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Com apenas dois anos de criação, a Associação de Mulheres Yanomami Kumirayoma já se fez ouvir internacionalmente. Entre os dias 24 de novembro e 6 de dezembro, as coordenadoras da Associação Floriza da Cruz Pinto e Maria de Jesus de Lima fizeram uma jornada pelos Estados Unidos para participar de dois eventos pelo fortalecimento dos direitos indígenas, sobretudo do ponto de vista das mulheres. Foram acompanhadas pela assessora do ISA, Marina Vieira. Foi a primeira vez que mulheres Yanomami representaram sua organização no exterior.
O Programa Rio Negro do ISA tem assessorado o fortalecimento da Kumirayoma desde sua criação, como uma das ações para promover a representatividade das mulheres em relação a seus direitos individuais e coletivos em diferentes contextos. O primeiro evento, chamado Twelve and Above: The Wisdom Council, aconteceu em Nova York e reuniu os sábios de doze culturas diferentes para compartilhar suas preocupações a respeito do mundo atual e seus modos tradicionais de proteção espiritual.
O ponto alto do evento foi uma meditação no prédio da ONU, acompanhada online por mais de 20 mil pessoas em todo o mundo. Convidados pela Fundação Le Ciel, sediada em Londres, cada uma das lideranças tinha um papel particular na composição do Conselho dos Doze. As mulheres Yanomami representavam a alegria e beleza. Além da Kumirayoma, participaram da jornada povos indígenas da Colômbia, México, Gabão, Botswana, Alaska, Canadá, Nepal, Austrália, Japão e Rússia. Cada um desses representantes recebeu um apoio da Fundação Le Ciel para impulsionar suas organizações de base, o que para a Kumirayoma significou o primeiro recurso recebido diretamente.
Depois de Nova York, as representantes da Kumirayoma seguiram mais para o norte (e para o frio) para participarem de evento na Universidade de Boston, a convite da pesquisadora e apoiadora do Projeto de Ecoturismo no Pico da Neblina (Projeto Yaripo), Julie Klinger. Floriza, Maria de Jesus e Marina foram convidadas a falar sobre suas experiências como mulheres trabalhando na promoção dos direitos indígenas na Amazônia.
Com a plateia lotada, uma das perguntas chamou especial atenção: “O que nós estudantes, que não temos dinheiro para apoiar projetos lá nas comunidades de vocês, podemos fazer pela causa indígena no Brasil?”. A resposta de Floriza foi clara: “Falem para os outros o que vocês estão ouvindo aqui, divulguem, compartilhem as nossas histórias, as nossas palavras. Nós viemos de longe para trazer essas palavras para vocês, vocês podem nos ajudar a continuar espalhando-as por aí”. Floriza lembrou ainda que foi assim que a luta de seu tio Davi Kopenawa foi fortalecida na década de 1990 e que dessa forma conseguiu apoio necessário para a demarcação da Terra Indígena Yanomami.
Em seguida, houve uma palestra do jornalista Marcelo Leite, da Folha de S. Paulo, que participou da segunda expedição ao Pico da Neblina em julho deste ano e publicou reportagem multimídia a respeito. Depois, Marcelo, Marina, Floriza e Maria de Jesus foram convidados a compor o fórum de discussão sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia. À noite, a comitiva Yanomami foi convidada pela Escola de Estudos Globais a participar de um jantar que realiza duas ou três vezes por semestre para celebrar a visita de convidados ilustres na universidade.
A Kumirayoma teve ainda a oportunidade de se conectar com outras organizações internacionais, como Rainforest NYC, Global Goods, Tribal Link e o Consulado do Brasil em Boston. Não por acaso, todas representadas por mulheres em cargos de liderança, reforçando a importância da representatividade feminina em diversos temas. Os encontros serviram para a Kumirayoma projetar suas palavras em um cenário internacional e também impulsionar o crescimento da organização de mulheres Yanomami.