostrou ser possível transformar o mundo a partir de sua comunidade. Vanessa de França, do quilombo São Pedro em Eldorado, emocionada, falou sobre a satisfação em ver despertar em seus colegas um sentimento de orgulho por serem quilombolas. Um agradecimento especial e comovido, foi feito em guarani por Tupã Werá Mirim, da Aldeia Pindoty, em Paranaguá (PR).
Projetos e campanhas serão executados nos próximos quatro meses
Em um dos salões do KKKK, pôsteres exibiam os projetos comunitários, enquanto os jovens explicavam aos presentes suas propostas de intervenção. Alessandra Rezende e Sérgio Rodrigo Cunha, de Porto Cubatão (Cananéia), estavam felizes ao falar sobre seu projeto, “Mangue é Vida”. A iniciativa surgiu da constatação sobre a grande quantidade de lixo existente nas áreas de mangue, localizadas na comunidade, e a necessidade de alertar a população e os turistas sobre os impactos negativos desse tipo de poluição. Os jovens planejam organizar mutirões de limpeza e oficinas voltadas às crianças, utilizando os materiais coletados.
Restaurar nascentes e matas ciliares é a proposta dos jovens Bruno da Silva, Leonardo Marinho, Lucas Soares e Luciele da Silva, do quilombo de Ivaporunduva, em Eldorado. Apesar da comunidade ter grandes remanescentes florestais, identificaram que áreas importantes para a proteção de rios estavam desmatadas, o que poderia gerar problemas no futuro próximo. Como o turismo de base comunitária é muito forte em Ivaporunduva, os jovens pensaram em incluir no roteiro de visitas as ações de plantio, para complementar os mutirões que a própria comunidade fará ao longo do projeto.
As iniciativas dos jovens entusiasmaram os presentes. Claudemir Marques, liderança do assentamento PDS Alves, Teixeira e Pereira (bairro Guapiruvu) e vereador em Sete Barras, disse que a comunidade estava muito satisfeita em ver a proposta desenvolvida por cinco de seus jovens e que as organizações de agricultores locais discutiram a possibilidade de viabilizar a implantação do projeto, cujo objetivo é reformar o barracão onde acontecem as atividades comunitárias, como reuniões, recepção de visitantes, festividades etc.
A assessora territorial do MDA no Vale do Ribeira, Tânia Silva, que acompanhou a formação como colaboradora, reforçou a importância das comunidades aprenderem a escrever seus próprios projetos, para pleitearem os recursos que são disponibilizados por meio de editais.
Doze dos projetos apresentados pelos jovens serão apoiados o que significa que receberão recursos financeiros e suporte técnico, até o final de janeiro de 2016. Veja aqui a relação dos projetos.
Os projetos serão implementados em sete municípios, e envolvem comunidades caiçaras, quilombolas, indígenas e agricultores familiares, em ações de valorização da cultura tradicional a partir do manejo de recursos naturais e da culinária, reaproveitamento de materiais descartáveis, implantação de fossas biodigestoras, capacitação para a produção orgânica, implantação de cisterna, restauração de matas ciliares, conservação de sementes de milho, confecção de aquecedores solares e formação de jovens.
No mesmo período, serão executadas cinco campanhas, que tiveram seus temas desenvolvidos por cada uma das turmas, pensando em situações comuns existentes em suas comunidades. São elas: proteção dos manguezais; produção agroecológica; conservação dos rios; contra agrotóxicos e plante sua comida. Os jovens criaram panfletos, que darão suporte às ações planejadas por eles, como visitas, palestras, intervenções públicas, entre outros.
Sobre a Formação de Agentes Socioambientais (FAS)
O Instituto Socioambiental (ISA) realiza, desde junho de 2014, o projeto “Formação de agentes socioambientais de educação ambiental na agricultura familiar e implementação de projetos comunitários de educação ambiental”, (FAS) que tem por objetivo contribuir para a formação educacional e política de agentes locais que promovam o desenvolvimento socioambiental do Vale do Ribeira. Envolveu jovens entre 16 e 29 anos, quilombolas, indígenas, caiçaras, assentados e agricultores familiares, que foram divididos em cinco turmas com representantes dos municípios de Apiaí, Barra do Chapéu, Barra do Turvo, Cajati, Cananeia, Eldorado, Ilha Comprida, Iporanga, Pariquera-açu, Registro, Ribeira e Sete Barras, além dos paranaenses Bocaiúva do Sul e Paranaguá.
Ao longo de dez meses, esses jovens passaram por discussões a respeito de identidade local, valorização da agricultura familiar, acesso às políticas públicas voltadas ao campo, produção, comercialização e a juventude, gestão territorial, manejo agroflorestal, biodiversidade e legislação. Além disso, escreveram projetos comunitários e campanhas educativas, que serão implementados na próxima etapa desta iniciativa.
Este processo é apoiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA/MMA), Goldman Environmental Foundation (GEF) e Jewish Community Federation (JCF). São parceiros na implementação do projeto o Centro Integrado de Estudos Multidisciplinares (CIEM/CPRM), Fundação Florestal, Funai, Itesp, ICMBio, Prefeitura Municipal de Registro, associações e cooperativas de agricultores familiares.