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Representantes da Rede participaram da cobertura da Feira de Energia & Comunidades, de roda de conversa com a equipe do Profissão Repórter, entre outras atividades
A Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro acaba de concluir duas semanas de articulações na capital. O grupo é composto por 17 indígenas de oito etnias, a maioria moradores de São Gabriel da Cachoeira (AM), distante 850 km de Manaus. Três representantes participaram de eventos e encontros com o objetivo de trocar experiências, fazer novas parcerias e articulações estratégicas para o fortalecimento do trabalho da Rede e do movimento indígena do Rio Negro, que representa 23 povos da Amazônia.
O primeiro encontro dos comunicadores indígenas ocorreu no escritório de Manaus do Instituto Socioambiental (ISA), com equipe do programa da TV Globo, Profissão Repórter. Os comunicadores indígenas Claudia Ferraz, do povo Wanano, e Moisés da Silva, Baniwa participaram de uma roda de conversa sobre novos olhares e narrativas para a reportagem, usando técnicas de documentário e novas linguagens. Dois comunicadores de Manaus, Claudia Baré e Joilson Paulino, do povo Karapanã, do bairro Parque das Tribos, em Manaus, também participaram do encontro. No bairro moram indígenas de mais de 30 etnias que hoje lutam pela regularização fundiária na capital. Também estiveram presentes na conversa o comunicador espanhol, Ignácio Amigo, da organização Climate Tracker, que estimula a formação de uma rede de comunicadores em todo o mundo para escrever sobre mudanças climáticas, e a jornalista do Programa Rio Negro do ISA, Juliana Radler.
A partir desse encontro com o Profissão Repórter, os comunicadores indígenas do Rio Negro foram convidados a enviar um vídeo reportagem de até 5 minutos para o programa. Caso seja selecionado, os comunicadores terão a oportunidade de fazer uma imersão de uma semana na redação do Profissão Repórter e serem acompanhados pelo jornalista Caco Barcelos. Na roda de conversa em Manaus, estavam presentes o editor do programa, Caio Cavechini, e a repórter, Eliane Scardovelli, além da jornalista Milana Bernartt, da Globo Universidade/Globo Lab. “Foi uma oportunidade boa poder trocar experiências com os jornalistas e ver como eles também se interessaram pelo nosso trabalho no Rio Negro”, comentou Claudia Wanano, que é locutora do podcast Wayuri, produzido quinzenalmente pela Rede de Comunicadores.
Na sequência, os comunicadores fizeram visitas ao Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, onde gravaram reportagem que será veiculada em breve no blog da Rede, que será lançado no próximo mês de maio. O Centro de Medicina é um espaço dedicado ao tratamento terapêutico feito por pajés e benzedores que detém conhecimentos especializados próprios dos povos do Alto Rio Negro, em pleno centro de Manaus. “É um espaço de resistência e de valorização do nosso conhecimento, cultura e sistema tradicional de cura”, ressaltou o comunicador Moisés Baniwa.
No Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA), os comunicadores tiveram a chance de conhecer o bosque da Ciência e visitar a obra do Museu da Floresta, a ser inaugurado esse ano e que conta com investimentos da Universidade de Kyoto, no Japão. A visita foi acompanhada por dois alunos japoneses de mestrado e doutorado do INPA, e pela pesquisadora e professora Noemia Kazue Ishikawa, uma das maiores especialistas em fungos e cogumelos do Brasil. Claudia Wanano fez uma reportagem que em breve será veiculada nos canais da Rede de Comunicadores e do movimento indígena do Rio Negro e contou com a participação do Agente Indígena de Manejo Ambiental (AIMA), Vilmar Tukano, que mora na Terra Indígena Alto Rio Negro, em São Gabriel. Noêmia convidou os comunicadores a permanecerem em contato com as pesquisas realizadas pelo Instituto, assim como aprofundarem seus conhecimentos realizando novas visitas e entrevistas com os principais pesquisadores do INPA, referência mundial em pesquisas sobre a Amazônia.
A construção de alianças e parcerias também foi um foco desses encontros em Manaus. Por isso, os comunicadores reuniram-se na Unicef com a coordenadora dos programas da Unicef para a Amazônia, Joana Fontoura, que em 2018 esteve em São Gabriel acompanhando o primeiro encontro da Rede. “Temos muita estima pela temática indígena e São Gabriel, por ser o município mais indígena do Brasil, é muito especial para a Unicef”, ressaltou Joana, que vem apoiando o trabalho da Rede e da juventude indígena do Rio Negro. Dois comunicadores da Rede irão cobrir o ATL 2019 (Acampamento Terra Livre) com apoio da Unicef, quando produzirão um vídeo com vozes de jovens indígenas de todo o Brasil sobre suas principais lutas e desafios.
Nas conversas com os veículos de comunicação, os comunicadores do Rio Negro receberam convites para participar de workshops e produzirem notícias de suas terras indígenas para serem veiculadas na capital. No caso da Amazônia Real, as jornalistas Elaíze Farias e Kátia Brasil, coordenadoras da Agência, convidaram Claudia Wanano para dar oficina de podcast para outros jovens indígenas na capital, valorizando o trabalho pioneiro que vem sendo feito no Rio Negro pelos jovens comunicadores. “Já estamos trabalhando com comunicadores indígenas e queremos estimular a produção de matérias feitas pelos povos indígenas para que eles próprios contem as suas histórias”, frisou a jornalista Elaíze Farias. A Amazônia Real deixou as portas abertas para que os comunicadores do Rio Negro enviem suas sugestões de pauta e passem a colaborar com o portal, que é referência em jornalismo independente na Amazônia e recentemente ganhou o prêmio Rei da Espanha de jornalismo, dado pela agência de notícias EFE.
Já na Cidade das Comunicações, onde ficam emissoras de TV (TV A Crítica e TV Record AM), redação de jornais (A Crítica e Manaus Hoje) e estúdios de rádio (Jovem Pam e FM O Dia) do Grupo A Crítica, maior conglomerado de comunicação da região Norte do Brasil, os comunicadores foram recebidos por apresentadores, diretores de redação e coordenadores de conteúdo. Todos frisaram que o grupo valoriza a produção de conteúdo local, que é hoje responsável pelas maiores audiências dos canais de TV, como o programa “Alô Amazonas”, que alcança cerca de 20 pontos de audiência no Ibope (cada ponto representa 19.680 pessoas).
O atual governador do estado do Amazonas, Wilson Lima, era apresentador do canal A Crítica e deixou os estúdios dessa emissora para assumir o Governo do Estado. Os comunicadores puderam conhecer como funcionam as redações e estúdios da grande mídia, assim como conversar com os mais conhecidos influenciadores da mídia amazonense, como a apresentadora Natália Nascimento. “Conhecer como funciona a mídia na capital é importante para a gente ver como o conteúdo local, produzido por nós que somos da Amazônia mesmo, é valorizado. Queremos agora que nós indígenas também tenhamos mais espaço com as nossas próprias histórias”, ressaltou Claudia Wanano, sobre a visita ao grupo A Crítica.
A Rede de Comunicadores Indígenas esteve presente na I Feira e Simpósio Energia & Comunidades, que foi realizada em Manaus entre os dias 25 e 28 de março, com o intuito de estimular o uso de energias limpas em comunidades na Amazônia, sobretudo povos tradicionais, como indígenas, ribeirinhos e quilombolas. O evento contou com uma feira de negócios com empresas do setor de soluções energéticas renováveis, assim como institutos de pesquisa, órgãos governamentais e não governamentais. A equipe de três comunicadores indígenas produziu quatro vídeos, sendo três deles nas línguas indígenas co-oficiais em São Gabriel, Baniwa, Tukano e Nheengatu. Assista aos vídeos.
Esse foi o segundo grande evento que os comunicadores da Rede cobriram fora do Alto Rio Negro. O primeiro foi o ATL de 2018, quando um grupo foi a Brasília e produziu diariamente o boletim Vozes do ATL, que divulgava informações sobre a mobilização e as pautas principais do Acampamento. A experiência de cobrir um grande evento e divulgar notícias com as suas próprias narrativas e línguas para os seus povos é fundamental para que a diversidade cultural seja de fato valorizada. A pauta de geração de energia limpa e sustentável no Rio Negro é prioritária, já que quase a totalidade das cerca de 750 comunidades indígenas da região dependem de geradores movidos a diesel ou gasolina, que são poluentes, barulhentos e custosos para as comunidades. “Cobrir a Feira de Energia nos despertou para um tema fundamental para a nossa região e que precisamos de fato colocar esforços para termos um novo modelo de geração de energia no Alto Rio Negro”, concluiu Ray Baniwa, comunicador da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).