Você está na versão anterior do website do ISA

Atenção

Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.

Davi Yanomami apoia protestos que tomam conta do País e incentiva união de índios e brancos

Esta notícia está associada ao Programa: 
Em 18 de junho passado, o líder yanomami Davi Kopenawa gravou um vídeo no qual dá seu apoio aos protestos que tomaram conta do Brasil nas últimas semanas e fala da união entre índios e não índios
Printer-friendly version


Presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e uma das mais expressivas lideranças indígenas do pais, Davi Kopenawa deu o depoimento na sede da Hutukara Associação Yanomami em Boa Vista/RR. Veja os principais trechos do seu depoimento.

"Os brancos estão mostrando o que não está bom. Essa coisa é muito triste mas eu não estou triste, eu estou revoltado. Eu estou revoltado com o erro do governo. As autoridades do Brasil não estão interessadas em nós povos indígenas ficarmos em paz e não estão também, querendo ajudar o povo da cidade. Para nós povos indígenas é uma tristeza, elas estão repetindo como aconteceu 40 anos passados (...). A história não sai da cabeça da gente, a história fica na memória, então a gente fica sempre lembrando.

E as notícias aparecem na televisão, mostrando aonde nós nunca andamos (...). Nós estamos sabendo, nós estamos vendo essa briga da cidade, muita gente, exército também jogando bomba pra espantar... espantar como porco nós que lutamos, que lutamos pelo nosso direito. Então acho que nosso exercito não está nos respeitando, eu queria que respeitasse.

Eu queria que o jovem “não-índio” também acreditasse, tem que também ficar amigo da gente, tem que respeitar... nós pequenininhos vamos respeitar pra se aproximar, pra fazer união, pra unir o branco junto com os índios, os pajés, para lutar contra a cobra-grande, a cobra grande de barriga cheia e olho grande que tá querendo engolir todo mundo (...).

Quando eu cresci eu vi uma floresta limpa, uma floresta bonita, cheia de vento, respirar bem. Eu vivia bem quando era pequeno, mas agora eu estou muito preocupado. Eu não estou preocupado de medo não, eu estou preocupado EM como é que o governo da cidade pode estar fazendo isso... essa coisa é feia! essa coisa não presta! isso ai é antigo, não poderia continuar a fazer isso.

Meus amigos da cidade (...) eu queria que você ficassem ao meu lado. Mas eu não to pedindo para vocês me elegerem, eu quero a força de vocês. Vamos lutar juntos. Nós somos filhos daqui, vocês nasceram aqui no Brasil, vocês cresceram aqui no Brasil, então nós somos brasileiros. (...) Então, meus amigos não índios, vamos lutar juntos até o fim, porque aqui é a nossa terra, aqui que nós nascemos, nós estamos lutando para sobreviver com saúde e paz (...).

Nós procuramos nosso caminho pra trabalhar, pra poder sustentar nossos filhos, sustentar nossa mulher, cuidar nossa casa, mas “a gente grande”, uma pessoa grande que é o dono do dinheiro, não está querendo.

Eu estou muito revoltado com os deputados, os senadores, eles estão querendo acabar com a gente, eles estão querendo acabar com a nossa terra, desmatar, derrubar as árvores, sujar o rio, explorar nossa terra, explorar nossas riquezas, mandar pra outro pais. Nesse ponto que eu to muito hixiu, to com muita raiva, porque o homem não-índio, ele não quer respeitar nossa própria terra-planeta.

O “branco” fala: é patrimônio da terra. Mas ele não está respeitando, e nós respeitamos, vocês também respeitam, mas o capitalista, deputado, senador, não quer respeitar não (...). E é isso que eu queria falar. Eu queria falar o meu mundo, a natureza. A natureza... ela está comigo aqui, ela está escutando, ela está vendo o erro das autoridades do pais. Não poderiam fazer isso, deveriam respeitar o nosso pais, tem que respeitar nossos povos da cidade, os povos das comunidades, respeitar o nosso direito do povo indígena brasileiro (...).

Nós povos indígenas, não viemos atravessando no mar, não viemos caminhando pra chegar até aqui. Nós somos daqui, nós, meu povo Yanomami, meu povo indígena do Brasil, nascemos aqui nessa terra. É por isso que nós chamamos ‘a mãe terra’. É por isso que nós nunca destruímos, nunca ameaçamos nosso patrimônio da terra.

Então eu queria terminar aqui. Essa minha mensagem vai pra longe. Eu queria que vocês também acreditassem. Quem não me conhece, agora vai me conhecer. Então eu estou junto com vocês. (...) O meu sonho, o meu trabalho, o meu papel que eu defendo, se chama Hutukara Associação Yanomami. Hutukara significa o mundo, então nós vamos cuidar do nosso mundo, nós vamos cuidar do nosso pais, porque é nosso país. Não poderia continuar assim."

Veja o depoimento na íntegra.

Instituto Socioambiental
ISA
Imagens: