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Xingu perde grande liderança extrativista

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ISA - Instituto Socioambiental

É com muito pesar que recebemos a notícia do falecimento de Jorge Lima, grande liderança da vila de São Sebastião, no Xingu. Jorge faleceu no dia 25, a caminho de São Félix do Xingu, em decorrência de provável reação alérgica a um medicamento indicado de forma incorreta.

Jorge nasceu no Xingu, assim como sua mãe. Seu pai, cearense, veio ainda pequeno para o Pará – primeiramente a Belém e, depois, Altamira. Com doze anos, Jorge começou a cortar seringa, acompanhando a coleta que faziam seus pais. Após alguns anos vivendo em localidades do Iriri e do Xingu, o jovem beiradeiro dedicou-se à produção de borracha, castanha e diversos outros produtos da floresta a partir do igarapé do Pontal, juntamente com diversas famílias. Sua casa, agora, era na vila de São Sebastião, que nunca mais abandonaria.

Manter essa ligação nem sempre foi fácil, e foi nessa resistência que Jorge se tornaria uma das principais lideranças dessa região do Xingu. Inicialmente ante o assédio de madeireiros e grileiros, a batalha, desde 2005, passou a ser contra a violação de direitos territoriais na esteira da criação do Parque Nacional da Serra do Pardo.

Nos últimos anos, a luta de Jorge e dos beiradeiros de São Sebastião estava em grande parte voltada a reivindicar que, além do respeito a seu território, o Estado devia à comunidade a garantia de direitos constitucionais básicos, como educação e saúde. Esse tem sido um fator adicional para a expropriação de famílias dessa comunidade tradicional, que buscam na cidade a escola para os filhos, o atendimento de saúde que lhes falta. Ante essas denúncias, note-se, a prefeitura de São Félix do Xingu tem se mostrado persistentemente omissa.

A situação do Parque sobreposta a seu território, e a pressão em todos os aspectos que isso representa, começando pela segurança territorial e passando pela dificuldade em obter direitos básicos como saúde, educação e renda, fez com que Jorge passasse, como principal liderança de sua comunidade, os últimos anos de sua vida repetindo, em todos os espaços em que foi minimamente ouvido, a seguinte ideia: “Queremos, como todos os brasileiros, direito a nosso território, a nosso modo de vida, a saúde, educação e demais direitos.
(Veja no mapa abaixo a localização da comunidade onde Jorge vivia)

A morte de Jorge causa imenso pesar a todos que o conheceram e nele reconheceram uma liderança profundamente comprometida com a luta dos beiradeiros do Xingu. Causa mais tristeza ainda que parta sem ter a certeza de que seus filhos estarão amparados por todos os direitos que lhes são previstos. É certo, porém, que sem sua luta, talvez seus netos não tivessem vindo à luz nesse exato mesmo lugar, como vieram. Jorge, presente!

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