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Visões de Uttarakhand, Índia: o Himalaia feminino

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Nurit Bensusan

Conheça as agricultoras que vivem no Himalaia e gostam de se vestir com cores chamativas no 6º relato da assessora do ISA e especialista em Biodiversidade Nurit Bensusan sobre sua viagem à Índia

A Índia nos obriga a atualizar todos nossos conceitos de colorido e a revisitar todas nossas prévias concepções sobre combinação de cores. O que achamos normalmente colorido é sem graça por aqui e aquela combinação entre rosa e laranja, frequentemente abominada, adquire uma beleza ímpar em terras indianas. São as cores, justamente, que saltam aos olhos aqui na parte indiana do Himalaia. As vilas multicoloridas são cercadas pelos infinitos terraços onde se cultivam os grãos. E aí, no meio desses paredões de terraços, se avista, de vez em quando, uma mancha coloridíssima: uma mulher agricultora!

“E os homens, fazem o quê?” pergunta num misto de curiosidade e indignação uma colega de jornada, após ouvir que as mulheres da vila Sheldova, no Himalaia indiano, fazem 98% do trabalho agrícola. Estamos numa jornada no norte de Uttarakhand, perto da fronteira com o Tibete (ou com a China, como alguns podem preferir), com o objetivo de conhecer estratégias de conservação de agrobiodiversidade das comunidades por aqui. Isso se traduz por entender como os agricultores (ou na verdade as agricultoras) protegem suas sementes, preservam as variedades tradicionais de plantas e mantêm suas técnicas de manejo e de cultivo.

“Os homens aram as terras e ficam demandando coisas das mulheres!” Essa foi a resposta obtida pela colega, o que, por um lado não surpreendeu, pois as mulheres são exploradas na maior parte do mundo e na maior parte do tempo, mas por outro causou surpresa, pois não estamos acostumados a ver as mulheres cuidarem de todas as tarefas da agricultura. Na verdade, os homens também assumem, em alguns casos, trabalhos temporários, como consertar estradas.

Na vila Sheldova, além da conversa com as mulheres agricultoras, houve uma exposição de sementes, uma sessão de perguntas e respostas traduzidas, uma cantoria e muita emoção. No nosso grupo, há muitas mulheres e as agricultoras de Sheldova, apesar de acharem que deveríamos ser mais coloridas, aparentemente gostaram muito do encontro entre mulheres. A despeito da dificuldade de comunicação verbal – a maioria das agricultoras fala só garhwali – foi possível entender que tudo se equilibra nessas mulheres cheias de cor.

Garhwali é um dos seis idiomas falados no estado de Uttarakhand, ao lado do hindi, do sânscrito, do kumaoni, do jaunsari e do urdu. O Garhwali é falado por 2,2 milhões de pessoas na Índia. Possui diversos dialetos locais e é uma língua exclusivamente oral. Só isso já dá uma dimensão do desafio que as coisas mais simples podem representar na Índia. Estima-se que 400 línguas são faladas no país e muitas delas são o único idioma de milhões de pessoas.

A parada seguinte da nossa jornada, no dia seguinte, foi na vila de Jagoth. Ali também as mulheres foram as donas da festa e são as que fazem todo o trabalho. Fomos convidados para um festival de comida e o que se seguiu foi, de fato, um gigantesco festival de comida. Acompanhamos a confecção dos pratos com folhas, a pilagem do arroz, a preparação de um conjunto memorável de alimentos e, por fim, comemos muito bem!

Depois das explicações sobre como se alternam os cultivos nos terraços, veio a pergunta óbvia: e as mudanças climáticas? Assim, descobrimos que montanhas que antes ficavam cobertas de neve, permanecem verdes durante todo o inverno e que vilas que atravessavam janeiro e fevereiro com um metro de neve, tem apenas uma pequena nevasca por inverno atualmente.

Resta saber o que trará mais ameaças ao sistema agrícola tradicional dessas mulheres, as mudanças climáticas ou a acelerada transformação da Índia...

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