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Desmatamento, invasões, queimadas e o avanço da pandemia da Covid-19. Em Rondônia, estado que ano após ano atinge novos recordes de devastação, a situação se agravou com a pandemia do novo coronavírus. Segundo a Kanindé, Associação de Defesa Etnoambiental, neste começo de setembro, apenas uma das 26 Terras Indígenas do estado ainda não registra casos. Em todas as demais, já há casos de contaminados. São 664 confirmados, segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Porto Velho.
No território dos indígenas Cinta Larga, por exemplo, foram ao menos 11 mortes. Entre os Karitiana, foram duas perdas. Os povos Mura, Oro e Puruburá também perderam parentes para a Covid. A situação é crítica também entre os Paiter Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro. Três mortes ocorreram nas aldeias, mas há relatos de um número muito maior de indígenas contaminados e enfrentando sintomas graves da Covid-19
“Metade das aldeias está contaminada. Está todo mundo assustado. Ninguém sabe o que fazer, como agir. Nosso medo é que contamine as demais, além da piora das pessoas que estão internadas”, afirma Txai Suruí, liderança da juventude dos Suruí. Segundo Txai, a TI registra 172 casos, um aumento de 240% nos últimos 15 dias. Os enterros agora seguem as recomendações sanitárias e acontecem sem os rituais tradicionais. “Além de tudo, a gente não consegue enterrar nossos mortos”, diz a jovem liderança.
Na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a única que ainda não tem casos, a situação tampouco é alentadora. As invasões explodiram com a redução de fiscalização que ocorreu na pandemia. Incêndios criminosos foram registrados no interior da terra indígena nas últimas semanas. Veja aqui.
Ivaneide Bandeira, coordenadora da Associação Kanindé, aponta a falta de testes para a Covid-19 e de profissionais de saúde como falhas graves do governo para enfrentar a crise. “Rondônia precisa imediatamente que todas as terras tenham os testes, que os indígenas sejam testados, que tenham profissionais de saúde e equipamentos dentro das aldeias. No Uru-Eu-Wau-Wau precisa imediatamente que os invasores sejam retirados. Estamos muito desesperados com a situação aqui no estado”, afirma ela.
Nos municípios do entorno da TI Uru-Eu-Wau-Wau mais de 5,8 mil casos da doença foram contabilizados (por quem?) e os alertas do sistema de monitoramento Sirad, do ISA, já somam 186 hectares de desmatamento dentro da terra indígena, em 2020. O território também abriga grupos indígenas isolados.
Com a doença se espalhando e o aumento da presença de invasores, os indígenas estão se organizando para enfrentar o problema. Nesta quinta-feira (3/9), a Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí e a Kanindé lançam a animação “Pela Vida Inteira”. O vídeo é uma homenagem a todas as vítimas indígenas da Covid-19.
Construído colaborativamente, o curta é narrado pelo escritor e professor Daniel Munduruku e leva uma mensagem de força, alerta e prevenção para as aldeias.
No filme, um pai indígena narra para sua filha, em um futuro próximo, como a pandemia da Covid-19 devastou os povos originários e como eles lutaram para combatê-la, resistir e sobreviver.
Os Suruí também lançaram campanha de financiamento coletivo para viabilizar alimentos e materiais de higiene para suas aldeias. Quem quiser contribuir com a campanha pode entrar em contato nos números: (69) 99264-0738, (69) 99935-1002 e (69) 99342-0757.