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Indígenas são reprimidos com violência pela polícia em Brasília durante protesto pacífico

Crianças e idosos estavam entre os manifestantes. Dois indígenas foram hospitalizados e outros dez ficaram feridos
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Um grupo de indígenas que protestavam pacificamente, em Brasília, contra a votação do Projeto de Lei (PL) 490/2007, foi atacado pela polícia, no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. Crianças e idosos estavam entre os manifestantes.

Dois indígenas foram hospitalizados e outros dez ficaram feridos com o ataque, segundo informações do movimento indígena. Um homem e uma mulher que participavam da manifestação estão sob observação no Hospital de Base em Brasília. Uma dezena de crianças, idosos e mulheres tiveram ferimentos leves e estão em atendimento na tenda da saúde do Acampamento Levante pela Terra (ALT), ao lado do Teatro Nacional. No momento do incidente, o atendimento de urgência aos indígenas foi dificultado pela tropa de choque, que estava no local, como registrado em alguns vídeos do momento do ataque.

“Fomos brutalmente atacados de forma covarde antes de chegarmos para acompanhar a votação. Nós temos indígena feridos e a polícia jogou bomba encima dos paramédicos dificultando o atendimento”, ressaltou Dinamam Tuxá, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

No final da manhã, os manifestantes vieram em marcha pacífica pela Esplanada dos Ministérios. Em seguida, foram recebidos com bombas de gás e efeito moral, a partir de uma barricada montada pelo Batalhão de Choque, na entrada do Anexo 2 da Câmara. Não houve ação ou incidente da parte dos indígenas que justificasse a reação violenta com essa intensidade. Segundo informações dos manifestantes, estavam no local equipes da PM e Batalhão de Choque, com forte aparato de repressão, inclusive um "caveirão" (carro blindado da tropa de choque) e cavalaria (veja galeria de fotos ao final da reportagem).


“Os parentes só vieram se manifestar para não ser aprovado o PL que vai acabar com a demarcação das Terras Indígenas. E a polícia já veio atirando bombas. Eles podem se reunir para tirar nossos direitos, mas, quando a gente tenta se manifestar, é tratado com truculência”, criticou Alessandra Korap Munduruku. “Estamos aqui com crianças e idosos também, muita gente foi atingida, passou mal”, complementou.

Parlamentares oposicionistas, como a deputada indígena Joênia Wapichana (Rede-RR), posicionaram-se entre os policiais e o protesto para negociar o fim da repressão, enquanto as bombas continuavam a ser disparadas. Depois que o protesto se dispersou, eles reuniram-se com os manifestantes e criticaram a ação dos policiais. Também prometeram denunciá-la ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

“Estou angustiada porque muitos companheiros foram feridos. Nós vamos trabalhar para esse projeto não voltar para a pauta”, disse Joênia. “Não estamos lutando por coisas novas, mas por direitos assegurados na Constituição Federal”, ressaltou. Ela informou que os parlamentares oposicionistas vão lançar mão de todos os instrumentos disponíveis no Regimento da Câmara para impedir a votação.

Acampamento

A marcha indígena faz parte do ALT, que está instalado ao lado do Teatro Nacional, há três semanas. Os cerca de 850 indígenas que participam da mobilização, de 48 povos diferentes de todas as regiões do Brasil, foram ao local para acompanhar a votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Estão todos vacinados e seguindo os protocolos sanitários (distanciamento, uso de máscara e higienização constante das mãos).

O PL 490 é uma bandeira ruralista e bolsonarista e, se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas e escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e grandes hidrelétricas. De acordo com organizações indígenas e indigenistas, a proposta é inconstitucional.

Por meio das redes sociais, a presidente da CCJ, deputada Bia Kicis (PSL-DF), uma das principais defensoras do governo Bolsonaro no Congresso, disse que suspendeu a reunião de hoje a pedido da Polícia Legislativa. Ela avisou que o colegiado terá reunião amanhã novamente. O PL deve estar entre os primeiros itens de pauta. Kicis publicou um vídeo em seu canal no Twitter acusando os indígenas de “flechar” os policiais, mas não não há evidência disso no filme.


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