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Mais vacinação, menos 'fake news': vacina, parente!

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Publicação para os povos indígenas do Rio Negro combate mentiras e reforça a importância da imunização contra a Covid-19; material tem versão em nheengatu, baniwa e tukano, além do português
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Para gerar consciência e estimular a vacinação entre os povos indígenas do Rio Negro, o Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) lançaram recentemente a cartilha “Parente, tome a vacina contra a Covid-19!”. Com linguagem simples, o material vem escrito em três línguas indígenas faladas no Rio Negro — nheengatu, tukano, baniwa —, além do português e traz informações baseadas em entrevistas com a médica sanitarista Ana Lúcia Pontes, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o médico do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei-ARN), Guilherme Monção.



A vacinação contra a Covid-19 começou em São Gabriel da Cachoeira em 20 de janeiro deste ano. O primeiro a ser imunizado foi o conhecedor tradicional Luís Laureano, liderança da etnia Baniwa, que já tomou a segunda dose. Cecília Albuquerque, professora e artesã da etnia Piratapuia, conhecedora dos remédios tradicionais da floresta, também se vacinou. Benzedor, Ercolino Alves, da etnia Desana, defende a vacinação em combinação com práticas da medicina tradicional. “Pode usar a vacina. E junto com a nossa tradição fica mais forte”, disse.

'Vacina para todos, já!', cobram os 23 povos indígenas do Rio Negro

Carla Dias, antropóloga do ISA, explicou que a cartilha busca comunicar a necessidade da vacinação com o rigor da informação técnica e científica. “A partir do relato de que havia resistência ao imunizante em algumas comunidades, o ISA e Foirn tiveram a preocupação de entender os motivos da resistência e de levar mais (e boa) informação aos povos”, contou.



O coordenador do Dsei-ARN, Hernane Souza, reforçou que as fake news foram o principal causador de resistência à vacina na região. E, para ele, é de grande importância que a cartilha esteja em língua indígena, o que facilita o entendimento da importância da imunização por parte dos povos tradicionais.

Uma das mentiras que circulam na região sugere que a vacina teria um “chip” mortal. Para combater essa e outras notícias falsas, o Setor de Comunicação da Foirn, com apoio do ISA, atuou em diversas frentes, como a produção de áudios, também com versão em línguas indígenas, para circular em carro de som.

Outras estratégias foram os boletins informativos da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas e informes impressos com explicações sobre a vacinação. Além disso, a radiofonia da Foirn abriu espaço aos profissionais do Dsei-ARN e da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) para resolver dúvidas dos indígenas nas comunidades.



O balanço mais recente da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) de São Gabriel da Cachoeira, de 16 de março, indica que no município ao menos 16.307 pessoas já receberam a vacina, sendo 10.957 a primeira dose e 5.350 a segunda dose.

Do total, 13.522 doses foram destinadas a indígenas aldeados, sendo 9.114 para a primeira dose e 4.418 para a segunda. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) indica que 30% da população de São Gabriel já tomou a primeira e a segunda dose do imunizante.

Atualmente, o município apresenta uma tendência de estabilização de casos da Covid-19. Até 23 de março foram registrados 7.572 casos e 103 óbitos (60 ocorreram em 2020 e 43 em 2021). Na área atendida pelo Dsei-ARN em São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, foram registrados, até 22 março, 2.233 casos e 25 mortes, conforme levantamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Já o Dsei Yanomami, no Amazonas e em Roraima, registrou até essa data 1.484 casos e 13 mortes.

Os povos indígenas aldeados estão no grupo prioritário para receber a vacina da Covid-19. O Ministério Público Federal (MPF) já entrou com pedido para que indígenas que não vivem em comunidades também sejam considerados prioritários.

Curiosidade

Saiba como se escreve em outras línguas: “Parente, tome a vacina contra a Covid-19!”

Tukano: Ahkáwererã, vacina Covid-19 kãhseré bu´bé ka´motayá!

Nheengatu: Se anama, rerasú kua vasina Covid-19 ruaxarawara!

Baniwa: Nokitsinda, pikada natoda pinako Covid-19 iitape!

É necessário reforçar que, mesmo quem tomou a segunda dose da vacina deve manter as medidas preventivas. Ainda que a pessoa esteja imunizada, ela pode pegar a Covid-19, não manifestar sintomas e transmitir a doença.

A cartilha impressa já está sendo levada ao território indígena, assim como a versão digital está circulando. Seja em nheengatu, tukano, baniwa, outra língua indígena ou português, já sabe: Vacine, parente!

Chás, banhos e benzimentos

Em setembro de 2020, quando a chamada primeira onda da Covid-19 começou a perder força na região do Rio Negro, as artesãs da Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (Assai) começaram a retomar seus trabalhos presenciais. Enquanto teciam o tucum, contavam como cada família havia enfrentado a pandemia, utilizando os remédios da floresta e dos quintais. A partir daí, a professora, artesã e conhecedora tradicional Cecília Albuquerque, da etnia Piratapuia, idealizou uma oficina para o compartilhamento desses saberes.



Esses conhecimentos foram registrados e resultaram na cartilha produzida pela Assai, “Conhecimento Indígena: Plantas Medicinais e receitas usadas contra a Covid-19 no Rio Negro”, lançada no dia 20 de março, logo após a região enfrentar outra severa onda da pandemia. “Tentamos passar nosso conhecimento, para que se espalhe. Transmitir esses saberes é uma forma de proteção”, disse Cecília Albuquerque durante o lançamento.

Rede de mulheres da Foirn apoia ação de doação de chás medicinais contra a Covid-19

Com a pandemia, os indígenas do Rio Negro recorreram ao uso de chás, banhos e benzimentos para enfrentar a pandemia.

A coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas e diretora interina da Foirn, Dadá Baniwa, disse que o registro desses saberes é muito importante, pois mostra a força do conhecimento tradicional e estimula a prática que muitas vezes é desvalorizada pelos próprios indígenas.

Participaram do lançamento as artesãs da Assai, o presidente da Foirn, Marivelton Barroso, da etnia Baré; o administrador do ISA São Gabriel da Cachoeira, Wizer Oliveira; a jornalista Ana Amélia Hamdan, colaboradora voluntária do ISA e Foirn, que ajudou na elaboração da cartilha.

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