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Durante quatro dias e em mais de 300 conferências paralelas, os cientistas reunidos na sede da Unesco, em Paris, abordaram a questão da mudança climática de forma ampla em um diálogo multidisciplinar envolvendo a ciência e a sociedade. “Antes esses encontros eram só para físicos, mas agora participa um público de cientistas mais amplo”, avalia o físico José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais de São Paulo. Para o professor e diretor da COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia)vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante do comitê organizador da conferência da Unesco, Emilio Lèbre La Rovere, o tempo está se esgotando. “Se queremos evitar impactos maiores, precisamos de mais controle, mais medidas de mitigação e maior rapidez de ação”, disse.
A comunidade científica discutiu diversas medidas para reduzir o nível atual de emissões de gases de efeito estufa entre 40% e 70% até 2050 com o intuito de limitar o aquecimento global a 2ºC em relação à época pré-industrial. Esta meta consta do quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) - corpo permanente de cientistas criado em 1998, após a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O relatório afirma que se o ritmo de emissões atual continuar avançando, a temperatura média do planeta aumentaria entre 3,7 e 4,8 °C, desfragmentando os ecossistemas terrestres, até o final do século XXI.
Entre as principais soluções propostas pela conferência dos cientistas destacam-se a eliminação de subsídios às energias fósseis, que, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atingem US$ 550 bilhões anuais e distorcem os mercados de energias renováveis e, a fixação de um preço para o carbono emitido. Tais propostas foram inspiradas no relatório publicado pela OCDE durante a conferência, denominado Alinhando as políticas para uma economia de baixo carbono. O texto incentiva os países a implementar reformas políticas para reduzir as emissões de CO2 e construir economias verdes.
Os gráficos abaixo mostram respectivamente os cenários de evolução da concentração de CO2, da elevação da temperatura atmosférica e do aumento do nível dos oceanos, no período que vai do ano 2 000 ao ano de 2 500, de acordo com cálculos do IPCC (AR5 2015).
"Países como a Dinamarca ou a Suécia estão aproveitando as oportunidades da nova onda de energias renováveis como a solar e a eólica, e o Brasil não pode ficar atrás", afirma o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do IPCC. Para ele, embora a ciência tenha papel fundamental no processo climático ainda falta mais integração com as políticas públicas.
Os alertas da comunidade científica
Não é de hoje que os cientistas alertam para as necessidades de adaptação às alterações climáticas como as crises hídricas, o derretimento das geleiras nos pólos ou o aumento no nível dos oceanos. Nesse sentido, Artaxo cita o trabalho do projeto Amazon Alert, desenvolvido em colaboração entre União Europeia e pesquisadores brasileiros, mostrando que as mudanças no padrão de precipitação podem fazer a floresta amazônica passar, no futuro, de um sequestrador de carbono que ela é hoje, para uma fonte emissora.
A comunidade científica expressou sua preocupação quanto à redução das possibilidades de manter o aumento da temperatura média global abaixo do limite de 2ºC até o final do século. “No plano econômico esse objetivo é possível, mas qualquer demora na redução das emissões, exclusão de energias limpas ou passividade de algum país, envolverá um aumento dos custos e uma redução das possíveis soluções factíveis”, explica o brasileiro La Rovere, diretor da COPPE. “O maior objetivo da COP-21 é criar uma plataforma de cooperação entre os governos para agir firmes e coerentes contra a mudança climática”.
O texto final da conferência da Unesco afirma que a mudança climática é o maior desafio do século XXI, e suas causas estão profundamente enraizadas no modo como produzimos e usamos a energia, como cultivamos alimentos, como manejamos as paisagens e que consumimos mais do que precisamos.