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A partir desta quarta-feira (8/8), o ISA publica as impressões da coordenadora adjunta do Programa de Política e Direito Socioambiental do ISA, Nurit Bensusan, sobre o 16º Congresso da Sociedade Internacional de Etnobiologia, que volta a se realizar em Belém, 30 anos depois de sua criação
7/8, terça-feira
Belém tem um cheiro... um cheiro de Amazônia que é mar, um cheiro de floresta que reluta em ser, um cheiro do que poderia ter sido e não foi... mas, sim, cá estou eu em Belém sentindo esses cheiros e tentando entender o que faço com eles.
Estou aqui para participar do ISE Belém +30. Vamos por partes... ISE é a International Society of Etnobiology, ou seja Sociedade Internacional de Etnobiologia, criada em Belém, há 30 anos. Essa é a 16ª edição do Congresso da ISE que, então, volta a Belém 30 anos depois de sua fundação em 1988. Volta a uma Belém mais numerosa, com 600 mil habitantes a mais; volta para uma Amazônia menor, com 428 mil km2 a menos de floresta; volta para um Brasil completamente diferente, 30 anos depois da Constituinte e num clima de pós-tudo, principalmente de pós-esperança e chega aqui num mundo que já deu muitas voltas e já mudou muito.
Há 30 anos, a ISE lançou uma carta que criou um significativo espaço para o reconhecimento do papel dos povos indígenas e comunidades locais na conservação e no uso racional dos elementos da natureza. Essa carta foi uma das bases do texto da Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada na Rio-92, principalmente do artigo 8j que reconhece, formalmente, a importância dos conhecimentos, inovações e práticas dos povos indígenas e das comunidades locais, para a conservação e para o uso sustentável da biodiversidade.
Hoje, esse papel dos povos indígenas e das comunidades locais é amplamente reconhecido, mas...
Papel reconhecido, 16ª edição do Congresso da ISE lotada, inúmeras legislações nacionais de diversos países garantem direitos territoriais e respeito aos modos de vida de povos indígenas e comunidades locais , então a ISE Belém +30 é só festa?
Bom, não exatamente. É festa, com certeza, tem uma feira de produtos da sociobiodiversidade de muitos lugares da Amazônia e de alguns outros lugares do Brasil e do mundo. Tem gente usando turbante, cocar, cabelo azul e coque. Tem castanha, artesanato, farinha, publicações e livros.
Mas tem muito mais... ou muito menos... os direitos territoriais de povos indígenas e comunidades locais estão ameaçados em inúmeros lugares do mundo, inclusive no Brasil; os modos de vida desses povos e comunidades enfrentam preconceito e intolerância o tempo todo. E o que quer dizer o Congresso da ISE lotado? Um nicho de pessoas interessadas no assunto, mas falando para si mesmas, enquanto o mundo gira? E o conhecimento de povos indígenas e comunidades locais?
Mais, amanhã...