ISA - Instituto Socioambiental
Published on ISA - Instituto Socioambiental (https://site-antigo.socioambiental.org)

Home > Conflitos deflagram urgência na desintrusão de invasores em Terras Indígenas

Conflitos deflagram urgência na desintrusão de invasores em Terras Indígenas

Friday, 26 de March de 2021
Blog do Monitoramento
Tweet
Programa: 
Monitoramento de Áreas Protegidas

Violações de territórios indígenas acompanham a escalada da pandemia e projetos de lei ganham força na Câmara visando a revisão de demarcações; veja essa e outras notícias desta semana no Fique Sabendo.

Bomba da semana



Esta semana foi marcada pela crescente tensão de conflitos em Terras Indígenas na Amazônia Legal. Na quinta-feira (25), a sede da Associação de Mulheres Munduruku Wakoborũn foi depredada por garimpeiros ilegais, no município de Jacareacanga, no sudoeste do Pará. Os invasores destruíram a fachada e móveis do prédio e colocaram fogo em documentos e outros materiais da associação, segundo indígenas relataram ao Ministério Público Federal (MPF), que abriu apuração sobre o caso.

A organização de mulheres indígenas se posiciona ativamente contra a mineração ilegal nos territórios Munduruku. Na semana passada, o MPF havia reiterado pedido feito em 2020 à Justiça Federal para que forças federais sejam obrigadas a atuar com urgência para impedir ataque violento dos garimpeiros ilegais aos indígenas. Desde 2017, o MPF vem alertando às autoridades sobre o aumento da invasão garimpeira ao território Munduruku, mas até agora não há combate contínuo ao crime.

Na Terra Indígena Yanomami , onde a invasão do garimpo ilegal aumentou 30% em 2020, é possível ter uma dimensão da capilaridade do problema. Na quarta-feira (24), a Polícia Federal desmontou uma "mini cidade" ocupada por garimpeiros no interior da TIY, o maior território indígena brasileiro. Na operação, foram encontrados boates, bingos, wi-fi e uma estrutura com capacidade de abarcar cerca de 2 mil pessoas. Quatro áreas foram alvos da fiscalização. No entanto, ninguém foi preso. Segundo a PF, os invasores assustaram-se com a chegada do helicóptero, cedido pela Força Aérea, e se esconderam na mata.

Mesmo diante do aumento dos conflitos, ganham força na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal projetos que visam rever a demarcação de terras indígenas. Há vários projetos de lei que pretendem rediscutir a autonomia dos povos indígenas em seus territórios - garantia da Constituição - em discussão e que contam com o apoio da bancada ruralista, mineradoras e do próprio governo federal. Uma das propostas, de maior peso, pretende transferir da União para o Congresso a última palavra na demarcação, com poder de rever áreas já demarcadas e de proibir a ampliação das já existentes.

E você com isso?

Em um momento em que o aumento das violações aos direitos humanos de populações vulneráveis acompanha o agravamento da pandemia, é urgente que a sociedade reconheça o valor ético e cultural dos povos indígenas e populações tradicionais. Para isso, é imprescindível defender uma política comprometida em assegurar as demarcações e a integridade das Terras Indígenas, direito estabelecido pela Constituição Federal, que assegura ainda o fortalecimento de seus modos de vida e a proteção de sua existência. A atual política de boicote aos processos de demarcação de Terras Indígenas torna ainda mais difícil a aplicação de políticas públicas de habitação, segurança alimentar, saneamento, educação e saúde para os povos indígenas e populações tradicionais, resultando na recorrência de invasões e excluindo parte dessas populações da vacinação.

Além disso, um relatório realizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) revisou mais de 300 estudos sobre o tema e mostra que a garantia da posse dos povos indígenas sobre seus territórios, em áreas florestais, é uma maneira eficiente e econômica de reduzir emissões de carbono. O levantamento reforça evidências científicas da importância de Terras Indígenas para o equilíbrio do clima. Intitulado “Governança Florestal por Povos Indígenas e Tribais”, a publicação foi realizada em parceria com o Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (FILAC).

Não perca também

O povo indígena Tremembé da Barra do Mundaú denunciou ataques realizados em área usada como barreira sanitária no enfrentamento da Covid-19. A barreira, localizada no limite do território indígena com o distrito de Marinheiros, no Ceará, foi incendiada. “Pedimos o apoio das autoridades competentes do nosso estado para que possam nos ajudar a fortalecer as ações de defesa do nosso território e punir quem comete esse tipo de crime nas nossas aldeias”, afirmaram representantes da terra indígena.

A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal confirmou a suspensão dos efeitos no Acre de uma norma da Funai que favoreceria a grilagem de terras indígenas. A sentença demonstrou que a Instrução Normativa (IN) 09/2020 restringia o direito originário dos índios às suas terras, aumentava o risco de conflitos fundiários e permitia, de forma ilegal e inconstitucional, que fossem negociados títulos de terra declarados nulos e extintos, em decorrência de estarem em terras indígenas.

Em outra decisão, o MPF pede que a Justiça obrigue a União, a Funai e o Incra a realizarem imediatamente o plano de retirada de invasores da Terra Indígena Alto Rio Guamá, no nordeste do Pará. Para o MPF, o descumprimento da sentença que dá a posse aos povos indígenas Tembé, Timbira e Ka’apor da área, conhecida como Vila Bacajá, concedida pela Justiça Federal em decisão de 2003, estimula um conflito que já dura décadas na região, com violência contra indígenas e outras violações de direitos que geram insegurança social e alimentar, prejuízos culturais e danos socioambientais, como o desmatamento.

Segundo estudo publicado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), são os estados, e não a União, que travam a regularização fundiária na Amazônia. Os pesquisadores estimam que os governos estaduais sejam responsáveis por decidir sobre o destino de 86,1 milhões de hectares ou 17% da Amazônia Legal. Essa área corresponde a 60% das áreas não destinadas ou sem informação sobre destinação na região. Ou seja, cabe aos estados resolver a maior parte do problema. O relatório também aponta como as leis e políticas fundiárias atuais acabam estimulando o desmatamento e a grilagem.

Para não dizer que não falei de flores

A Defensoria Pública do Piauí lançou publicação virtual sobre direitos quilombolas produzida pelo Projeto Vozes dos Quilombos. Além de se debruçar sobre os direitos dessa população, o trabalho aborda as dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras e as principais normas de direito internacional que fundamentam o direito dos povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais. “O nosso material é um produto de uma ação responsável, que bebeu na fonte do conhecimento das comunidades, porque foram eles, os nossos incríveis protagonistas desta noite, os moradores dos quilombos, que pautaram a nossa caminhada até aqui”, afirmou a defensora pública Karla Andrade, uma das responsáveis pelo material.

Fique atento

Decreto publicado na última quarta (24) pelo presidente Jair Bolsonaro estabeleceu a Política de Apoio ao Licenciamento Ambiental de Projetos de Investimentos para a Produção de Minerais Estratégicos. De caráter permanente, uma das finalidades é articular ações entre órgãos públicos no sentido de priorizar os esforços governamentais para a implantação de projetos de produção de minerais estratégicos. Na prática, a medida se alinha com os interesses do governo Bolsonaro em flexibilizar a legislação ambiental a favor das atividades de exploração mineral no país.

No mesmo dia (24), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) publicou uma portaria que criou a modalidade Floresta+ Empreendedor, de acordo com a Portaria nº 288, que criou o Programa Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais - Floresta+. Apesar da norma mencionar conceitos como conservação e desenvolvimento regional sustentável, a falta de detalhes sobre a aplicação e fiscalização das atividades pretendidas certamente se devem ao objetivo do Governo em repassar suas responsabilidades da União com o meio ambiente para o setor privado, assim como o fez com o programa Floresta+ Carbono, ao permitir que as próprias empresas desenvolvam, certifiquem e auditem projetos sem regulação do governo.

Enquanto isso, também na última quarta, o ICMBio retificou regras para o planejamento e execução dos Planos de Ação Nacional (PAN) para conservação e manejo das espécies ameaçadas de extinção. Na prática, os ajustes concentram poder decisório no órgão federal e enfraquecem a participação de organizações não governamentais, universidades e sociedade civil no mapeamento de espécies ameaçadas e planejamento de estratégias para garantir sua conservação.

O Ibama emitiu um documento interno com orientações sobre mudanças nos processos de licenciamento ambiental comandados pelo órgão que, na prática, revoga determinações do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) sobre o assunto. As medidas flexibilizam ainda mais o licenciamento ambiental e aumentam as condições para a degradação ambiental e impactos negativos.

Letra de sangue

O MPF se posicionou contra os projetos de lei que podem prejudicar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), referência internacional que oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública. Nota emitida pelo MPF reforça os potenciais impactos negativos das alterações no PNAE causados aos povos indígenas e comunidades tradicionais no que se refere à garantia de direitos, em especial sobre a soberania e segurança alimentar, nutricional e o acesso aos alimentos de sua própria cultura, ao proporem a retirada, no processo de aquisição de alimentos, da prioridade para comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos. Os PLs foram propostos pelos deputados federais Vitor Hugo (PSL) e Afonso Hamm (PP).

Ajude a defender o PNAE e assine a petição contra o PL 3.292/2020 e o PL 4.195/2012 criada pelo Observatório da Alimentação Escolar.

Baú socioambiental



Esta semana comemorou-se o Dia Mundial da Água no dia 22

Passados quase 30 anos desde que a data foi instituída em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), quando a situação hídrica já se mostrava preocupante, infelizmente a conjuntura atual não é menos grave, pelo contrário. Uma recente pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revela que há uma fragilização global nos ecossistemas produtores de água. Estima-se que um quinto das bacias hidrográficas do mundo está passando por flutuações dramáticas na disponibilidade de água e que mais de 3 bilhões de pessoas convivem com a escassez ou se encontram em alto risco de acesso à água, além de sujeitas a doenças por veiculação hídrica. Esses dados foram apresentados pelo PNUMA à ONU, no último dia 18 de março.

No Brasil, milhões de brasileiros seguem distantes de qualquer serviço de saneamento básico, o que impõe ainda mais desafios no enfrentamento da pandemia de COVID-19. O Instituto Trata Brasil divulgou, na última segunda (22), o novo Ranking de Saneamento, que analisou dados das 100 maiores cidades brasileiras e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2019. De acordo com o levantamento, quase 35 milhões de pessoas não têm acesso a serviços de água tratada, sendo 5,5 milhões apenas nas maiores cidades do país. Aproximadamente 100 milhões de habitantes não contam com acesso à coleta de esgoto (21,7 milhões nas 100 maiores cidades).

Como bem destaca Carlos Bocuhy em sua coluna no ((O))Eco, valorizar a água é a reflexão que a ONU propõe para este Dia Mundial da Água de 2021. A água, o pão e a paz de cada dia dependem de um conjunto de fatores representados na sustentabilidade hídrica, um equilíbrio que tem interfaces com questões essenciais como abastecimento público, produção agrícola, atividades industriais e urbanas. Portanto é prioridade em nossa sociedade valorizar essa construção de políticas públicas efetivas para a proteção da água, a começar por meio do irrestrito acesso à informação e de plena participação social.

O Projeto Conexão Água, da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal lançou uma ferramenta socioeducativa que facilita o acesso a dados públicos de monitoramento da qualidade da água. A ferramenta Água Boa de Beber busca incentivar a população a praticar a governança social e colaborativa.

Isso vale um mapa

Confira no mapa abaixo as bacias hidrográficas do território brasileiro. As informações são da Base Hidrográfica Ottocodificada (BHO) utilizada pela ANA na gestão de recursos hídricos e são obtidas a partir do Mapeamento Sistemático Brasileiro. A BHO é gerada a partir da cartografia digital da hidrografia do país. No mapa, as bacias hidrográficas correspondem à agregação das áreas de contribuição hidrográfica, conhecidas como ottobacias, no nível 1 e nível 2.

Fique sabendo
Terras Indígenas
Violência
Garimpo em Terras Indígenas
Imagens: 
  • View the full image

    Fotos e vídeo encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF) por testemunhas do crime.

  • View the full image

    Crianças brincando no porto| Anna Maria Andrade / ISA

  • View the full image

Source URL:https://site-antigo.socioambiental.org/en/node/7188