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A constante ameaça de racionamento que ronda a Região Metropolitana de São Paulo voltou a ser matéria de jornal na semana passada. (O Estado de S. Paulo, 5/10) Este tipo de manchete se repete anualmente desde 1999 e a única solução que a Sabesp parece apontar é de buscar novas fontes de água para aumentar a produção. Enquanto isso, os níveis de desperdício continuam altíssimos e os mananciais seguem sem os devidos cuidados para garantir água em quantidade e qualidade. Está na hora de rever a estratégia, antes que seja tarde e todos fiquem sem água.
A Sabesp produz, por meio de oito sistemas, 65 mil litros de água por segundo - algo em torno de 296 litros de água por habitante por dia para abastecer quase 19 milhões de pessoas. A conta entre produção e consumo é apertada, uma vez que, segundo dados da matéria, a população consome 64 mil, ou 291 litros de água por dia. Porém, um dado não pode passar despercebido. A perda entre o que se produz e o que se consome de água é de, no mínimo, 33% - equivalente ao que Guarapiranga e Billings produzem juntas. Ou seja, é água para 6 milhões de pessoas que vai, literalmente, para o ralo.
Apesar disso, a diminuição do desperdício não é tratada como uma ação tão séria ou tão efetiva quanto construir uma nova represa. Diminuição do desperdício, entenda-se, não é pedir para a população escovar o dente com a torneira fechada, mas sim a Sabesp zelar pelos sistemas distribuidores de água, cuidar de vazamento com rapidez e agilidade e manter as redes sempre em bom estado de conservação.
Para agravar a situação, todos os sistemas produtores de água da região metropolitana, sem exceção, apresentam diminuição da sua capacidade natural de produzir água com qualidade e em quantidade adequada para atender ao consumo. Este cenário requer uma revisão urgente da forma como são tratados os mananciais. Não é possível continuar utilizando-os como se fossem fontes inesgotáveis de água, sem que as medidas de precaução e cuidado com as respectivas bacias hidrográficas sejam tomadas e valorizadas.
A Fundação O Boticário lançou na semana passada o Projeto Oásis, que prevê o pagamento a proprietários de terra que preservarem os remanescentes de Mata Atlântica no entorno das Guarapiranga, uma vez que essas áreas prestam importante serviço ambiental de produção e purificação de água. Iniciativas como esta têm grande caráter inovador e devem ser encaradas como oportunidades para uma nova forma de cuidar da água que bebemos.
Infelizmente, essa não é uma solução apresentada pela Sabesp, nem pelo governo. A única solução para resolver a ameaça de racionamento - que existe por causa do desperdício e descaso com os mananciais é fazer novas obras e construir adutoras e represas. A solução deveria começar pela valorização do serviço prestado pelas áreas de mananciais e pela revisão dos padrões de desperdício na prestação do serviço.