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Ações emergenciais no Rio Negro levam internet e melhorias sanitárias a comunidades indígenas

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ISA e parceiros também doaram 600 testes 'padrão ouro' de Covid-19 para a prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas
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Por Juliana Radler

Com 30,5% da população adulta vacinada, o município mais indígena do Brasil, São Gabriel da Cachoeira (AM), vive dias mais calmos, sem novos casos de Covid-19 ou hospitalizações em agosto*, segundo as autoridades locais.

Ao todo, 108 vidas foram perdidas no município em 2020 e 2021 devido ao novo coronavírus, entre elas importantes lideranças indígenas, como pode ser lembrado no site Memoráveis, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

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Como os desafios da pandemia continuam, as ações emergenciais do Instituto Socioambiental (ISA) e seus parceiros para melhorar a infraestrutura das comunidades indígenas da região e apoiar as esferas locais de saúde se mantêm em plena atividade.

As ações recentes incluem:

- Expansão da internet via satélite em 10 comunidades indígenas distantes da área urbana, onde o único acesso a comunicação se dava por meio de rádio amador.

- Diagnóstico e implementação de sistemas de abastecimento de água para melhoria das condições sanitárias em 57 comunidades dos povos Baniwa e Koripako na bacia do Rio Içana.

- Instalação de 22 filtros de última geração para tornar a água própria ao consumo humano.

- Melhorias sanitárias nas casas de apoio dos povos indígenas em área urbana.

- Doação de 600 testes de Covid-19 considerados 'padrão ouro' pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para testes antígeno e RT-PCR continuarem a ser feitos pela Secretaria de Saúde do município.

Internet, um sonho antigo

“Lutamos 20 anos para ter internet em nossa comunidade. Esse é um sonho que faz tempo e agora podemos realizar. Não precisamos ir mais para a cidade para resolver coisas de banco, inscrições na área de educação e também podemos estar sempre dialogando com os parceiros, conversar com parentes de fora e sem falar nos benefícios que trás para a área de saúde e para o acesso a informações sobre a pandemia”, comemorou o professor Baniwa Isaías Cardoso.



Ele, Walter e Jonas Lopes zelam pela internet instalada na comunidade de Canadá, no alto Rio Ayari, na Terra Indígena Alto Rio Negro, próximo à fronteira com a Colômbia. Uma viagem de Canadá até a cidade de São Gabriel costuma levar de dois a três dias no tipo de motor e embarcação usada pelos indígenas.

A internet instalada pelo ISA nas comunidades é via satélite e contou com apoio financeiro da Fundação Moore, da Aliança pelo Clima (ApC) e da Nia Tero. Outras nove comunidades também foram beneficiadas nesta etapa da expansão da internet, entre elas as de São Pedro e Pirara-Poço, ambas no Rio Tiquié.

Vilmar Azevedo, do povo Tukano, que é agente indígena de manejo ambiental (Aima), afirmou que a comunidade virou um ponto de informação crucial para quem percorre o rio. “Como estamos no meio do rio, a gente dá muita informação para os parentes que moram no alto, que sobem e descem. As equipes de saúde utilizam muito também e facilitou bastante os estudos e as pesquisas”, contou durante reunião realizada toda sexta-feira pela manhã com Aparecida Fontes Rodrigues, do povo Baniwa, que trabalha no telecentro do ISA na sede de São Gabriel da Cachoeira e faz o monitoramento do funcionamento da internet nas comunidades.

No alto Tiquié, na comunidade Tuyuka de São Pedro, a internet funciona das 7 às 21 horas. Gabriel Barbosa, uma das lideranças da comunidade, diz que é preciso monitorar o acesso, sobretudo dos adolescentes e jovens. Assim como em São Pedro, várias outras comunidades também restringiram horário de uso. “Nós aqui disponibilizamos a internet para todas as comunidades e o uso principal vem sendo feito pelos professores e alunos para pesquisas. A internet facilitou muito para nós”, disse Gabriel.

Já na calha do Rio Jurubaxi-Téa, abaixo de São Gabriel, na comunidade de Acariquara, o comunicador da Rede Wayuri e jovem liderança local, Adilson Joanico, celebra a chegada da internet, mas também pontua alguns desafios: “com essa pandemia, foi uma boa hora da internet chegar para nós. Estamos resolvendo muita coisa online e ela traz benefícios para quem sabe usar. Mas, também traz dificuldades para quem fica sem limites, como muitos jovens. Eu não estou sovinando internet quando digo que precisamos desligar à noite por conta também da bateria que precisa ser recarregada”, explicou Joanico.

Na maior parte das comunidades onde foi instalada a internet via satélite, o ISA também montou um kit de energia solar (placa, inversor e baterias) para alimentar o equipamento. Também foram doados impressora, computador e mobiliário para benefício dos trabalhos comunitários.

Água potável e de fácil acesso

Facilitar o acesso à água e garantir sua boa qualidade foram o foco das ações para a instalação dos filtros doados pela empresa farmacêutica Sanofi em parceria com a agência Cause, o ISA, a Foirn e a empresa Água Segura.

Na ação, que beneficiará um total de 17 comunidades e cinco instituições ligadas à saúde e de apoio aos povos indígenas, aproximadamente três mil indígenas de 23 povos terão acesso à água segura e de qualidade. Em julho foram instalados os filtros na área urbana de São Gabriel e na próxima etapa serão instaladas outras 17 unidades nas comunidades na área indígena demarcada.

Dessa forma, foi possível também colocar filtros nas casas de apoio dos povos indígenas no porto Queiroz, onde o ISA realizou no final de 2020 uma reforma para instalação de água encanada no local, com a instalação de pias, tanques e sanitários, que não existiam. Também foi instalado um filtro na Casai e na casa de apoio dos Yanomami, que contou com melhorias sanitárias dos Médicos Sem Fronteiras.

Já as comunidades Baniwa e Koripako na bacia do Içana puderam implementar soluções de baixo custo com o uso de tecnologia social e mão de obra comunitária para instalação de kits de bomba solar, caixa d’água para o reservatório da comunidade e materiais hidráulicos para a rede de distribuição de água entre as casas das comunidades.



O apoio para viabilizar a melhoria aconteceu através de projetos com a União Europeia, Aliança pelo Clima (ApC), Fundação Rainforest da Noruega (RFN), Fundo Casa Socioambiental e Embaixada da Suíça.

"Foi pensando em garantir a segurança das populações dos territórios indígenas que a instalação de uma rede de internet foi articulada, viabilizando toda a comunicação e logística de atendimento às comunidades sem que as lideranças e representantes locais precisassem se deslocar para a cidade", afirmou Natália Pimenta, bióloga do ISA.

"No mesmo sentido, aconteceu a ampliação dos sistemas de abastecimento de água que, além de tornar menos penosas as atividades diárias, assegurou que as medidas de higiene fossem atendidas, combatendo a disseminação da doença nas comunidades. Deste investimento, fica o legado para o bem viver dos povos do Rio Negro", concluiu Pimenta, assessora dos trabalhos de cadeias econômicas produtivas junto aos povos do Rio Negro.

Testagem reforçada

A manutenção dos esforços de controle e monitoramento da pandemia na região são prioridades na estratégia do ISA e seus parceiros que atuam em defesa dos povos indígenas. Com isso, na primeira semana de agosto, foram doados 600 testes de diagnóstico da Covid-19 para a Secretaria Municipal de Saúde de São Gabriel, sendo 300 RT-PCR e 300 antígenos rápidos, todos considerados 'padrão ouro' pela OMS.



Adelaide Amorim, subsecretária de Saúde de São Gabriel da Cachoeira, disse que, com a doação, o diagnóstico de casos de Covid-19 no município ficará mais veloz novamente. Depois que a última leva de testes do município acabou, há cerca de dois meses, o RT-PCR, exame mais eficiente para detectar o vírus no organismo, estava indo para Manaus e demorava no mínimo uma semana para se ter o resultado. A doação, feita pelo ISA, contou com o apoio da Skoll Foundation.

O ISA integra o Comitê Interinstitucional de combate ao novo coronavírus em São Gabriel da Cachoeira e todas as suas ações ocorrem em sintonia e parceria com a Foirn, que representa os 23 povos indígenas da região. Pelos esforços realizados no combate à Covid-19 organizados em seu Plano Emergencial, o ISA recebeu o Prêmio de Direitos Humanos da União Europeia em março deste ano.

*(até a data de publicação da matéria)

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