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As ações de prevenção ao novo Coronavírus ganharam reforço em São Gabriel da Cachoeira. Nesta terça-feira (14/04) começou a circular nas ruas da cidade um carro de som com mensagens alertando contra a doença e orientando sobre as medidas de prevenção. O principal objetivo é conscientizar a população, pois muitas pessoas não estão respeitando o isolamento social ou outras medidas determinadas pela Prefeitura. A mobilização social reúne Instituto Socioambiental (ISA), Rede Wayuri e Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), com apoio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Polícia Militar (PM) e voluntários.
Seguindo a determinação para evitar agrupamentos, a mobilização conta com um número reduzido de pessoas que também percorrem o trajeto repassando informações. No carro do som são veiculadas mensagens gravadas por Cláudia Ferraz, do povo Wanano e Lucas Matos (Tariano), da Rede Wayuri de Comunicação, e também as informações repassadas no momento da ação. Todo o material divulgado está de acordo com diretrizes do Ministério da Saúde e da Semsa.
"Essa ação é necessária porque muita gente não tem como se informar pela internet. Então, com o carro de som passando, vai circular mais informação. E vale também para aqueles que começaram a afrouxar nas medidas de prevenção", disse Edneia Teles, da etnia Arapaso, membro do Departamento de Comunicação da Foirn. O carro de som percorrerá diariamente vários circuitos de São Gabriel na área urbana e periurbana até meados do mês de maio para alertar a população, inclusive com áudios nas línguas indígenas da região.
A enfermeira Lucilene dos Santos Machado, da Semsa, relatou preocupação frente ao grande desafio de conseguir o apoio popular na prevenção da Covid-19. Ela mesma usou o microfone para ressaltar a importância do isolamento social, de lavar as mãos, manter a casa limpa, entre outras medidas preventivas.
Ednia também falou, explicando os riscos da doença e alertando para a falta de estrutura para atendimento médico de São Gabriel. Ela reforçou ainda que em Manaus o sistema de saúde está prestes a entrar em colapso devido ao grande número de pessoas infectadas. O voluntário Emerson Baré orientou os parentes durante o percurso na língua Nheengatu. Érica Caleb também participou como voluntária. "Esse foi meu jeito de ajudar", afirmou.
A ação contou com o apoio da assistente administrativa da Semsa, Laura Vicunha. "A população não está aderindo ao isolamento. Não está acreditando. Não tem medo que o vírus chegue aqui. O risco é muito grande se alguém de fora chegar clandestinamente ou se alguma pessoa não respeitar a quarentena", disse. O cabo Klinger, da Polícia Militar, acompanhou a ação. Segundo ele, a corporação vem atuando em várias frentes para apoiar medidas preventivas contra a Covid-19, como em abordagens de embarcações que chegam aos portos de Camanaus e Queiroz Galvão.
Na terça-feira, o carro de som percorreu as ruas do Centro, da orla e do Bairro São Jorge, também conhecido como Tirirical. As irmãs Lourdes de Andrade, de 65 anos, e Cilene de Andrade, de 64 anos, aprovaram a iniciativa. Elas moram uma do lado da outra, na Avenida Sete de Setembro. "Mas não são todos que obedecem", contou Lourdes. Ambas contam que saem de casa muito pouco, apenas para fazer as compras do mês. Na avenida que passa pela orla, moradores relatam que a movimentação na praia havia caído muito, mas agora aumentou.
A indígena da etnia Tukano Galdina Pedrosa Garcia, da comunidade de Curicuriari, esteve essa semana São Gabriel. Ela disse que está tomando cuidado, pois as lideranças locais estão repassando as orientações. Mas precisou levar o filho ao dentista.
Edneia Teles reforça que, logo após o prefeito decretar emergência em saúde, houve uma grande adesão da população ao isolamento social. Mas, depois das falas do presidente Jair Bolsonaro, muitos cidadãos questionaram a medida. Com isso, o movimento nas ruas aumentou. "Eu vejo nos grupos que muitos estão levando na brincadeira, fazendo memes e até organizando torneios de futebol. Mas esse comportamento coloca em risco as comunidades", lamentou.
Conforme balanço divulgado na segunda-feira (13/04) pela Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, na cidade há um caso suspeito. Não há casos confirmados. Estão sendo monitoradas 150 pessoas que passaram por locais onde há circulação do vírus. O Estado do Amazonas registrou, até esta terça-feira, 1.484 casos confirmados, com 90 mortes em decorrência da Covid-19. Devido ao grande número de casos e da falta de leitos e profissionais, a rede pública hospitalar da capital está próxima de colapsar.