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Povo Xavante da aldeia Santa Cruz quer aumentar coleta de sementes florestais em 2016

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Durante reunião de planejamento, realizada pela Associação Rede de Sementes do Xingu, no início de março, na aldeia Santa Cruz, da TI Pimentel Barbosa, em Canarana (MT), os xavante anunciaram aumento significativo na produção e melhoria da qualidade das sementes
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As sementes ouvem? Para o cacique José Guimarães Tserenhomo (Sumené Xavante), líder da aldeia Santa Cruz (Ripá), localizada na Terra Indígena Pimentel Barbosa, no município de Canarana (MT), sim, as sementes ouvem.

Sumené Xavante explicou para os técnicos da Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX), durante reunião anual de planejamento de coleta de sementes, que a pessoa não pode ficar preguiçosa para plantar. “Eu entendo que quando eu fico preguiçoso e não quero plantar, quando vou plantar, não nasce. A semente está me ouvindo, não é só nós que tem ouvido, a semente ouve também”, conta. “Se a gente gosta de plantar, a semente gosta também e já nasce. Se eu falo, já está gravado e nasce na hora, não morre nada e vai brotar. Se alguém faz roça para plantar e não gosta, ela ouve. Alguns não sabe, mas eu sei. Por isso que no meu povo não pode falar que não quer plantar. Tem que ir logo de manhã e trabalhar”, explicou, conforme a sabedoria Xavante.

A reunião aconteceu na aldeia Santa Cruz no dia 3 de março e foi uma festa. Danças e cantos para comemorar a chegada da equipe técnica do Instituto Socioambiental (ISA). Presentes para reafirmar a amizade e mais danças e cantos antes da partida. A reunião também possibilitou troca de conhecimentos entre os técnicos e os Xavante. Os técnicos passaram informações sobre a cadeia que envolve a produção de sementes e o cacique Sumené contou as histórias Xavante.

A técnica do ISA, Sarah Domingues, explicou que essas reuniões com os grupos de coletores são anuais e têm por objetivo avaliar como se sucederam os processos produtivos, formativos e outros que envolvem a Rede de Sementes do Xingu dentro da comunidade, como produção e manejo das espécies (colheita, beneficiamento, armazenamento, transporte), como foi a participação nos encontros da ARSX, além de apresentar os materiais da Rede (como usar o calendário), apresentar o Fundo Rotativo (crédito popular solidário para financiamento de equipamentos para a coleta), e ainda fazer uma reflexão sobre o que pode ser melhorado.

A reunião também informou sobre o potencial de coleta para o ano que se inicia e o interese que os Xavante da aldeia Santa Cruz demonstraram pela coleta do murici. “Eles falaram das espécies que gostariam de colocar e o murici é uma delas. A gente também falou das espécies que apresentam demanda comercial na Rede. O potencial será cruzado com a demanda para a formulação dos pedidos”, explicou Sarah.

No ano passado a produção de sementes ficou abaixo do esperado na Santa Cruz. O consultor do ISA Alexandre Lemos, que trabalha na aldeia, explica a razão da queda: “No ano passado teve um processo interessante de adaptação cultural dos Xavante da aldeia Ripá para a coleta de sementes para a comercialização. Eles começaram a apurar mais a divisão dos grupos para circular pela área e fazer o mapeamento das matrizes na área da Pimentel Barbosa. Também começaram a conciliar com o calendário cultural (caça, coleta, construção das casas, casamento). Então foi um período de adaptação da coleta com o calendário cultural”.

Para este ano, a previsão é de um aumento significativo, seja pela organização da aldeia, sejapelo apoio que Alexandre dará mais intensamente para o grupo. Além de coletar mais, o objetivo é melhorar a qualidade das sementes. “Em 2016 vou ter a oportunidade de estar mais presente na Terra Indígena fazendo o monitoramento dos processos de coleta, beneficiamento, armazenamento e entrega, além do mapeamento das matrizes e de conseguir coletar em áreas mais distantes. O objetivo é coletar mais e entregar sementes com melhor qualidade. Os testes de germinação farei aqui na aldeia e as sementes poderão sair daqui para a Casa de Sementes de Canarana já com a garantia de qualidade”, explicou Alexandre.

Além do ganho financeiro, que é dividido igualmente entre as 18 famílias da aldeia, a coleta de sementes tem trazido muitos outros benefícios para os Xavante da aldeia Santa Cruz, porque através dela os indígenas têm selecionado as sementes e plantado próximo da aldeia, o que vai otimizar futuramente o trabalho. O cacique Sumené mostrou um pacote cheio de sementes de jatobá selecionadas pelo tamanho. Mas detalhe: elas não estavam à venda, porque seriam utilizadas para o plantio na aldeia. A alimentação dos indígenas também é beneficiada à medida em que eles aproveitam a polpa das frutas no processo de beneficiamento das sementes. Destaca-se que são frutas sem agrotóxicos, tiradas diretamente do Cerrado. O processo de coleta também leva os mais novos a conhecer melhor o território.

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Rafael Govari
ISA
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