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Morre a antropóloga Dominique Buchillet

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Aloisio Cabalzar

A antropóloga francesa, pesquisadora do Institut de Reserche pour le Développement (IRD), faleceu no dia 9 último em Brest, França, aos 67 anos. Etnógrafa dedicada e arguta, trabalhou no Alto Rio Negro por mais de 20 anos e tornou-se referência para toda uma geração de antropólogos que passaram a se dedicar àquela região. Grande parte da etnografia dos povos Tukano Orientais tinha sido feita no lado colombiano da fronteira até a década de 1980.

Dominique, inicialmente conduzida por Berta Ribeiro, foi trabalhar com os Desana de São João, no Rio Tiquié, onde desenvolveu sua pesquisa de doutorado sobre concepções de doença e terapêutica xamânica. Inaugurou assim uma onda de interesse de jovens etnógrafos brasileiros por essa região e seus povos. E não deixava de apoiar e orientar-nos com seu rigor e conhecimento, sempre atenta a todos os detalhes. Mesmo sendo mulher, enveredou no universo de conhecimentos xamânicos masculinos desses povos, sem se limitar, no entanto a esse tema. Determinada, trabalhava muito, reunia muita informação, não somente etnográfica, mas também as fontes históricas. E detestava aparecer em fotos. Tanto assim, que a única foto que temos dela é de costas, na Bretanha, tirada ano passado.

Dominique copiou a mão, arduamente, os registros de casamento das missões salesianas e os diários dessas casas, material de valor histórico singular. Foi aquela que mais contribuiu para colocar de pé os livros da coleção Narradores Indígenas do Rio Negro, editada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) com organizações indígenas locais, organizando cinco de seus oito volumes atuais. A partir de São João, Dominique também trabalhou com os Desana dos igarapés Umari (família Vaz), Cucura (com Américo e Durvalino Fernandez) e Urucu (com o BC, como se diz lá, corruptela local para Venceslau, também já falecido), e também com os Tariana de Iauareté, da família Garcia.

Ela também se dedicou aos direitos dos povos indígenas, denunciando o Projeto Calha Norte nos anos 1980 e, posteriormente, foi responsável pelo estudo antropológico que baseou o laudo técnico da Funai que levou à demarcação da Terra Indígena Alto Rio Negro em 1997, principal conquista do movimento indígena rionegrino. Foi também muito atuante no campo da antropologia médica, contribuindo com políticas adaptadas aos povos indígenas e sistematizando conhecimentos nessa área. Depois de trabalhar todo esse tempo no Rio Negro, tendo vivido vários anos no Brasil, ela foi pesquisar a medicina chinesa, e morou anos na Tailândia. De volta à França, aposentou-se há alguns anos. Entre o Rio Negro e a China, talvez agora Dominique tenha se juntado aos grandes kumua, os curadores do mundo, a quem ela tanto admirava, na Serra-Maloca do Japu.

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