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A COP 26 e os dados de desmatamento da Amazônia divulgados pelo Inpe marcaram as notícias socioambientais de novembro; veja essa e outras notícias socioambientais no Fique Sabendo
A COP é a maior conferência sobre o clima do planeta, organizada pelas Nações Unidas. O encontro deste ano, COP26, aconteceu entre os dias 31 de outubro e 13 de novembro em Glasgow, na Escócia.
Durante as duas semanas de debates entre delegações de dezenas de países para discutir o futuro do clima e do planeta, o Brasil tentou vender uma imagem verde. A propaganda governamental brasileira falou em zerar a derrubada ilegal de florestas até 2030. Mas os dados preliminares do desmatamento da Amazônia, produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e divulgados pelo governo logo após a COP, puseram em xeque os discursos vazios dos representantes brasileiros.
O monitoramento do Deter, realizado pelo Inpe, mostrou que o mês de outubro atingiu 876,5 km² de área desmatada na Amazônia Legal. Desde 2015, quando os dados passaram a ser sistematizados na plataforma TerraBrasilis, outubro não registrava uma taxa tão elevada. Bolsonaro esperou o fim da COP26 para informar sobre desmatamento na Amazônia: segundo dados do Prodes, outro monitoramento do Inpe, o desmatamento na Amazônia no período de 12 meses, entre agosto de 2020 e julho de 2021, foi o maior desde 2006, com 13,235 mil km² desmatados.
Mas não foi só o Brasil que deixou a desejar no espaço da COP26. Diversas lideranças, ativistas e pesquisadores fizeram balanços pessimistas em relação aos acordos finais do encontro e à falta de participação nos espaços de decisão. Muitos acreditam que os acordos apenas adiaram decisões importantes em relação à redução do desmatamento e das emissões de carbono para o futuro.
Os debates da COP26 mostraram que a crise climática está instaurada em nossa sociedade e que algumas populações estão sentindo com mais intensidade os seus efeitos.
O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostra que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e que o aquecimento de 1,5º C a 2º C será ultrapassado ainda nas próximas décadas se não houver forte e profunda redução nas emissões de CO² e outros gases de efeito estufa.
Vale destacar que o desmatamento é um dos principais vetores para as mudanças climáticas, como apontado no estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) . O estudo revela que se o desmatamento continuar avançando, 16% dos municípios brasileiros, cerca de 30 milhões de pessoas sofrerão impactos por estresse térmico com a savanização da Floresta Amazônica.
Na Região Norte, aproximadamente, 12 milhões de pessoas poderão ser expostas ao risco extremo de estresse por calor até 2100.
O tema das mudanças climáticas tem estado na mídia há algum tempo, mas muitas pessoas não compreendem o que realmente significa. Os debates da COP incentivaram mais pessoas a falar sobre isso, repensar decisões e hábitos em uma perspectiva intergeracional.
“A emergência climática é uma realidade agora, pede rapidez e agilidade”, é o que diz o trecho de um videomanifesto imperdível do Portal Lunetas.
Uma das promessas do ministro Joaquim Leite na COP 26 é zerar o desmatamento ilegal até o ano de 2030. No entanto, a política de Meio Ambiente do governo Bolsonaro caminharam no sentido contrário até então, o que está explicitado no avanço do garimpo e mineração ilegal, aumento de queimadas, degradação e desmatamento.
Dados de incremento no desmatamento na Amazônia Legal para 2021 divulgados recentemente pelo PRODES/Inpe, indicam um aumento de 13.265km² em relação ao ano anterior, o que representa um aumento de 22% no desmatamento. Essa é a primeira vez que o PRODES aponta a ocorrência de três altas consecutivas desde o início dos anos 2000.
Houve, finalmente, um consenso com as regras pendentes do Acordo de Paris, assinado em 2015. Havia uma preocupação com a criação de mercados de emissão de carbono.
Presença de Líderes Indígenas: Veja abaixo na "Notícia fora do eixo"
O presidente Bolsonaro recebeu o Prêmio Fóssil da Semana pelo tratamento inaceitável aos povos indígenas, principalmente pelos ataques feitos à ativista indígena Txai Suruí, de Rondônia.
Além disso, sem responder perguntas sobre o desmatamento recorde divulgado durante o encontro, o Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, reuniu a imprensa no último dia COP para apresentar um balanço positivo da participação brasileira no evento. Também não quis comentar os dados de aumento de desmatamento no Brasil divulgados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), justificando que o objetivo da COP é o de negociações globais, e não os problemas de cada país.
O acordo final faz uma menção sem precedentes ao papel dos combustíveis fósseis na crise climática. Isso é algo que nem mesmo o histórico acordo de Paris foi capaz de alcançar. Ele exige a redução gradual do uso do carvão e dos subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis.
Foi solicitado que as partes compareçam à COP27 no próximo ano no Egito com planos atualizados sobre como reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030.
Havia grandes esperanças de que um fundo fosse criado para pagar pelos danos e destruição que a crise climática traz aos países mais afetados. A ideia era que as nações ricas pagariam por isso e, se um país experimentasse uma catástrofe climática, esse dinheiro poderia ajudá-lo a se reconstruir. Isso é chamado de “perda e dano” na linguagem climática.
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A COP26 teve uma participação brasileira significativa de mulheres indígenas e juventudes. Ainda que os espaços de deliberações tenham sido abertos apenas aos chefes de Estado, jovens ativistas indígenas chamaram a atenção pelos debates levantados dentro e fora dos corredores da COP.
A líder indígena Sonia Guajajara ressaltou que 82% da biodiversidade no mundo está dentro de territórios indígenas, chamando a atenção para a importância da participação dos povos indígenas na superação das crises climáticas. Pela primeira vez, foi criado um fundo de apoio autônomo para o direcionamento de recursos às comunidades indígenas.
Txai Suruí, indígena de 24 anos do povo Suruí, em Rondônia, foi a única brasileira a discursar na abertura do evento, em 1º de novembro. Na abertura da cúpula dos líderes, ela falou sobre a emergência de ações diretas e sobre esperança; “Nós vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis. É sempre necessário acreditar que o sonho é possível. Talvez a nossa utopia seja um futuro na terra."
Outro destaque foi a brasileira Alice Pataxó, que foi até citada por Malala nas redes sociais. No Twitter, ela comentou sobre uma das motivações que a fizeram rumar para a Escócia. "A floresta não tem dono, mas tem guardião. Por isso estamos aqui, para defender esses territórios, defender a vida", escreveu.
A Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) também marcou presença na COP 26, e levou o debate “sem justiça racial não há justiça climática”. O colapso climático é racista e consequência de uma sociedade que produz desigualdades de forma sistêmica. Uma sociedade consumista, que precisa responsabilizar os verdadeiros culpados pelo agravamento da emergência climática.
A comitiva da CONAC enfatizou a urgência do combate ao racismo ambiental, e propostas que avancem efetivamente na direção de um futuro com mudanças prósperas e menos mortes evitáveis.
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