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Óleo de Babaçu Menire, produzido por mulheres Xikrin, é premiado pela ONU

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Elas operam uma miniusina na Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), pressionada por garimpo e roubo de madeira. Em 2018, mais de 1,5 mil hectares foram desmatados ilegalmente
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O Óleo de Babaçu Menire, produzido por mulheres Xikrin da aldeia Pot-Krô, Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), recebeu menção honrosa na categoria Empreendimentos Rurais do prêmio "Saberes e Sabores 2018", oferecido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Menire significa “mulher” na língua Kayapó. A extração do óleo de babaçu é uma de suas atividades tradicionais (saiba mais aqui). Entre as Xikrin, o óleo é indispensável para uso cosmético e ritual, e a instalação de uma miniusina para extração do produto aumentou o rendimento da produção.

Um território em xeque

O desmatamento e o roubo de madeira avançam Terra Indígena Trincheira Bacajá. Apenas entre janeiro e novembro de 2018, um total de 1.559 hectares foram desmatados, segundo dados do Sistema de Indicação Radar de Desmatamento - Xingu (Sirad X).

A integridade do território Xikrin ainda sofre para além do roubo de madeira. Há ação registrada de grileiros e garimpeiros. Em agosto de 2018, o Ibama e a Polícia Federal flagraram uma grande área de garimpo ilegal dentro da Terra Indígena.

Veja os sete indicadores da Terra Indígena avaliados no site Terras+.

Antes, 20% da amêndoa do coco babaçu era convertido em óleo. Com a miniusina, a conversão em óleo chega a 70%, e o produto final tornou-se uma oportunidade de geração de renda. O volume de produção em 2018 foi de 500 litros. Os trabalhos na aldeia recomeçam em abril.

“As mulheres produziam tradicionalmente o óleo antes da miniusina. Hoje somos nós todas que coletamos o coco na floresta e quebramos ele para tirar a amêndoa. Duas menire – eu Kokoté e minha tia, Panhre – que com apoio de parceiros e da associação de nosso povo – a [Associacao Instituto Bepotire Xikrin] IBKrin, operamos a máquina, gerimos a miniusina e comercializamos nosso produto”, disse Kokoté Xikrin.

“Descobrimos que há um grande interesse em nosso óleo por ser um produto natural e saudável, que mantém a floresta em pé. As pessoas em geral também gostam dele por ser indígena”, afirmou.

Veja abaixo a localização da Terra Indígena Trincheira Bacajá e a mancha de desmatamento.

Tanto os Xikrin como os outros povos Mêbêngokre (mais de 10.000 pessoas espalhadas pelo Brasil em cerca de 10 Terras Indígenas) utilizam tradicionalmente o óleo. Mas em boa parte dos territórios mêbêngokre atuais não existe a palmeira babaçu. Assim, a produção de óleo de babaçu das menire Xikrin atende também parte da demanda de outras Terras Indígenas.

“Nossa Terra Indígena é praticamente toda coberta por floresta, o que é muito diferente do que acontece na terra dos nossos vizinhos fazendeiros, onde quase não há mais floresta em meio ao pasto para gado. A palmeira babaçu é muito abundante na floresta em nossa terra. Para produzir óleo de babaçu nós temos apenas que andar por nossa terra para colher o coco”, contou Kokoté Xikrin.

Segundo ela, produzir óleo de babaçu é uma maneira limpa de gerar renda. “Não é necessário nenhum adubo ou veneno para que tenhamos muito babaçu para o óleo. Isto é muito diferente do que acontece com a produção do óleo de soja, por exemplo, que necessita derrubar a vegetação nativa, e da aplicação de muito adubo e veneno, que polui as águas, para que haja produção”, afirmou.

A campanha #Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos é organizada pela FAO em conjunto com a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário do Brasil (SEAD), a Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul (REAF), a ONU Mulheres, o Conselho Agropecuário Centro-Americano do Sistema de Integração Centro-Americano (CAC-SICA), bem como a Diretoria Geral de Desenvolvimento Rural do Ministério de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai (DGDR/MGAP). Ela reforça a importância de iniciativas de mulheres da América Latina e Caribe na promoção de uma alimentação tradicional e saudável e na proteção da biodiversidade na agricultura.

Foram, ao todo, 65 candidaturas ao prêmio na categoria Empreendimento Rural. O primeiro lugar ficou com mulheres que trabalham com cacau de origem na Venezuela. (Veja aqui os resultados.)

Os Xikrin e a Rede de Cantinas da Terra do Meio

Os Xikrin vivem na Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), às margens do Rio Bacajá, afluente do Rio Xingu. A Terra Indígena compõe uma série de áreas protegidas que formam o Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental, fundamentais para a proteção das florestas e dos territórios tradicionalmente ocupados por povos indígenas e populações tradicionais.

A Terra Indígena Trincheira Bacajá conta com grandes babaçuais e castanhais que os Xikrin exploram há décadas. Eles souberam que os extrativistas organizados na Rede de Cantinas da Terra do Meio (saiba mais sobre a rede aqui) obtiveram um preço diferenciado pela castanha que produziam. A Associação Instituto Bepotire Xikrin (IBKrin)
então se aproximou da rede e, desde 2016, os Xikrin têm comercializado castanha junto com os ribeirinhos.


A ideia de uma miniusina partiu também do contato entre os Xikrin e os ribeirinhos. Em 2015, apoiadas pela Funai, as menire visitaram a miniusina do Rio Novo, na Reserva Extrativista Rio Iriri. Como resultado, a Funai elaborou um projeto para implementar um equipamento similar na aldeia Pot-krô.

Roberto Almeida
ISA
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