Você está na versão anterior do website do ISA

Atenção

Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.

Assembleia Ye’kwana debate garimpo ilegal e fortalecimento das associações indígenas

Printer-friendly version
Majoi Gongora, de Roraima, especial para o ISA

Os Ye’kwana elegem nova diretoria para sua associação (Apyb), reunindo lideranças que hoje são vistas como a ponta da flecha que se volta contra as ameaças aos povos da Terra Indígena Yanomami- o garimpo ilegal que ainda persiste na área e o descaso das instituições governamentais com a educação e a saúde diferenciada.

A quarta assembleia da Associação do Povo Ye’kwana do Brasil (Apyb) foi realizada entre 18 e 22 de junho na comunidade de Kuratanha, localizada na região de Auaris, na porção noroeste da TI Yanomami. O tema central foi ‘Fortalecimento das Políticas Públicas nas Comunidades e d’as Tradições Culturais do Povo Ye’kwana’ e reuniu cerca de 100 pessoas nas discussões que giraram em torno de pressões e ameaças à Terra Indígena Yanonami, como o garimpo ilegal. Também a educação e saúde diferenciadas nas comunidades indígenas estiveram em pauta.

A invasão garimpeira nessa região é grave e as lideranças que subiram o Rio Uraricoera de barco rumo a Auaris para participar da assembleia, avistaram cerca de 20 balsas de garimpeiros no percurso entre a Cachoeira do Macaco e a Cachoeira de Uafaranda. Além disso, cruzaram com três barcos cheios de equipamentos e garimpeiros que rumavam em direção ao Uraricoera. Também identificaram uma nova pista de pouso ilegal em área acima da cachoeira Uafaranda, distante três horas (de barco) da comunidade de Kuratanha, onde o encontro foi realizado. A notícia da proximidade dos garimpeiros deixou todos em alerta. A base estratégica às margens do Rio Uraricoera, montada pela Funai às margens do Rio Uraricoera, inaugurada no fim de março deste ano, não foi ativada ainda.

A presença contínua de garimpeiros ilegais no Rio Uraricoera é antiga e continua a ser uma das ameaças enfrentadas pelos Ye’kwana e Yanomami. A comunidade de Waikás, situada na margem esquerda do Uraricoera, foi palco décadas atrás de uma gigantesca invasão de garimpeiros e até hoje sofre assédio.

Além das lideranças ye’kwana e sanöma, a assembleia contou com a participação de Alberto Brazão Góes, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena), de Armindo Góes, primeiro secretário da Hutukara Associação Yanomami (HAY), e Mauricio Tomé Rocha, vice-presidente da HAY e representante da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami Ye’kwana (FPEYY), além de um do coordenadores do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (DSEI-YY), José Luciano de Almeida.

A assembleia procurou refletir sobre o papel da Apyb, fundada em 2007, no fortalecimento da luta dos povos indígenas de Roraima pela defesa de seus direitos e seus territórios. Um dos aspectos mais destacados foi a necessidade de trabalhar em parceria com as demais organizações indígenas e não indígenas de Roraima como a HAY – Hutukara Associação Yanomami, a Associação Yanomami do Rio Cauburis e Afluentes (Ayrca), a Tixori Associação Xirixana e a recém criada Associação Kurikama, dos Yanomami do Rio Marauiá e Rio Preto.

Esse trabalho conjunto é fundamental para garantir a integridade da Terra Indígena Yanomami e de suas populações: do lado brasileiro são cerca de 500 ye’kwana e do lado venezuelano, 7 mil. Os presentes também relataram a degradação e a poluição de rios que formam a Bacia do Caura (Venezuela) e a contaminação dos peixes por causa do mercúrio usado nos garimpos.

A assembleia discutiu ainda a educação escolar indígena nas comunidades ye’kwana e sanöma e a falta de apoio básico, como envio de material escolar e didático e merenda, além do acompanhamento pedagógico das escolas. Estas sobrevivem da iniciativa e da força de vontade dos professores e lideranças indígenas, que muitas vezes arcam com grandes despesas, como transporte aéreo de material e merenda. O difícil acesso às comunidades –somente por via aérea – e o descaso das instituições responsáveis deixam as escolas indígenas desassistidas. Assim também estão os jovens estudantes ye’kwana dos cursos de graduação do Insikiran-UFRR que muitas vezes não conseguem ir para a cidade porque não têm apoio para o transporte.

Desde o ano passado os Ye’kwana aguardam a aprovação do Projeto Político Pedagógico (PPP), criado de forma unificada para as suas três escolas estaduais: Apolinário Gimenes, Waikás e Mötaaku. Apesar da falta de melhorias na educação, as comunidades indígenas articuladas com outras instituições governamentais e não governamentais procuram alternativas para criar subsídios para suas escolas.

É o caso do programa “Saberes Indígenas na Escola” da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi-MEC), voltado à produção de material em língua indígena, coordenada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que tem o ISA como parceiro. No mês de junho foram realizadas oficinas na região de Auaris, uma na comunidade de Fuduuwaaduinha, com os professores ye’kwana, e outra com os professores sanöma (subgrupo yanomami).

O atendimento à saúde indígena na TI Yanomami, particularmente no pólo base de Auaris e nos sub-pólos que atendem às comunidades ye’kwana e sanöma, foi debatido pelos participantes, que apontaram problemas que são recorrentes como a falta de medicamentos, de equipamentos e de materiais básicos como maca, estetoscópio, nebulizador, balança etc.; número insuficiente de profissionais; infraestrutura precária das construções onde o atendimento é feito; descompromisso com a capacitação e formação continuada dos agentes indígenas de saúde (AIS), demanda antiga que não tem sido priorizada pelo DSEY. A situação das comunidades ye’kwana e sanöma situadas no limite da fronteira Brasil-Venezuela, é ainda mais difícil. Por estarem em locais remotos e de difícil acesso não são assistidas pelo governo venezuelano, nem em emergências.

A Casa do Índio (Casai) em Boa Vista também foi alvo de críticas e preocupam a falta de intérpretes ye’kwana para acompanhar os pacientes nas consultas e exames médicos, a falta de controle com relação ao consumo de álcool nas dependências da Casai e a superlotação. José Luciano de Almeida, do DSEI, explicou que o distrito está sendo reorganizado e que isso levará algum tempo. Ele se comprometeu a levar as reivindicações à coordenação coordenação.

Ao final, foi eleita a nova diretoria tendo Reinaldo Wadeyuna Luiz Rocha na presidência, Natalino Awaajisha João Rocha na vice, Bernaldo Estevão da Silva como 1º secretário, Josemar Rocha Paulino, como 2º secretário, Matias Lourenço Rodrigues como 1º tesoureiro e Robivaldo Magalhães Gimenes, como 2º tesoureiro; O conselho fiscal da associação ficará a cargo de Xavier Francisco Ximenes, Felipe Albertino Gimenes e Marco Rodrigues.