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Em nova etapa do projeto, todas as universidades públicas do estado sinalizaram interesse em apoiar a viabilização do curso superior
Lideranças de cinco povos indígenas em São Paulo deram mais um passo para a construção de uma licenciatura indígena. O objetivo é criar um curso superior nas principais universidades do Estado que formem professores indígenas com atuação nas aldeias das Terras Indígenas localizadas em São Paulo.
Somente no estado de São Paulo, vivem pelo menos cinco povos dentro de Terras Indígenas: os Guarani, os Tupi, os Krenak, os Kaingang e os Terena. Na última sexta-feira (23/11), cerca de 20 professores e lideranças destes povos, com apoio do Comitê Interaldeias e do Fórum de Professores Indígenas do Estado de São Paulo (Fapisp), se reuniram para mais um encontro do grupo de trabalho “Por uma licenciatura indígena no Estado de São Paulo”, acolhido pela Universidade de Federal de São Paulo (Unifesp) na forma de curso de extensão.
O ciclo de discussões que terminou na última sexta (23) é o segundo entre os cinco previstos para acontecer até setembro de 2019. Dando continuidade às reflexões do módulo anterior, realizado entre os dias 6 e 10 de agosto deste ano, o objetivo central do encontro passado foi concluir a semana construindo parcerias com outras universidades que possam integrar uma rede de apoio para viabilizar a licenciatura indígena no estado.
Saulo Ramires, guarani mbya, destacou: “Nosso conhecimento é nosso ouro. Para o jurua [não indígena], tudo é dinheiro. Para nós, tudo é nhandereko [o modo de ser guarani]. (...) O nosso poder é a palavra e também a terra. Por isso, estamos aqui pleiteando uma formação específica para nós, para poder levar nossos conhecimentos e trabalhar junto com a universidade”.
A pró-reitora de Extensão e Cultura da Unifesp, Raiane Assumpção, ressaltou que a federal de São Paulo tem em suas diretrizes o fortalecimento de práticas interculturais e o compromisso com políticas públicas. “Nesse espaço, estamos afirmando o nosso posicionamento institucional para construção dessa parceria”, declarou Assumpção.
Além da Unifesp, a universidades federais do ABC (UFABC) e de São Carlos (UFScar) e as universidades estaduais de Campinas (Unicamp), de São Paulo (USP) e Paulista (Unesp) também evidenciaram o interesse em apoiar a iniciativa. “Aqui é um voto de força de que estamos juntos. Há uma prioridade: que essa seja a pauta de todas essas universidades”, manifestou Marta Amoroso, do Departamento de Antropologia da USP.
A licenciatura será voltada para professores que atuam em escolas dentro das aldeias e está sendo construída a partir das dinâmicas territoriais e de organização social de cada povo, respeitando suas especificidades e considerando a construção de conhecimentos para além do paradigma científico.
Ao fim dos cinco módulos, os professores indígenas terão em mãos um Projeto Político Pedagógico (PPP) que atenda as necessidades dos povos indígenas no estado de São Paulo e supere a condição atual de precarização da educação escolar indígena, em que os professores trabalham sem uma formação diferenciada, como garante a Constituição Federal, e com a ausências de direitos trabalhistas.