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Confira o relato da assessora do ISA e especialista em Biodiversidade, Nurit Bensusan, de evento na Índia que discute o papel das mulheres na agricultura e segurança alimentar
"A Índia mudou muito...”, me diz uma companheira de viagem veterana na Índia. “Está muito diferente mesmo, muitas coisas mudaram para melhor, está mais arrumado”, completa outro experiente viajante. Eu, na minha primeira incursão ao subcontinente indiano, por mais surpreendente que pareça, tendo a concordar com eles. E isso porque, levando em conta o que li sobre a Índia e tudo que me contaram, pensei que seria um grande choque cultural. E não foi. Talvez seja porque a Índia mudou muito.
Um trem bastante razoável me conduziu de Nova Delhi à Dehradun, capital do estado de Uttarakhand, uma distância de 260 km, percorrida em cerca de seis horas, por menos de R$ 15. No trem, como no resto da Índia que vi, as pessoas preocupam-se em resolver suas questões, sem se importar muito com os outros, que, por sua vez, também não se incomodam. Se você está conversando na porta do trem, as outras pessoas esperam pacientemente a conversa acabar para poder entrar no vagão. Se você está alojando sua bagagem na prateleira do trem, impedindo todo mundo de passar, ninguém reclama, apenas aguardam você acabar para poder passar.
Uttarakhand, que quer dizer simplesmente região norte, é o mais novo estado da Índia. Foi criado em 2000, derivado de uma divisão de um dos mais poderosos estados da Índia, Uttar Pradesh. Uttarakhand é um estado de florestas, montanhas e ambientalistas. Cerca de 65% de sua área é de florestas, em grande parte protegidas por parques nacionais e santuários de vida silvestre, e 86% de seu território são cobertos por montanhas. Os ambientalistas, aparentemente estão, desde os anos 1970, por toda a região.
Saindo para o oeste de Dehradun, a 23 km da cidade, está Navdanya, uma fazenda criada pela ativista Vandana Shiva originalmente para evitar o desaparecimento da diversidade de sementes da Índia e para criar um mercado para os agricultores tradicionais. No começo do novo milênio, Navdanya se tornou também um centro de formação e educação.
Aqui acontece o encontro “Diverse women for diversity”, nos dias 2 e 3/10, com o objetivo de celebrar o papel das mulheres na conservação de variedades de plantas agrícolas e na segurança alimentar. Apesar de haver de fato muitas mulheres diversas, afinal a Índia abriga uma enorme diversidade de línguas e culturas, há poucas mulheres de fora da Índia. Além das brasileiras, há algumas poucas americanas, japonesas e alemãs. Talvez porque a sociedade indiana seja muito hierárquica, o primeiro dia do encontro foi um conjunto de palestras de umas poucas mulheres para muitas outras mulheres. Não houve sequer espaço para apresentações ou para perguntas.
Mas como nem tudo está perdido, houve muitas comidas exóticas (para mim). A tarde do primeiro dia foi destinada à preparação de pratos típicos dos locais de origem dos participantes: ou seja, comida indiana das diversas regiões da Índia, nossa moqueca de banana verde (uma exigência era que o prato fosse vegetariano) e uma espécie de sushi vegetariano dos japoneses.
Ao invés da sensação de força feminina que acho que o encontro gostaria de passar, minha impressão foi de que a luta pela manutenção de formas alternativas de viver, comer e até mesmo de se vestir está por um fio. Há promessas de discussões sobre formas de preservar conhecimentos tradicionais e agrobiodiversidade para amanhã. A ver...