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Xinguanos repudiam encontro de agricultura indígena proposto por ruralista

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Isabel Harari

Associação Terra Indígena do Xingu (Atix) publica carta contra o “Encontro Nacional de Agricultura Indígena”, idealizado pelo presidente da bancada ruralista, deputado Nilson Leitão (PSDB/MT)

Na última segunda feira (9), a Associação Terra Indígena do Xingu (Atix) se manifestou publicamente contra o “Encontro Nacional de Agricultura Indígena”, requerido pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado federal Nilson Leitão (PSDB/MT). O encontro, que acontecerá no dia 18 de outubro em Brasília, tem como pauta "debater a produção agrícola indígena”.

Os xinguanos alegam que os ruralistas não estão dispostos a apoiar as iniciativas de agricultura e que o objetivo do encontro é legitimar as propostas do agronegócio e setor minerário nas Terras Indígenas. “Se esses deputados estivessem realmente interessados em ajudar os índios, buscariam recursos para apoiar as atividades econômicas que nós já realizamos, como o Mel dos Índios do Xingu, as pimentas secas e moídas e o óleo de pequi”, diz um trecho da carta. Leia na íntegra.

Wareaiup Kawaiwete, secretário executivo da Atix, alerta que o convite, feito sem consulta aos xinguanos, atropela o Protocolo de Consulta do Território Indígena do Xingu. “Não vamos aceitar participar de um evento sem que todos entendam do que se trata. Temos um Protocolo e exigimos que seja respeitado”, comenta. O documento foi lançado por eles no final do ano passado e detalha de que forma os indígenas devem ser consultados sobre qualquer projeto ou iniciativa que os afetem. Veja aqui o Protocolo de Consulta dos Povos do Território Indígena do Xingu.



No texto, a Atix também questiona a legitimidade do proponente, Nilson Leitão. O deputado presidiu a comissão especial da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que tem como objetivo principal alterar os procedimentos de demarcação de TIs, criação de Unidades de Conservação e titulação de Territórios Quilombolas. Leitão também é presidente da comissão que analisa o Projeto de Lei 1610/96, que pretende liberar as TIs para a exploração mineral, e é investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de incentivar fazendeiros a invadirem a TI Marãiwatsédé, dos Xavante. Saiba mais.

“Os ruralistas estão de olho nas Terras Indígenas, para usar e desmatar. Eles querem fazer um evento pra colocar isso na cabeça de nossos representantes, mas não vamos deixar. Estamos unidos e organizados”, finaliza Wareaiup.

A Atix faz coro à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) que também se manifestou contra a realização do Encontro. Leia a nota da Apib.

A Associação Terra Indígena do Xingu

Fundada em 1995, a Associação Terra Indígena Xingu (Atix) representa os 16 povos indígenas que vivem no Território indígena do Xingu: Aweti, Ikpeng, Kalapalo, Kamaiurá, Kawaiwete, Kisêdjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Tapayuna, Trumai, Waurá, Yawalapiti e Yudja. Ao longo de sua história, a Atix assumiu o desafio da construção da autonomia multiétnica na gestão do território xinguano. Desde quando foi criada, a associação tem buscado trabalhar questões de interesse comum aos diferentes povos do Xingu.

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