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Militar lotado em São Gabriel da Cachoeira, cidade mais indígena do Brasil, morreu por Covid-19

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O tenente-coronel Péricles Ferreira de Lima estava internado em Manaus; contaminação aconteceu na capital amazonense, de acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS)
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Um oficial do Exército lotado na 2ª Brigada de Infantaria de Selva, em São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste amazônico, morreu por Coronavírus. Conforme nota do comando da unidade divulgada nesta quarta-feira (08/04), dia do falecimento, o tenente-coronel Péricles Ferreira de Lima, de 46 anos, estava internado desde 27 de março no Hospital Delphina Abdel Aziz, em Manaus. Essa é a primeira morte ocorrida nessa brigada militar da Amazônia em decorrência da pandemia mundial da Covid-19.

Conforme a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM), a investigação epidemiológica constatou que a infecção do militar ocorreu em Manaus, onde o óbito será notificado. No início da semana, esse caso chegou a ser registrado em São Gabriel da Cachoeira, como o primeiro caso confirmado de Covid-19 da cidade. O fato causou grande tumulto no município, que teme a chegada da doença. A região não possui infraestrutura hospitalar suficiente para atender uma explosão de casos. Com o esclarecimento de que o oficial se contaminou em Manaus e não estava em São Gabriel da Cachoeira, o balanço deverá ser alterado nesta quinta (09/04).



Números divulgados na terça-feira (07/04) indicavam que São Gabriel tinha um caso confirmado -- o do militar, segundo a FVS/AM -- e um caso em investigação. Estão sendo monitoradas 168 pessoas que chegaram à cidade após terem passado por regiões onde há o vírus. A seção de comunicação social da 2ª Brigada de Infantaria de Selva informou que o tenente-coronel Péricles Ferreira de Lima estava em Manaus, preparando-se para retornar a São Gabriel, quando os sintomas da doença apareceram.

Com isso, ele não seguiu para o interior do Estado e foi internado na capital, falecendo “em decorrência de evolução indesejável de seu quadro clínico e complicações respiratórias causadas pelo Coronavírus”. O oficial era natural da cidade de São João de Meriti (RJ) e deixa esposa e dois filhos.

Vulnerabilidade

São Gabriel da Cachoeira é a cidade brasileira com maior concentração de indígenas. As autoridades de saúde locais temem que o novo coronavírus possa afetar sobretudo essa população, historicamente mais vulneráveis a doenças. O Exército explicou à imprensa que todos os militares que chegam ao município são submetidos a um período de 14 dias em suas residências, em regime de teletrabalho e isolamento social. Os militares que se deslocam de São Gabriel para os Pelotões Especiais de Fronteira cumprem o mesmo protocolo. Além disso, todo o pessoal da área de saúde está utilizando os equipamentos de proteção individual, assim como os militares que estão atuando nas triagens sanitárias.

Continuam sendo realizados voos para suprimento de gêneros aos Pelotões Especiais de Fronteira, sendo feita a desinfecção e descontaminação das cargas. “A orientação atual é para não haver interação entre os militares e as comunidades indígenas, exceto para a realização de atendimentos de saúde dos indígenas nos Pelotões Especiais de Fronteira”, informou a unidade do Exército.



Uma série de medidas preventivas para conter a disseminação do novo coronavírus vem sendo adotada. Em 18 de março, o prefeito Clóvis Moreira Saldanha (PT) decretou emergência na saúde. Entre as medidas determinadas estão a suspensão temporária das aulas na rede municipal, do funcionamento do comércio que não seja considerado essencial e das operações de atracação de embarcações de passageiros em todos os portos do município. Também há determinação que se cumpra o isolamento social. Foi instituído o Comitê de Enfrentamento e Combate à Covid-19, do qual o Instituto Socioambiental (ISA) faz parte junto a outros órgãos como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Exército e o Hospital de Guarnição.

A Foirn orientou os indígenas que estão nas comunidades a não se deslocarem até a cidade. Já aqueles que estão em São Gabriel não devem viajar para as aldeias. “A orientação que a gente está dando é que fique na sua comunidade. Evite o máximo possível descer para a cidade. Se descer, só em caso de extrema urgência e apenas uma pessoa. Que não traga esposa, filhos, ou outras pessoas da comunidade. Essa é nossa recomendação”, disse o presidente da Foirn, Marivelton Baré.

Benefícios sociais

Uma das maiores preocupações no momento são os deslocamentos dos indígenas das suas comunidades em direção a área urbana do município em decorrência dos pagamentos de benefícios sociais e da renda emergencial do Covid-19.

A Foirn vem trabalhando nos últimos dias em articulação a órgãos públicos, como o Ministério Público Federal (MPF), Exército, Funai e parlamentares de modo a tentar promover uma logística especial de pagamento desses benefícios e chegada de cestas básicas emergenciais.

Um ofício da Foirn foi encaminhado com o objetivo de alertar as autoridades públicas sobre o possível extermínio dos povos indígenas caso as populações se aglomerem na área urbana para acessar essa renda.

Ana Amélia Hamdan e Juliana Radler
ISA
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