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Tudo indica que, mesmo com a comoção pública em favor da demarcação de suas terras, a situação de genocídio vivida pelos Guarani Kaiowá e Ñandeva no Mato Grosso do Sul ainda deve demorar a ser solucionada.
Casos de violência contra os povos indígenas no estado se repetem desde a publicação do relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena Iguatemipegua I (Pyelito Kue/Mbarakay), em 7/1/13, pela presidência da Funai. Leia mais.
A resposta dos fazendeiros e políticos do sul do estado não tardou. Em 5/2, proprietários rurais de 26 municípios do Cone Sul do Mato Grosso do Sul encaminharam à presidência da República, ao Senado, à Câmara dos Deputados um documento afirmando que a identificação da TI agravaria o conflito fundiário na região, conforme reportagem publicada pelo jornal Midiamax. De pronto, o Conselho da Aty Guasu, a grande assembleia dos povos Guarani Kaiowá e Ñandeva, rebateu: “Essa posição ou preocupação citada não tem sentido e sem fundamento, porque os indígenas Guarani e Kaiowá não têm armas de fogo e, sobretudo não têm interessem em assassinar os fazendeiros e seus pistoleiros”.
De fato, o conflito se agravou – e não pelas mãos dos indígenas. Durante o mês de janeiro, pelo menos três comunidades indígenas já haviam sofrido ameaças: o acampamento Guaiviry, onde foi morto em 2011 o cacique Nísio Gomes; a Terra Indígena Taquara, onde vive família do líder Marcos Veron, assassinado em 2009; e a área retomada Laranjeira Ñanderu, em Rio Brilhante, cuja comunidade aguarda o reconhecimento como terra indígena. Leia mais.
Em 7/2, durante o Carnaval, foi registrado um ataque na TI Sombrerito, próximo à fronteira com o Paraguai, em Sete Quedas, quando dois jovens foram atacados por pistoleiros. Sombrerito foi declarada de posse permanente dos indígenas em 2010, mas o processo de demarcação está estagnado. No dia 10/2, a comunidade de Pyelito Kue/Mbarakay, na TI Iguatemipeguá, é que voltou a ser atacada. Segundo informações divulgadas pelo Conselho Indigenista Missionário, neste dia homens armados acuaram e apontaram armas contra um grupo de crianças e mulheres que se banhavam no rio Hovy.
A situação de violência chegou ao extremo em 17/2, com o assassinato do jovem estudante Denílson Barbosa, no tekoha Pindo Roky, retomado pela população da Terra Indígena Caarapó após o incidente. Morto por tiros a queima-roupa, como testemunham o irmão e o primo que o acompanhavam em uma pescaria, o jovem foi enterrado na área retomada – no interior da Fazenda Santa Helena. Ainda que a autoria do crime já tenha sido assumida pelo proprietário da Orlandino Gonçalvez Carneiro, até o momento nenhum dos envolvidos teve prisão preventiva decretada.
Ouça: Adolescente guarani-kaiowá é assassinado por pistoleiros no MS, da Rede Brasil Atual
As aulas das escolas da TI estão paralisadas; a comunidade, que se mobiliza em torno da retomada e pela apuração do crime de homicídio contra o jovem, criou um perfil na rede social Facebook para divulgar informações diretamente de Pindo Roky. Acesse!
Em nota publicada no último domingo, o Conselho da Aty Guasu acusa as autoridades policiais de não estarem investigando o caso devidamente: “Os pistoleiros do fazendeiro-assassino confesso continuam agindo e ameaçando de forma tranquila os familiares do Denilson Barbosa e manifestantes Guarani-Kaiowá da aldeia Tey’ikue/Caarapo-MS. (...).A posição pública da autoridade policial civil evidencia claramente que os fazendeiros-assassinos dos Guarani-Kaiowá não são e nem serão punidos(...). Várias lideranças Guarani-Kaiowá indignadas declaram que 'se os criminosos fossem índios Guarani-Kaiowá, se um fazendeiro fosse assassinado pelo índio Guarani-Kaiowá imagina!, com certeza a autoridade da polícia civil prenderia e deixaria presos na hora, submeteria à tortura (...)”.
De fato, os ataques de pistoleiros em Te'ýikue não cessaram. Segundo a nota do Conselho da Aty Guasu, em 22/2, pela manhã, e no dia seguinte, à noite, dois grupos de homens armados estiveram no local e efetuaram disparos de arma de fogo. Para assegurar a integridade da comunidade, o Ministério Público Federal no estado ajuizou uma ação solicitando que a União encaminhasse forças policiais à TI.
O clima de tensão extrema motivou ainda uma reunião de lideranças indígenas Guarani Kaiowá, Guarani Ñandeva, Terena e Kadiwéu com a ministra Maria do Rosário (Secretaria Especial de Direitos Humanos) e o governo estadual, em Campo Grande (MS). Na ocasião, os indígenas realizaram a entrega de uma carta denunciando os ataques recentes e exigindo intervenção imediata na região, além do afastamento do delegado da Polícia Federal em Dourados, por discriminação e autoritarismo. A SEDH incluiu os jovens que presenciaram o assassinato de Denílson Barbosa no Serviço de Proteção a Testemunhas e prometeu punição exemplar aos responsáveis. Leia mais.
Terena e Kadiwéu também lutam para retomar territórios
Ao norte do estado, o povo Terena e o povo Kadiwéu também têm se mobilizado pela retomada de seus territórios. Leia mais nas notícias abaixo!
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