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Luta pela Vida na lua cheia de agosto

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Gilmar Terena, cineasta indígena da equipe do ISA em Brasília

Esta semana de agosto foi marcada pelo que alguns diriam ser a decisão do século para os povos indígenas do Brasil. A questão do “marco temporal” começou a ser decidida, nesta quinta-feira (26), no Supremo Tribunal Federal (STF). Se ele for aprovado, vai privilegiar principalmente o avanço do agronegócio e a mineração em Terras Indígenas.

Basicamente, o “marco temporal” significa que somente poderiam ser demarcadas áreas que ocupamos em 5 de outubro de 1988, dia da promulgação da Constituição. Ou seja, se não estávamos na terra nessa data, devemos desocupar a área, dando espaço, assim, ao avanço do desmatamento para o plantio de cana, soja, milho e criação de gado. Essa ideia foi criada a fim de restringir a demarcação de terras tradicionais, que em sua maioria já não estão em posse dos povos originários, mas, sim, na mão de posseiros, fazendeiros e latifundiários.

Diante disso, lideranças indígenas do Brasil todo e suas delegações vieram a Brasília, no chamado Acampamento Luta pela Vida, protestar contra o marco temporal.

Acompanhei todos os dias do acampamento e tive a chance de participar deste momento histórico, com a participação de mais de seis mil parentes, com marchas diárias para a Praça dos Três Poderes, na frente do STF.

É impossível não salientar que, diante de um governo declaradamente anti-indigena e no meio de uma pandemia global de Covid-19, este momento chega a soar como último suspiro de um povo tão sofrido por séculos de colonização, já sem opções de luta.

Porém o que se viu foi a reverberação de forças ancestrais e espirituais, manifestando-se todos os dias em forma de cantos, danças e gritos. No cenário árido do inverno brasiliense, com variações de temperatura desérticas, sol quente durante o dia e vento frio à noite, sob a lua cheia, os guerreiros e guerreiras seguraram firme sua posição.

Como sabemos há séculos também, decisões dessa magnitude levam mais tempo que o esperado, às vezes como uma estratégia postergação, talvez uma tentativa de minar as resistências, como já vimos em outras vezes, quando questões delicadas são decididas até de madrugada, enquanto os afetados por elas descansam, em uma vida de luta e sofrimento.

Agora, o Supremo iniciou o julgamento, mas ainda é preciso ouvir as partes envolvidas, que são os advogados e as instituições que entraram no embate. Resta aguardar esse momento e só depois teremos a votação dos 11 ministros, sabendo que a água busca seu caminho, e que de resistência e força nós sabemos.

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