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A artista e ativista retratou a beleza da cultura Yanomami e foi um dos principais nomes na luta pelo reconhecimento e demarcação do território desse povo no Brasil, na década de 1980
A fotógrafa Claudia Andujar recebeu, no último dia 28, em Weimar, na Alemanha, a medalha Goethe de 2018, uma premiação internacional concedida pelo governo alemão. "Vida após a catástrofe" foi o tema deste ano. Claudia estava acompanhada por Davi Kopenawa, líder Yanomami reconhecido nacional e internacionalmente. Veja mais aqui.
O prêmio é, segundo o Instituto Goethe, a condecoração mais alta do país europeu e reconhece o trabalho de Andujar com os Yanomami, na Amazônia brasileira, ao longo das últimas décadas. Não só seu trabalho como artista, mas sua atuação efetiva para garantir a sobrevivência desse povo.
Andujar fotografou os Yanomami por quase três décadas. A primeira vez foi em 1971, para uma reportagem da revista Realidade. A TI Yanomami no Brasil ainda não havia sido demarcada e seu povo estava ameaçado pela construção de uma estrada pelo governo militar, a Perimetral Norte.
Andujar começou a retratá-los. Não a tragédia que os circundava, mas a beleza da cultura yanomami. “Claudia mostrou um povo tão amoroso quanto qualquer um, um povo preocupado com o seu lugar no mundo, que aceita a responsabilidade completa pela saúde física e espiritual do que os cerca, tanto o que é visível quanto o que não pode ser visto”, afirmou Stephen Corry, diretor da Survival International, durante a premiação.
Depois dessa reportagem para a revista Realidade, Andujar decidiu permanecer ali, junto aos Yanomami, tentando aprofundar o entendimento sobre a sua cultura e modo de vida. Em 1974, acompanhou a chegada dos trabalhadores da Perimetral ao território, o que causaria a morte de centenas de Yanomami - os índios não tinham imunidade para doenças como a gripe e o sarampo que chegavam com os operários. Nessa ocasião, Andujar começou a retratar os índios para as fichas médicas do serviço de saúde do governo brasileiro. Mais tarde, estes retratos foram reunidos em um livro e exposições sob o título "Marcados".
Em 1978, Andujar ajudou a criar a Comissão pela criação do Parque Yanomami (CCPY), movimento que lutou pela demarcação da terra indígena e que, hoje, está incorporado ao Instituto Socioambiental (ISA). "Claudia tem uma identidade profunda com os Yanomami em grande parte por conta de sua própria tragédia familiar de vítima do nazismo na Europa", afirma Beto Ricardo, fundador da CCPY e do ISA. "As fotos dos Yanomami, feitas por Claudia Andujar, são eternas e continuam emocionando". A Terra Indígena Yanomami foi finalmente reconhecida, demarcada e homologada em 1992 pelo governo federal.
Claudia Andujar nasceu na Hungria na década de 1930. Seu pai era judeu e, quando ela tinha 13 anos, foi morto pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, junto com grande parte de sua família. Andujar então fugiu para Suíça com a mãe. Depois, mudou-se para os Estados Unidos. Só em 1955 chegou ao Brasil. Ela relata que encontrou nos Yanomami uma nova família. Em entrevista à revista Trip, em 2017, ela afirma: “Sempre falo que meus filhos são 20 mil Yanomami. Eles também falam isso”.