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Coletores de sementes, governo, empresas e produtores rurais buscam soluções para triplicar as áreas reflorestadas com semeadura direta a partir de 2020
O que os extrativistas, indígenas e ribeirinhos da Rede de Sementes do Xingu sempre souberam agora ganha apoio de órgãos do governo, produtores rurais, empresas agropecuárias, de energia e de logística. A iniciativa “Caminho das Sementes”, promovida pelo Instituto Socioambiental (ISA), a Agroicone e o P4F (Partnerships for Forests), reuniu esses e outros atores para ampliar a restauração de ecossistemas no Brasil. Em outras palavras, como plantar mais floresta em menos tempo e com menos recursos.
No centro dessa discussão está a técnica da semeadura direta, que é o plantio de uma mistura de sementes nativas, a muvuca, em um solo bem preparado. A composição da muvuca varia com o bioma de cada região. É uma técnica utilizada há milênios pelos indígenas e comunidades tradicionais do Xingu - e outros povos indigenas de todo o mundo -, e que finalmente é reconhecida pelos principais atores da sociedade não indígena.
“A técnica da semeadura direta tem tido resultados interessantíssimos como a boa relação custo/benefício, eficiência no plantio, aumento da biodiversidade e impactos sociais positivos, pois estimula a economia da coleta e venda de sementes nativas”, comenta Marcio Sztutman, diretor do P4F para a América Latina. “Além disso, tem o potencial de atender as demandas de restauração em larga escala, ou seja, é uma técnica alinhada com as tendências atuais de soluções inovadoras para o setor de restauração florestal.”
A ONU declarou que, a partir de 2021, entramos na década da Restauração de Ecossistemas. A ampliação da recuperação de ambientes degradados é uma medida que combate a crise climática e favorece a segurança alimentar, a disponibilidade de água doce, a regulação das chuvas e a biodiversidade.
A restauração ecológica já é feita atualmente por empresas, ONGs e governo, embora ainda não na amplitude necessária. Mesmo nessa escala pequena, ainda há sérias barreiras para a ampliação do uso da semeadura direta na restauração de ecossistemas. O esforço da iniciativa é justamente remover essas barreiras.
Claro que semear florestas amazônicas, matas atlânticas, caatingas, pantanais, pampas, veredas, campos úmidos e cerrados não é simples e às vezes não será suficiente, mas é assim que a natureza começa na maioria dos casos, não é mesmo?
A meta é, a partir de 2020, triplicar a área de restauração com o uso da semeadura direta. Ou seja, passar de 700 hectares para 2.100 hectares por ano. Com esse objetivo, a iniciativa reuniu vários atores, incluindo órgãos do governo estadual e federal, Ministério Público, associações e redes de coletores de sementes, empresas agropecuárias, de energia e logística, produtores rurais interessados em restauração, pesquisadores e organizações da sociedade civil para conhecer os obstáculos e as oportunidades de avanço.
O primeiro resultado foi engajar todos esses atores na elaboração de um plano de ação focado em ampliar a escala da semeadura direta. Essa primeira fase foi construída de janeiro a julho de 2019. Na segunda fase, que vai até julho de 2020, as estratégias prioritárias para o curto prazo serão implementadas. “A iniciativa vai ajudar o Brasil a avançar nos seus compromisso de reduzir emissões de carbono e também para o desenvolvimento sustentável da agropecuária”, aponta Laura Antoniazzi, da Agroicone.
Entre os desafios apontados pelas instituições parceiras para o avanço da semeadura direta no país está a falta de conhecimento científico e de campo. Por isso, as estratégias envolvem implantação de algumas áreas experimentais e demonstrativas, organização de dias de campo, cursos e capacitações associadas a um plano de comunicação e difusão de informações, entre outras ações.
O P4F, apoiador técnico e financeiro da iniciativa, é um programa do governo do Reino Unido que visa catalisar negócios no setor de uso sustentável da terra. Para a organização, a iniciativa “Caminho das Sementes” está alinhada com a estratégia do programa de fomentar a economia da restauração florestal no Brasil “Essa tem sido a tendência no exterior, mas no Brasil corremos o risco de fazer menos restauração no futuro do que já foi feito anteriormente. A gente vive esse impasse dentro do contexto atual, por isso iniciativas como essa são muito importantes para que os diferentes setores conversem de fato e produzam conhecimento, atuando juntas nesse processo”, afirma Eduardo Malta, responsável técnico de restauração florestal do Instituto Socioambiental (ISA) e colaborador da Associação da Rede de Sementes do Xingu (ARSX).