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23 de setembro de 2013 – quinto dia
Moreno: “Parece que quanto mais nos afastamos das comunidades menos ariscos os animais ficam. Hoje avistamos bem perto da gente um mutum, um bando de jacamins e dois jacus. Infelizmente Ivan errou dois tiros no mutum, mas Miguel acertou um dos jacus, o nosso jantar. Temos andado ´nesses últimos três dias até aproximadamente a hora do almoço, quando paramos para fazer um lanche rápido, em geral xibé (farinha hidratada na água).
Começamos a caminhada um pouco mais cedo, às 8h30, e paramos perto das 15h, mas andamos um pouco menos do que o dia anterior, por dois motivos: Estêvão cortou o pé ontem à noite e teve que andar um pouco mais devagar. Outro motivo foi um rio que cruzou o nosso caminho, e acabamos demorando quase uma hora fazendo uma ponte para atravessá-lo, com árvores cortadas” .
Estevão:”Hoje reencontramos o Ingarana, que margeava uma das serras que cruza a linha seca.Para atravessá-lo tentamos improvisar uma ponte, que no fim das contas não nos poupou de molhar os pés. Aliás, esta foi a tônica do dia: botas e meias molhadas. Se ontem a caminhada já foi desgastante, a de hoje, pelo menos para mim com um corte no pé, foi ainda mais exigente. Meus pés estão deploráveis, e dificilmente vou conseguir acompanhar os demais amanhã. Faltam apenas 3,5 Km, e, por isso, a estratégia deve ser ir e voltar no mesmo dia, sem o peso da bagagem e, provavelmente sem o estorvo de um homem ferido”.
Moreno: “Júlio Ye'kuana continua desde o início puxando a nossa caminhada. Ele aprendeu bem a usar o GPS, e vai na frente com um facão em uma mão e o aparelho em outra, seguindo a linha seca. Ele é sempre acompanhado por Ivan e Luciano, que vão abrindo mais o caminho. Atrás dos três vamos eu e Estêvão. E por último Armindo e Miguel. Essa ordem se mantém quase sempre, e é interessante para mim e para Estêvão porque sempre temos gente em nossa frente e atrás. É muito notável a dificuldade que nós não-indígenas temos em andar na floresta, seguindo um trilha. Diversas vezes perdemos a picada que os três da frente vão abrindo e temos que esperar os que vem atrás para nos guiar. (A tecnologia yanomami é elegantemente minimalista)
Mais uma vez montamos acampamento e ficamos tratando das feridas do dia e tirando os carrapatos, que acho que estão sendo o maior desconforto para todos. São pontinhos vermelhos quase invisíveis a olho nu e que provocam uma coceira intensa onde eles sugam sangue. Além disso, é muito difícil retirá-los dali, e mesmo depois que saem, o local da picada continua coçando muito”.
A série de expedições ao limite leste da TI Yanomami, iniciada em outubro do ano passado, e integrada pela Funai (Fundação Nacional do Índio), HAY (Hutukara Associação Yanomami), e ISA e agora pela Polícia Ambiental e pelo Bope tem o apoio da Fundação Rainforest da Noruega.
Próximo relato (24 de setembro de 2013) > No final da primeiro trecho, ataque de queixadas e ruído incomum causam apreensão
Relato anterior (22 de setembro de 2013) > Bosques, árvores gigantescas, nascentes e igarapés tornam a caminhada menos dura
Linha do tempo da viagem com galeria de fotos e outras informações > http://isa.to/1ag7MYF