Você está na versão anterior do website do ISA

Atenção

Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.

ISA comemora 20 anos e relança mote Amansa Brasil

Printer-friendly version

A propósito das comemorações dos seus vinte anos esta semana, o ISA relança o mote Amansa Brasil com o qual marcou seus dez anos de existência, em 2004, e que continua bastante atual. Em editorial reproduzido abaixo, o ISA convoca a sociedade brasileira a repensar e refletir sobre os rumos do crescimento econômico e a qualquer custo, que continua a guiar os planos econômicos e os sonhos de grandeza nacional. Propõe ainda uma reflexão sobre padrões insustentáveis de produção, consumo e distribuição de energia entre outros itens e recoloca em cena o desafio de se promover uma nova síntese: a sustentabilidade socioambiental. Leia o texto que explica o significado do mote Amansa Brasil.

AMANSA BRASIL convite a uma colaboração

O Instituto Socioambiental (ISA), a propósito da comemoração dos seus dez anos em 2004, vem convidar toda a sociedade brasileira a refletir sobre si mesma e sobre o estado de sua casa - que é o nosso país, o pedaço que nos coube do planeta. Entendemos que é imperativo repensar os caminhos pelos quais vamos enveredando na ânsia de encontrar uma solução para as gigantescas dificuldades econômicas e sociais em que estamos mergulhados. Esses caminhos nos conduzem a uma forte aceleração do ritmo, já perigosamente rápido, de destruição irreversível de um dos componentes básicos de nossa identidade como nação: nossa diversidade socioambiental. Diante disso, pensamos que é urgente decidir, agora, que vida desejamos para nós e, sobretudo, para nossos filhos, qual país queremos deixar para eles. Estamos convictos de que é urgente, não "parar para pensar", mas pensar para não parar; é urgente começar a pensar bem para não parar de vez.

O Brasil é grande, mas o mundo é pequeno. A Terra não vai nada bem, neste começo de século. Há hoje uma insustentabilidade aguda dos padrões globais de produção, distribuição e consumo da energia necessária à vida humana. Nosso país é um dos poucos que ainda têm viabilidade do ponto de vista de sua base de recursos. O Brasil ostenta uma das populações histórica e culturalmente mais diversificadas do mundo: 220 povos indígenas, uma imensidão de descendentes de africanos, de imigrantes europeus e asiáticos, de árabes, de judeus; são caiçaras, caboclos ribeirinhos, camponeses extrativistas, pequenos fazendeiros, colonos; em suma, gentes rurais e urbanas das mais diferentes origens étnicas e culturais, habitando uma variedade de formações naturais — cerrado, pantanal, caatinga, campos e os mais de 3,5 milhões de quilômetros quadrados de florestas tropicais, na Amazônia e na Mata Atlântica — que, por sua vez, abrigam a mais rica biodiversidade do planeta. Sociodiversidade e biodiversidade deveriam ser nossos principais trunfos em um mundo em acelerado processo de globalização. Mas eis-nos aqui, ainda e sempre, teimando em serrar o galho em que estamos sentados, com uma política de comércio exterior e sustentação da dívida que vem aplicando um modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório, economicamente concentrador, socialmente empobrecedor e culturalmente alienante. Devastamos mais da metade de nosso país acreditando que era preciso deixar a natureza para entrar na história; pois eis agora que esta última, com sua costumeira predileção pela ironia, exige-nos como passaporte justamente a natureza.

Hoje, nós do ISA ainda temos que advertir que “socioambiental” se escreve junto; mas esperamos ver o dia em que esta palavra seja considerada um pleonasmo: se é social, só pode ser ambiental. Pois não existe uma “dimensão ambiental” do crescimento econômico, do desenvolvimento social, do progresso em geral: ambiente é o nome da coisa toda, do problema inteiro. O ambiente não é uma atração turística, um detalhe pitoresco, uma alegoria de carnaval. Ambiente não existe só aos domingos, nem é luxo de rico. Ambiente é uma questão de saúde pública e de justiça social, não só para os que vivem hoje, mas para as gerações futuras. Uma questão de economia, enfim, no sentido próprio e nobre do conceito. Ambiente, recordemos, é apenas uma outra palavra para condições de existência.

O equívoco de se separar social de ambiental se torna ainda mais grave quando se imagina — como se imagina tão frequentemente — que só podemos nos desenvolver pagando algum preço ambiental, isto é, estragando alguma coisa. Isso não é verdade. Não se faz omelete sem quebrar os ovos, diz-se — pode ser, mas também não se faz omelete quebrando todos os ovos e matando as galinhas. Ou o desenvolvimento é sustentável, ou não é desenvolvimento. O “preço” que temos de pagar é o de melhorar o ambiente, aprender a evoluir em sintonia com ele, pois não há verdadeiro avanço da civilização que não seja ao mesmo tempo um melhoramento das condições ambientais propícias a nossa espécie.

Em suma, é preciso fazer uma revisão drástica do paradigma do crescimento indefinido e a qualquer custo, que continua guiando nossos planos econômicos e nossos sonhos de grandeza nacional. Por isso o mote deste manifesto: Amansa Brasil. Apegados a uma concepção linear e cumulativa de história, herdeira de um pensamento europeu velho de séculos, ainda não acordamos para a constatação de que a miséria, a fome e a injustiça não são o fruto do caráter ainda parcial e incompleto da marcha do progresso, mas seus produtos necessários, que continuarão crescendo mais e mais enquanto a marcha prosseguir no rumo em que vai. A saída não pode ser por aí, e cabe a nós acharmos outra. Pois o futuro nos desafia a uma nova síntese: a sustentabilidade socioambiental. Esse é o espetáculo que queremos mostrar para nossos filhos.