Você está na versão anterior do website do ISA

Atenção

Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.

Médicos de Altamira e região alertam para colapso do sistema de saúde

Esta notícia está associada ao Programa: 
Leitos, respiradores e medicamentos são insuficientes para atender a população do maior município do Brasil, que inclui indígenas e ribeirinhos. Já são quatro mortes e 140 casos de Covid-19 confirmados
Printer-friendly version

Em carta divulgada ontem (13), médicos de Altamira e região, no Pará, alertam para o iminente colapso do sistema de saúde do maior município do Brasil. Já são quatro mortes, 140 casos da Covid-19 confirmados e o único hospital que atende casos de média e alta complexidade está quase lotado.

“O problema agora está em nossa casa e não estamos preparados. Não temos respiradores, nem profissionais suficientes, não há equipamentos de proteção individual para os trabalhadores da saúde, o isolamento social voluntário não ocorreu e não foi aumentada a capacidade de atendimento na rede de alta e média complexidade para dar conta de demanda”, diz o texto assinado por 68 profissionais. [Leia na íntegra][Read the letter]

A região tinha apenas nove leitos de UTI, já insuficientes para atender a população estimada em 400 mil pessoas, que engloba outros oito municípios e contabiliza 260 casos e 12 mortes. Altamira também é referência para o atendimento de povos indígenas e populações tradicionais de onze Terras Indígenas e sete Unidades de Conservação.

Por iniciativa da equipe médica, cinco leitos foram retirados da UTI pediátrica e readequados para receber pacientes com a Covid-19, totalizando 14 leitos. Com isso, cria-se um vácuo na já precária estrutura de cuidado intensivo para crianças. Segundo boletim da Secretaria de Saúde do Pará divulgado na noite de ontem, 24 pacientes estão internados no Hospital Regional Público da Transamazônica.

Na carta, os médicos ressaltam que os três respiradores enviados pelo governo do estado na última semana são inadequados para atender pacientes graves e não poderão ser utilizados.

Os dez leitos anunciados como doação pela Norte Energia, empresa concessionária da hidrelétrica Belo Monte, têm previsão de entrega para o mês de junho, já os respiradores para a UTI só chegarão em julho, “quando será muito tarde”.

“Cabe ressaltar que a empresa descumpriu diversos compromissos fundamentais, previstos como condicionantes para instalação e funcionamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte”, destacam na carta. Ontem, o Banco Central da Noruega anunciou a decisão de excluir a Eletrobras do maior fundo soberano do mundo, reconhecendo as violações de direitos humanos e os impactos socioambientais provocados pela hidrelétrica.

Para além dos leitos, os médicos reiteram que são necessários equipamentos, medicamentos diversos e uma equipe de profissionais preparada e quantitativamente suficiente para prestar a assistência. Alertam, ainda, que o tratamento precoce é a chave para reduzir a mortalidade dos pacientes, sendo fundamental garantir a ampla distribuição de medicações na rede básica de saúde e disponibilizar exames laboratoriais e tomografia de tórax de maneira mais ampla.

Na última semana, os médicos publicaram um vídeo reiterando a importância do isolamento social e pedindo que a população fique em casa para evitar o colapso do sistema de saúde.

A carta foi enviada ao Conselho Regional de Medicina do Pará, ao Ministério Público Estadual do Pará, ao Ministério Público Federal, à Secretaria Estadual de Saúde, à Secretaria de Saúde de Altamira, à Norte Energia e à PROSAÚDE.

Isabel Harari
ISA
Imagens: 
Arquivos: