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Morre Kamitai Kaiabi, grande cacique do povo Kawaiwete

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Lea Tomass e Maria Cristina Troncarelli

Na manhã do dia 16 de dezembro faleceu vítima de Covid-19 o cacique Kawaiwete Kamitai Kaiabi, da aldeia Aiporé, Território Indígena do Xingu (MT).

Órfão ainda criança, Kamita'i testemunhou o genocídio dos Kawaiwete do rio Teles Pires deflagrado com a invasão de suas terras por seringueiros vindos do Pará e apoiados pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Funcionando entre 1910 e 1967, o SPI atuou com trabalho forçado chegando a acorrentar indígenas durante a noite para que não fugissem dos barracões de seringa.

Corajoso e resiliente, o jovem Kamitai sobreviveu em meio ao abandono, violência e severas enfermidades trabalhando com a extração da seringa ainda criança. Já adolescente, decidiu se unir aos parentes da mãe e migrou para o rio Xingu em busca da proteção oferecida pelos irmãos Villas Bôas.

No tempo certo fundou a própria aldeia, teve muitos filhos, netos e bisnetos e se tornou um cacique respeitado e admirado. Sempre disposto a cuidar dos seus, deixará saudades aos que o conheceram.

Lea Tomass é antropóloga do IFPA e trabalhou com Kamitai em projetos de revitalização cultural Kawaiwete.



Hoje partiu mais um sábio do Território Indígena do Xingu (TIX) do povo Kawaiwete. Nosso querido Kamitai Kaiabi, do povo Kawaiwete. Já é a quinta pessoa que parte deste povo vítima da Covid-19.

Agradeço a ele por compartilhar seus conhecimentos, por contribuir com os alunos e os professores da escola com sua sabedoria, dispondo-se a ensinar a fazer peneira e outros tipos de artesanato de seu povo, contando histórias e participando das lutas políticas em defesa dos povos do TIX.

Muita força para a família e todos nós que o amamos.

Maria Cristina Troncarelli coordenou de 1996 a 2005 o projeto Urucum Pedra Brilhante, de formação de professores indígenas no Xingu.

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