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Xinguanos chegam ao Diauarum para concluir formação em gestão territorial

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A última etapa da Formação em Gestão Territorial e Serviços Socioambientais no Xingu teve início nesta quarta-feira (8), no Polo Diauarum, no Parque Indígena do Xingu (PIX), e vai até o dia 24. Participam 32 indígenas vindos de várias regiões do PIX, que irão apresentar seus trabalhos de conclusão de curso (TCC)

A iniciativa, que começou há três anos, é dividida em seis módulos e foi conduzida pelo ISA e pela Associação Terra Indígena do Xingu (Atix). Nesse tempo, os alunos desenvolveram pesquisas sobre quatro eixos: a origem do mundo e ocupação territorial; conhecimento e cultura; manejo de recursos naturais; e organização sociopolítica. Agora, irão apresentar os trabalhos de conclusão de curso com foco na prática de planejamento e uso da cartografia participativa para a gestão do território.

Localizado ao norte do Parque, o Polo Diauarum atende toda a região do Baixo Xingu onde moram os povos Yudja e Kawaiwete. No Diauarum funcionam uma escola fundamental, uma Unidade Básica de Saúde (UBS), a sede da Atix no PIX e a Casa Central do Mmel, de onde é coordenada a produção e distribuição do Mel dos Índios do Xingu.

Um dos primeiros alunos a chegar ao Diauarum foi Tukupé Waurá, 32 anos. Ele escolheu estudar a história sociopolítica do seu povo. Organizou entrevistas e foi perguntar aos velhos como seus antepassados se organizavam politicamente e como as novas lideranças enxergam a estrutura política do povo Waurá hoje. Ele contou à repórter Leticia Leite, do Programa Xingu do ISA, que precisou vencer a timidez e teve de aprimorar o português, sua segunda língua.

Tukupé conta que aos 25 anos teve que migrar com sua família do Alto para o Médio Xingu em busca de terras melhores para plantio. “Na aldeia nova minha irmãs tiveram vários tipos de pneumonia”, conta. O desejo de cuidar das irmãs o aproximou do curso de agente indígena de saúde, promovido desde 1990 por uma equipe de médicos da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os agentes atuam em suas aldeias por intermédio do conceito e da metodologia de controle e prevenção de doenças que a EPM instituiu no PIX nos últimos 40 anos, contando com o benefício suplementar de poderem conversar com os pajés, rezadores e parteiras. Existem pelo menos 40 agentes de saúde no PIX. Conheça um pouco da história de Tukupé Waurá.

Uma liderança em ascensão

Tukupé é hoje uma jovem liderança xinguana. Em 2006 iniciou o curso de agente de saúde e passou a estudar português todos os dias. Como agente de saúde começou a participar de reuniões na comunidade, onde despertou a vontade de entender e se apropriar da política indigenista. “Eu ouvia as lideranças falarem, os comportamentos, as palavras que eles usavam. Eu fui gostando, já conseguia ler, escrever, entender e explicar pra comunidade sobre o nosso mundo e o mundo do branco”, conta.

Terminou o Ensino Fundamental e entrou na Formação em Gestão Territorial e Serviços Socioambientais no Xingu. Nestes três anos ele decidiu seu futuro: quer ser um indigenista e ajudar o Estado brasileiro a construir as políticas públicas para o seu povo. Mas quer começar arrumando a casa: “Um pajé é diferente de um cacique, um cacique é diferente de um diretor da escola, um diretor da escola é diferente do responsável pela saúde. Às vezes as funções se confundem dentro da minha aldeia”, explica. “Quero escrever nosso próprio regimento que trata da governança dos Waurá. Pra quando se tiver um problema a comunidade saber pra quem a gente deve se dirigir”.

O que mais o preocupa agora é que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 seja aprovada pelo Congresso e tire da Funai a reponsabilidade sobre a demarcação de Terras Indígenas. A PEC tira do Executivo e transfere ao Legislativo a prerrogativa demarcar Terras Indígenas.

Ciente dos desafios que o esperam, a conclusão da Formação é mais uma vitória em sua trajetória. Ao final do curso, entre os dias 19 e 22, Tukupé vai dividir seu aprendizado com os colegas, professores e familiares que devem chegar para a formatura.

(Com informações de Letícia Leite)