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Sementes florestais nativas são oportunidade de profissionalização para jovens do Xingu Araguaia

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Uma gincana cultural promovida pela Rede reuniu, em Canarana (MT), jovens indígenas e da área rural que, por meio de atividades culturais, trocaram aprendizados e experiências sobre a realidade e o futuro territorial da região do Xingu Araguaia
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Ao todo foram 30 participantes, de idades que variaram entre 12 e 20 anos. Alguns deles já tinham algum envolvimento com a Rede de Sementes do Xingu, outros buscaram conhecer mais sobre a iniciativa. Os jovens representavam oito grupos de coletores de sementes indígenas e não indígenas de diferentes municípios matogrossenses, vindos basicamente de assentamentos rurais e de aldeias indígenas do Parque Indígena do Xingu e da Terra Indígena Pimentel Barbosa.

As sementes florestais têm ocupado um papel relevante nas atividades sociais e produtivas de comunidades rurais e indígenas nas cabeceiras do Rio Xingu no Mato Grosso. Ao mesmo tempo, a região se depara com questões centrais quanto à realidade e ao futuro de sua juventude na construção de caminhos de profissionalização. Por essa razão, a Rede de Sementes do Xingu tem buscado promover o engajamento e a inclusão desses jovens, como alternativa para fortalecer para sua participação profissional, social e cultural. A gincana cultural realizada nos 21 e 22 de novembro, em Canarana, promovida pela Rede foi o marco central para a articulação de jovens de diferentes realidades socioculturais.

Atualmente, a Rede conta com mais de 420 coletores, organizados em 13 núcleos que abrangem 17 municípios da região Xingu Araguaia. Em 2014 foram comercializadas mais de 17 toneladas de sementes de 124 espécies florestais. Apesar dos números expressivos, a grande maioria dos coletores é formada por adultos e idosos, com pouca participação de jovens. Integrá-los, portanto, é fundamental para o futuro não só da Rede, como também da agricultura familiar e das comunidades indígenas da região.

Para o consultor da Rede de Sementes do Xingu, Danilo Ignácio Urzedo, o objetivo principal da gincana foi engajar e reconhecer o potencial de ação dos jovens na iniciativa. “Nos encontros e atividades da Rede, geralmente existe pouca representatividade do jovem… Eles estão em um contexto rural ou indígena, em época de buscar novas perspectivas e oportunidades. É inquestionável o potencial de atuação dos jovens no sentindo criativo, tecnológico e de inovação integrado ao conhecimento local e tradicional”, explica.

“Mas para isso a gente precisa construir processos com eles para entender o que esperam do território onde vivem e como esses sonhos se integram com a Rede. A gincana foi o primeiro passo para construir um processo de longo prazo. A gente sabe que na região os assentamentos rurais passam por um processo de êxodo rural. Os jovens não tem papel social no campo, mas os assentamentos também podem oferecer oportunidades e é isso que queremos construir e mostrar”.

Raíssa Ribeiro, consultora do ISA, acredita que a gincana foi a primeira etapa de um desafio para envolver a juventude. “Para que de fato as ações sejam firmadas, é necessário ter participação social. Um exemplo é a Milene, de Nova Xavantina, que tem papel importante, fazendo a ponte desde a coleta até o armazenamento na Casa de Sementes. O jovem tem esse potencial de trabalhar com informação, gestão, informática e mídias. Assim, temos uma perspectiva de já nos próximos meses iniciar um programa de ação voltado aos jovens, focando em caminhos de profissionalização com o envolvimento de ferramentas técnicas e recreativas para tratar da governança territorial relacionada com a Rede. Esses jovens tem um grande potencial de produzir materiais, organizar dados, além de pesquisas de acordo com a realidade local”.

A gincana abriu as portas para jovens que ainda não tinham relação com a Rede de Sementes e puderam conhecer as oportunidades da produção de sementes e restauração florestal. A jovem Dhielen Cayne Cruz tem 16 anos, mora no Projeto de Assentamento Caité (Diamantino) não faz parte da Rede, mas participou do encontro porque queria aprender. “Entendi que além de você ter uma renda, você está ajudando o meio ambiente. Vou conversar sobre isso com a nossa família”.

Luiz Eduardo Barcelos da Silva tem 17 anos e mora em Canabrava do Norte, onde, entre outras atividades, ajuda a mãe na coleta de sementes. Para chegar a Canarana ele viajou quase 24 horas, mas acha que valeu a pena. “Aprendi muito com as dinâmicas”, e só de saber que está ajudando o meio ambiente é muita coisa”, disse.

Matheus Lamunier, 17 anos, pode ser considerado o brincalhão da turma. Ele tem 17 anos e mora no Projeto de Assentamento Dom Pedro, em São Felix do Araguaia, onde trabalha com os pais na coleta de sementes florestais. Matheus que ir embora do assentamento para estudar, mas disse que no futuro pretende ser um coletor, prova de que o trabalho de seus pais não está sendo em vão. Além da renda, ser um coletor de sementes para ele representa ajudar o meio ambiente.

O amarelo venceu

A 1ª gincana cultural da Rede de Sementes do Xingu contou com várias atividades, entre elas danças, brincadeiras, apresentações culturais, explanações sobre como funciona a Rede, informações sobre o território onde se encontram os coletores, além de jogos e perguntas. Os participantes foram divididos em três grupos: rosa, azul e amarela. A equipe amarela se saiu vencedora, a rosa ficou em segundo e a azul em terceiro.

O evento foi promovido pelas equipes técnicas das organizações atuantes na Articulação Xingu Araguaia (AXA) e pelo Instituto Bacuri.

Rafael Govari
ISA
Edição: 
Inês Zanchetta
Imagens: