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Pimenta Baniwa se apresenta no MAD Food, em Copenhague

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A capital dinamarquesa recebeu nos dias 24 e 25 de agosto, a quarta edição do MAD Food, simpósio que acontece desde 2011, em uma tenda de circo montada para essa finalidade. O tema desta edição foi O que é cozinhar? e a pimenta dos índios baniwa do noroeste amazônico foi apresentada ao público, que pôde degustá-la juntamente com pequenos pedaços de abacaxi. Tanto a pimenta quanto o abacaxi são exemplos, entre tantos outros - o cacau, a mandioca, o amendoim, a pupunha, a castanha - de alimentos domesticados na Amazônia.

O MAD Food reúne renomados chefes de cozinha, ativistas, ecólogos, pesquisadores, jornalistas, profissionais da indústria, acadêmicos e professores e foi fundado pelo jovem chef dinamarquês René Redzepi, do estrelado restaurante Noma (duas estrelas no Guia Michelin), em Copenhague. A co-curadoria é do chefe brasileiro Alex Atala, do restaurante D.O.M, de São Paulo.

A apresentação da pimenta baniwa se deu em uma mesa denominada Gênesis e Apocalipse, na qual o ecólogo do Programa Rio Negro do ISA, Adeilson Lopes da Silva, fez o Gênesis, mostrando a cozinha indígena como exemplo da interdependência do homem com a natureza e como é grande a quantidade de plantas domesticadas que até hoje são fundamentais para as cozinhas do Brasil e do mundo. Adeilson destacou a relação imaterial dos baniwa com a pimenta desde a domesticação da planta e sua contribuição para conservá-la em meio a extensa paisagem agroflorestal que o sistema agrícola indígena maneja, até o uso em rituais de iniciação dos jovens.

Ele explicou que nos rituais a pimenta serve como escudo invisível, como proteção contra a agressividade dos espíritos de animais que os indígenas matam para comer. “Numa das partes mais importantes do ritual os jovens iniciantes provam, depois de um longo período de jejum, frutos de pimenta benzida pelos adultos. Assim, dizem os xamãs baniwa, estes jovens terão seu corpo “cozido” pela pimenta, sendo este um gesto fundamental para as futuras gerações viverem bem no território ancestral”, explica o ecólogo.

Já o Apocalipse foi encarnado pelo chef André Mifano, do restaurante Vito, de São Paulo, que focou no sistema agroalimentar predatório praticado hoje. Adeilson ressaltou que a evolução em curso na cozinha brasileira se deve principalmente ao chefe Alex Atala, do restaurante D.O.M, de São Paulo e também ao trabalho de tantos outros jovens chefs que vêm valorizando e incorporando os ingredientes da sociobiodiversidade brasileira, como Felipe e Thiago Castanho, do Remanso do Bosque, de Belém, e Rodrigo Mocotó, do Esquina Mocotó, de São Paulo, que foram presença de destaque, servindo o almoço do primeiro dia do evento.

Inês Zanchetta
ISA
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