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Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, uma rede de pesquisadores de seis países da Amazônia lança um alerta sobre o futuro da maior floresta tropical do planeta. De acordo com Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), pelo menos 68% de todas as áreas naturais protegidas e territórios indígenas da região sofrem algum tipo de pressão ou ameaça.
A análise se baseia em uma nova coleção de mapas publicados pela Raisg que aborda seis temas: intervenções em infraestrutura de transportes (vias), energia (hidrelétricas) e indústrias extrativas (mineração e petróleo), além da frequência de queimadas e desmatamentos. E considera o território da Pan-Amazônia, que envolve oito países mais a Guiana Francesa.
Considerando apenas mineração e petróleo, 87,2 milhões de hectares, ou 22% dos 390 milhões de hectares oficialmente protegidos, estão sujeitos a ameaça ou pressão.
Os mapas também revelam a presença de hidrelétricas e estradas em áreas protegidas e em territórios indígenas. Nesse sentido, das 272 grandes usinas hidrelétricas da Amazônia - planejadas, em construção ou em operação - 78 estão dentro dos territórios indígenas e 84 estão em conflito com diferentes categorias de unidades de conservação. No que diz respeito a estradas e rotas, dos 136.000 quilômetros mapeados na região, aproximadamente 20% (26.000 km) são sobrepostos com áreas protegidas na Panamazônia.
“Todas as iniciativas para salvar a Amazônia da destruição deveriam considerar uma visão integral da região”, diz Beto Ricardo, coordenador de Raisg. “Embora o Brasil detenha 62% da extensão da Amazônia (5.239.647 km²), várias cabeceiras das bacias hidrográficas que formam a grande bacia amazônica estão situadas nos países andinos. Há dezenas de povos indígenas nas regiões amazônicas que fazem fronteira do o Brasil, por exemplo. Essas são razões suficientes para prismar iniciativas de cooperação bi e multilaterais entre os países amazônicos”.
Os resultados podem ser encontrados na plataforma multimídia Amazônia na Encruzilhada, que reúne estudos de casos dos tema analisados. Além de mapas interativos, os usuários encontram fotos e vídeos sobre as pressões e ameaças para cada um dos seis países. O site especial é lançado em aliança com a iniciativa de comunicação InfoAmazonia.
Além da análise pan-amazônica, a Raisg traça análises detalhadas por país. No caso da Amazônia brasileira, por exemplo, a maior parte do desmatamento ocorre na proximidade de estradas, e estima-se que aproximadamente 90% da perda de vegetação nativa ocorreu a uma distância de até 100 quilômetros da malha viária.
O Brasil também é o campeão, entre os países amazônicos, nas áreas de floresta que são alvo de interesses minerários (requerimentos e autorizações de pesquisa e lavra). São 108.053.239 hectares, o que representa 75% de toda a área destinada à atividade na Pan-Amazônia, segundo o estudo.
Tudo isso em meio a um cenário político desfavorável ao meio ambiente. Propostas do novo governo implicam cortes no financiamento para atender às demandas indígenas, retrocessos e redução de operações de controle ambiental, congelamento de demarcações pelo governo federal e até mesmo várias manifestações em favor da abertura de territórios à mineração.
No Brasil, durante o período eleitoral (agosto a novembro de 2018), o desmatamento na Amazônia dobrou em relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo 1,4 milhão de hectares de florestas perdidas.
Especificamente, o desmatamento detectado no mês de novembro de 2018 foi quatro vezes maior que em novembro de 2017. Esse cenário de ameaça e intensificação do desmatamento continuou após as eleições. Em janeiro de 2019, a Amazônia Legal perdeu 10.800 hectares de floresta, um aumento de 54% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Desse desmatamento registrado em janeiro de 2019, 12% ocorreu em territórios indígenas e 5% em unidades de conservação.
A Amazônia está em uma encruzilhada. Os nove países que a compõem têm a floresta tropical mais biodiversa e a maior reserva de água doce do planeta. Mas seus governantes, políticas estatais e interesses econômicos a levam à exaustão. Os últimos refúgios para espécies únicas estão em áreas protegidas e territórios indígenas. Os cientistas já falam sobre a iminência de um ponto sem retorno, onde as contribuições da natureza para o bem-estar humano - água, ar limpo, regulação climática, recursos naturais - não serão mais fornecidas pelo bioma. Chegaremos a esse extremo?