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A tradição dos mutirões está retomando lentamente seu lugar na vida das comunidades do Vale do Ribeira. Depois do mutirão da colheita de arroz no quilombo Morro Seco, em maio de 2015, o pessoal de Pedro Cubas decidiu organizar um, este ano, para a colheita do arroz e convidar amigos e vizinhos.
O porta-voz do grupo foi o sr. Antonio Jorge, uma das lideranças locais. Ele queria reviver a antiga tradição da cultura quilombola, que há mais de 40 anos não acontecia na comunidade. E foi assim que em 27 de maio passado cerca de 60 participantes vindos de diversas comunidades, se reuniram em Pedro Cubas, no município de Eldorado, para o mutirão.
Às 8h, começaram a chegar os quilombolas vindos de comunidades como Pedro Cubas de Cima e Morro Seco, Bairro Batatal, integrantes do Grupo de Fandango Batido São Gonçalo de Cananéia e a equipe do Instituto Socioambiental. Foram recebidos com um farto café da manhã recheado de pratos típicos da culinária quilombola, como mandioca cozida e frita, batata doce cozida, cará cozido, paçoca de pilão, coruja, requeijão e bolo de roda, acompanhados de café e suco natural.
Atividades de trabalho coletivo como os mutirões ou puxirões, como são conhecidos regionalmente, desempenham papel fundamental para a vitalidade da agricultura quilombola, promovendo a transmissão do conhecimento, a celebração da colheita e mantendo as práticas do Sistema Agrícola Quilombola. Veja o vídeo.
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Além do café da manhã, almoço e jantar, os puxirões de hoje terminam com bailes, que atravessam a madrugada, como antigamente. A festa, depois do jantar, foi animada pelo Grupo de Fandango Batido São Gonçalo de Cananéia , com a participação especial do Sr. Hermes, rabequeiro do quilombo de Morro Seco. Como manda a tradição, o “dono”, o sr. Antonio Jorge, além de servir toda a comida para os convidados, também foi responsável pela organização do baile.
Os mutirões são fundamentais para perpetuar a cultura quilombola e transmití-la às novas gerações. “Esse mutirão que estamos fazendo aqui de colheita de arroz, isso aqui é pra nós demonstrar para nossa juventude a nossa cultura, a nossa história e da comunidade, e não perder ela de jeito nenhum”, diz o sr. Antonio Jorge.
Suzana Maria Pereira do quilombo Morro Seco, em Iguape, destaca o lado companheiro e fraterno do mutirão. “Esse resgate é uma experiência incrível, além de você ter uma força maior, onde todos juntos rapidamente conseguem executar um trabalho que uma pessoa sozinha executaria em uma semana, quinze dias ou mais. Isso é de uma importância muito grande, porque a gente vê o lado fraternal que o povo quilombola tem um com o outro”.
A área de plantio tinha aproximadamente 8.000 m², onde foram semeadas duas variedades de arroz crioulo, o arroz 3 meses branco e o arroz 3 meses amarelo. A colheita teve início às 9 e foi até o meio dia, com uma parada para o almoço. No cardápio, comidas típicas como arroz socado no pilão, carne de porco, costela com mandioca, feijão, mandioca frita e suco natural. Praticamente tudo feito pela comunidade. O mutirão continuou até o final da colheita encerrando às 17h00. Foram colhidos aproximadamente 30 sacos de 60 kg de arroz com casca. A estimativa de produção é de 1.500 a 1.800 kg.
No final do dia, dona Diva, do quilombo de Pedro Cubas de Cima, uma das ativas participantes do mutirão, lembrou a importância da atividade para todas as comunidades quilombolas. “Vem desde nossos antepassados, que nós plantávamos tudo numa roça muito grande e só pra família cuidar não dava, então, nossos pais e avós tinham essa tradição de colher em mutirão com muita gente, então chamava as outras comunidades e eles vinham nesse dia só pra colher, malhar arroz, conforme dava o dia.”
Ações como a realização dos mutirões fazem parte da estratégia de fortalecimento do Sistema Agrícola Quilombola, parte do projeto Territórios da Diversidade Socioambiental, desenvolvido pelo programa Vale do Ribeira do ISA, com o apoio da União Europeia.