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Morre Maiari Kaiabi, professor da vida

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Silia Moan

Maiari Kaiabi, liderança do povo Kawaiwete, faleceu vítima de Covid-19 na última quarta-feira (9), em Cuiabá. O professor foi diagnosticado em agosto e recebeu tratamento em Querência, Água Boa e na capital mato-grossense, onde veio a óbito. Maiari é o 15º indígena a falecer por conta do novo coronavírus no Território Indígena do Xingu (MT).

Maiari teve a grandiosidade de trazer muitos conhecimentos que somente pessoas mais velhas poderiam ter. Sua trajetória como ator e professor, tanto ensinou muitas crianças e muitos jovens, indígenas e não indígenas.

“Eu tive a honra de ter ele como aluno. Maiari entrou na segunda turma de professores, era um dos mais velhos de nossa turma. Uma qualidade muito linda dos professores mais velhos é que eles dominam uma série de temas e conteúdos que os jovens não dominam. Eles conhecem as histórias de seu povo, dominam a língua de seu povo, inclusive palavras eruditas e difíceis. Mairari era um deles”, conta a professora Maria Cristina Troncarelli, que coordenou de 1996 a 2005 um projeto de formação de professores indígenas, realizado pelo ISA. Para ela, a trajetória de Maiari nunca deve ser esquecida.

Até o fim de sua vida Mairi seguiu lecionando. Iré Kaiabi, sobrinha de Maiari,conta que ele foi muito respeitado entre todos os Kawaiwete.

Maiari atuou como ator no filme “Xingu”, dirigido por Cao Hamburger, que conta a trajetória dos irmãos Villas-Bôas e como se deu a formação do Parque Indígena do Xingu, hoje conhecido como Território Indígena do Xingu (TIX). Ele interpretou um personagem célebre da história, o grande pajé Prepori Kaiabi.”Foi uma honra para ele ter feito o papel de Prepori”, conta Iré. [Assista ao trecho do filme com a participação de Maiari]


As estratégias Kawaiwete no enfrentamento à Covid-19

Maiari é o terceiro Kawaiwete a falecer por Covid-19. Já são 319 casos confirmados, segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Xingu.

O Dsei, junto com a Associação Terra Indígena Xingu (Atix), a Funai, o ISA, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e Projeto Xingu (Unifesp) se articularam no Grupo Interinstitucional de Enfrentamento a Covid-19 no Xingu e têm atuado em parceria para frear o avanço da doença no território. [Saiba mais]

Essa parceria apoiou a instalação e aquisição de equipamentos para a Unidade de Atenção Primária Indígena (UAPI) e da infraestrutura de comunicação via rádio no Polo Base Diauarum, para garantir a circulação de informações qualificadas de combate a Covid-19 entre os Kawaiwete.

Para Vivian Vaz da Costa, enfermeira do Dsei Xingu, a comunicação é uma das estratégias mais efetivas de combate a disseminação da Covid-19 entre os Kawaiwete: “Todos os casos com sintomas gripais são comunicado aos técnicos de saúde do Polo Base Diauarum, para que possamos fazer o rastreio, realizar o monitoramento e não permitir que este o vírus chegue em outras comunidades”, conta.

Semanalmente as lideranças Kawaiwete compartilham e trocam, via rádio, informações para o combate da Covid-19 e monitoramento de casos suspeitos entre os indígenas. “Esta comunicação cria uma rede de cuidado e evita que mais pessoas sejam contaminadas”, comenta Vivian.

Outra estratégia acordada entre os Kawaiwete foi a de se isolar nas aldeias, evitando a circulação entre os municípios do entorno do TIX.

“Os Kawaiwete são um povo indígena que atualmente circula bastante entre os municípios do entorno do Xingu, e as andanças pela cidade são de fato uma parte central no modo de vida Kawaiwete nos dias de hoje. Desde o início da pandemia os Kawaiwete tem procurado diminuir consideravelmente as saídas para as cidades do entorno, e isso certamente contribuiu para evitar uma disseminação da Covid-19”, comenta o doutorando em antropologia social na USP Rodrigo Brusco, que atua junto aos Kawaiwete desde 2018.

Parte dessa estratégia também conta com o apoio da Atix, que estruturou uma campanha para a aquisição de itens essenciais para os Kawaiwete, como materiais de pesca, caça, sabão, combustível. Assim que essas mercadorias chegam nas aldeias, os indígenas fazem a higienização e deixam os materiais em isolamento por alguns dias.

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