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A conversa denominada A floresta amazônica em tempos de mudanças climáticas aconteceu em uma pequena sala do Cinéma Municipal Georges Méliès, em Montreuil, arredores de Paris e reuniu cerca de 30 pessoas, que durante duas horas ouviram depoimentos e fizeram perguntas a André Baniwa e Dagoberto Azevedo Tukano, do Alto Rio Negro (noroeste amazônico), a Maurício Ye'kwana, da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, aTukupe Waurá e a Yapatsiama Waurá, do Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso.
Em torno da questão central sobre a percepção que eles têm dos impactos climáticos em suas vidas, os indígenas contaram histórias, expressaram suas preocupações e responderam às perguntas dos presentes. Foram duas horas de conversa descontraída com tradução para o francês e para o português.
André Baniwa contou como começaram a perceber as mudanças do clima e iniciaram pesquisas para aferir seus impactos sobre os povos do Rio Negro. "Em 2002 fomos surpreendidos por uma cheia do rio que mexeu com nossos lugares sagrados, tirou as pedras sagradas do lugar". De acordo com Dagoberto Azevedo Tukano, pesquisador indígena do Rio Negro, seu povo encontra apoio e enfrenta essas adversidades climáticas com base no tripé mitologia, danças e benzimentos.
Tukupé Waurá relatou que seu povo via o tempo mudando mas não sabia o que estava acontecendo. "Estiagem prolongada como nunca tínhamos visto", disse. "Em 2010, um grande incêndio atingiu muitas aldeias e diminuiu o número de espécies de plantas e animais".
Para André Baniwa, o governo sempre é pressionado pelo poder econômico e isso faz com que a Amazônia seja enxergada só desse ponto de vista. "Não conseguem enxergar os povos indígenas, não enxergam que eles são um patrimônio. Essa forma de atuar é que faz com que os povos indígenas sejam ignorados, com que nossos direitos sejam ignorados. Essa é a situação em que vivemos hoje". A coordenadora da Opan, Lola Campos, defendeu que existe uma disputa entre modelos e a hegemonia é do modelo monocultural que elimina os povos indígenas.
Apesar disso, são as formas tradicionais de manejo dos povos indígenas que formam verdadeiras barreiras contra a degradação florestal e o desmatamento, ressaltou Adriana Ramos, coordenadora do ISA.
O jovem líder indígena Maurício Ye'kwana denunciou o ataque aos direitos indígenas por parte do governo brasileiro. "A Terra Indígena Yanomami sofre com isso e os órgãos do governo que deveriam proteger não protegem. O governo acaba criando Unidades de Conservação em sobreposição às nossas terras", disse. Maurício disse ainda esperar que se chegue a um acordo em Paris. "Porque se não houver, o que vai acontecer é a destruição".
Carlos Garcia, especialista em clima e energia e que foi o moderador da conversa perguntou à Adriana e Lola, evocando a época natalina, o que elas gostariam de pedir a Papai Noel de presente. Adriana Ramos disse que pediria um Congresso 97% novo no Brasil. "Porque a maior parte dos parlamentares é proprietária de terras e portanto o interesse é patrimonial. Queria pedir mais defesa do interesse público do que da terra", enfatizou. Ela falou ainda sobre a desconstrução em curso dos direitos indígenas, da falta de recursos e de investimentos para que as populações indígenas possam gerir seus territórios.
Lola Campos disse que gostaria que Papai Noel pudesse promover maior participação de indígenas, ribeirinhos, pequenos agricultores nos conselhos locais, municipais, com o maior envolvimento do prefeitos. E que essa seria uma estratégia de aproximação entre ribeirinhos,pequenos agricultores e indígenas.
Yapatsiama Waurá finalizou pedindo o apoio de todos e dos outros países para que os povos indígenas tenham boa estrutura para poder enfrentar as mudanças climáticas.