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Navegação difícil, marimbondos e formigas marcam o segundo dia de expedição

Programa: 
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Moreno Saraiva Martins e Estevão Benfica Senra

Leia o relato de Moreno Saraiva Martins e Estevão Benfica Senra do segundo dia de expedição, confira o mapa e clique para ampliá-lo.

20 de setembro de 2013 - segundo dia da expedição


Moreno: “O cheiro azedo da serragem no barco, vinda da moto-serra no final do dia marca minha percepção. A navegação pelo igarapé Ingarana foi difícil, pois é pequeno e raramente utilizado para a navegação. Por isso é cheio de grandes árvores e galhadas tombadas. Além do tempo que gastamos para atravessar esses obstáculos, eles são abrigo para formigas e marimbondos, com os quais temos que lidar, não sem um grande desconforto.

Acordamos com o sol nascendo no acampamento. A equipe da Funai e os policiais, em grande algazarra, arrumaram seus apetrechos e logo partiram. Continuaram subindo o Rio Apiaú, rumo à região de garimpo, próxima à fronteira com a Venezuela, e também dentro do território dos Moxihatetea, índios isolados que vivem na TI Yanomami. Aliás, essa região onde estamos agora também faz parte do território de caça deles.

Assim que a equipe da Funai saiu, começamos os preparativos para partir. Em primeiro lugar juntamos a nossa equipe para conversar sobre a expedição. Abrimos os mapas que fizemos com os trajetos que devemos percorrer e passamos os olhos por todos os trechos. O objetivo desse trecho é subir o Igarapé Ingarana desde a sua foz no rio Apiaú, rumo ao sul, até onde se inicia uma linha seca, e segui-la até o seu fim.

Feito isso, arrumamos os equipamentos e a alimentação para nossa equipe de sete pessoas. Do ISA somos eu, Estêvão, que é geógrafo, e Júlio Davi, Ye’kuana que é estagiário do ISA e aluno do curso de gestão territorial da Universidade Federal de Roraima. Da Hutukara veio Armindo Goés, Yanomami da região de Maturacá, que recentemente se tornou coordenador de Gestão Territorial da HAY. E mais três Yanomami: Miguel, aqui da região do Apiaú, Luciano, da região do Ajarani e que recentemente se casou com uma Yanomami da região do Apiaú e Ivan Xirixana, Yanomami morador da calha do Rio Mucajai, região do Uxiu.

Estevão
: "O Ingarana possui lugares especialmente belos, com árvores altas e cortinas de cipó que descem até o espelho d’água. Às vezes para compor a paisagem emergem também pedrais de cor escura em suas margens.

Moreno: “Às 14h paramos para fazer um lanche, de sardinha com farinha, e às 17h paramos para armar acampamento. Logo que conseguimos montar a lona, escureceu. Ivan e Luciano ficaram responsáveis pelo jantar: arroz com calabresa. Acho que um dos piores reveses do trabalho de campo é ter que comer seguidamente carne em conserva, como calabresa, sardinha ou charque. Por outro lado, é comum comermos carne de caça ou peixe fresco, que muito compensa essa dieta de enlatados e embutidos. Mas sei que quando volto para a cidade não consigo nem ouvir falar em sardinha ou calabresa".

"Apesar do dia de muito trabalho a equipe ficou tranquila, e durante o percurso as pessoas foram se conhecendo e se entrosando. O trabalho, apesar de ser cansativo para todos, é compensado em parte pela incrível habilidade que os Yanomami (e o Ye’kuana) que nos acompanham têm em realizar atividades na floresta: cortar árvores, navegar pelo leito estreito de um igarapé, acender fogo, armar lonas para o acampamento, fazer o cabo para um machado, são coisas que um não indígena em geral teria imensa dificuldade para realizar. Não deixo de me surpreender pela facilidade com que os Yanomami executam tais atividades, e muitas vezes utilizando materiais conseguidos no momento, retirados da floresta”.


Estevão:
“Para nos localizarmos durante a expedição colocamos no GPS os limites da Terra Indígena e alguns pontos de referência sobre esta linha. Porém, ao longo do caminho verificamos algumas importantes distorções na posição destes marcos, sobretudo, nos trechos em que o limite coincide com seus rios e igarapés. E, devido a estas distorções, neste exato momento temos dúvidas se, sobre o ponto em que estamos - se o Ingarana continua sendo o limite da TI ou não, pois segundo o GPS, neste momento, estamos a uma distância significativa do limite".

A série de expedições ao limite leste da TI Yanomami, iniciada em outubro do ano passado, e integrada pela Funai (Fundação Nacional do Índio), HAY (Hutukara Associação Yanomami), e ISA e agora pela Polícia Ambiental e pelo Bope tem o apoio da Fundação Rainforest da Noruega.

Para saber mais

Próximo relato (21 de setembro de 2013) > Grupo encontra acampamento abandonado e vestígios de passagem de pessoas

Relato anterior (19 de setembro de 2013) Expedição Rio dos Veados registra as pressões na fronteira leste da TI Yanomami

Linha do tempo da viagem com galeria de fotos e outras informações > http://isa.to/1ag7MYF